Por que infarto, que matou Julie Powell, pode ser mais fatal em mulheres?
Autora do livro que inspirou o filme "Julie & Julia" (2009), a escritora de gastronomia Julie Powell, considerada pioneira dos blogs de comida, morreu aos 49 anos. Segundo o jornal "The New York Times", que noticiou o óbito nesta terça-feira (1), ela morreu em sua casa, no estado de Nova York, em 26 de outubro, após sofrer uma parada cardíaca.
Infartos e outros problemas cardiovasculares são uma das principais causas de morte entre mulheres em todo o mundo. Segundo dados de 2020 da OMS (Organização Mundial de Saúde), doenças que afetam o coração são responsáveis por 1 a cada 3 óbitos em pessoas do gênero feminino, o equivalente a cerca de 8,5 milhões de mortes por ano.
Especialistas apontam que esse tipo de problema costuma ser menos investigado nesse grupo e, consequentemente, deixa de ser tratado com antecedência.
Além disso, os sintomas são diferentes daqueles "típicos" que ocorrem nos homens, como dor no peito, no braço esquerdo e falta de ar. Sabe-se que mulheres estão mais propensas a sofrerem infartos sem sintomas ou com dores genéricas: ardência na pele, desconforto no pescoço, rosto e mandíbula, dores no abdome, nas costas e ombros, além de tontura, desmaio, sudorese, cansaço incomum, indigestão, náuseas e vômitos.
Mesmo quando há dor torácica, nem sempre ela é severa ou perceptível —cenário que acaba, muitas vezes, gerando atraso na busca por um atendimento médico emergencial e o diagnóstico preciso.
Por que o infarto é mais fatal em mulheres?
No Brasil, um levantamento da Socesp (Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo) calculou que os problemas cardiovasculares matam duas vezes mais mulheres do que todos os tipos de câncer, inclusive o de mama. A cada 10 mortes por infarto do miocárdio, seis são entre mulheres, de acordo com a SBC (Sociedade Brasileira de Cardiologia).
Segundo o cardiologista e colunista de VivaBem Paulo Chaccur, é cada vez mais frequente identificar mulheres vítimas de um infarto na faixa dos 20, 30 ou 40 anos. Isso vem ocorrendo por diversos fatores: estilo de vida, ausência de sintomas claros e até de conhecimento dos riscos iminentes.
O médico avalia que o fato de uma mulher com menos de 50 anos ter em mente que dificilmente irá sofrer um ataque do coração faz com que os sinais ou cuidados sejam negligenciados. Na rotina médica, de modo geral, entram os exames ginecológicos e a mamografia, mas grande parte nunca passou por uma avaliação cardíaca antes de chegar à meia-idade ou à menopausa.
Assim, uma mulher com tendência a problemas cardiovasculares ou a fatores de risco para tal, como diabetes, hipertensão, colesterol alto, obesidade e histórico familiar, acaba não dando a atenção necessária para o risco de um infarto. Quando o evento acontece, muitas vezes pode ser mais agressivo, e a mortalidade, maior.
Eric Powell, marido da escritora entrevistado pelo The New York Times não informou se Julie Powell já havia sido diagnosticada com algum problema cardiovascular antes de sofrer o ataque cardíaco.
Principais causas de infarto entre mulheres
Além de fatores de risco já conhecidos, como sedentarismo, falta de cuidados com a alimentação, automedicação sem limites e má qualidade do sono, os ataques cardíacos nas mulheres, principalmente as mais jovens, estão frequentemente associados ao estresse mental, emocional e psicossomático.
Esses fatores de risco estão, muitas vezes, relacionados à jornada dupla ou tripla que muitas delas enfrentam no cotidiano. Hábitos prejudiciais ao coração, a exemplo do tabagismo e abuso do consumo de álcool e outras drogas, também aumentam o risco de sofrer um ataque cardíaco em qualquer gênero ou idade.
Tudo isso contribui para o surgimento ou agravamento cada vez mais cedo dos fatores tradicionais de risco da doença arterial coronária: níveis altos de colesterol e pressão, diabetes e obesidade.
No caso das mulheres, há mais um detalhe que pode interferir em relação à gravidade do infarto: o calibre das artérias. Nelas, esses vasos são, de modo geral, mais finos do que nos homens. Quando obstruídas, a tendência é de apresentarem consequências mais perigosas.
O que fazer para diminuir risco
- Manter em dia o check-up cardiológico, mesmo na ausência de sintomas. Isso porque não há idade de risco para um ataque cardíaco --os cuidados devem se estender durante toda a vida;
- Se os sintomas aparecerem, a recomendação é procurar um hospital com serviço de cardiologia, onde há maior chance de os profissionais terem conhecimento de que o coração feminino merece um olhar diferenciado;
- Além disso, é fundamental reforçar a prevenção, evitando altos níveis de colesterol e pressão alta, fatores que aumentam o risco de desenvolver doenças cardiovasculares.
*Com informações de reportagens publicadas em 08/05/2022, 15/06/2021 e 26/07/2021.
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