Topo

Saúde

Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


Na TV, mulher conta que passou horas com barata no ouvido; o que fazer?

Convidada contou história durante programa "Que História É Essa, Porchat?" da semana passada - Reprodução GNT
Convidada contou história durante programa "Que História É Essa, Porchat?" da semana passada Imagem: Reprodução GNT

De VivaBem*, em São Paulo

03/11/2022 14h32

Imagina só ter um inseto ou um objeto qualquer dentro do ouvido? Você já pensou no desespero?

Pois bem, durante o programa da GNT "Que História É Essa, Porchat?", o humorista ficou surpreso com a história que ouviu de uma convidada da plateia, Bárbara Puntel. Ela contou ao apresentador que, há cerca de 10 anos, descobriu que passou a noite com uma barata no ouvido.

Na madrugada, Bárbara, que estava grávida na época, começou a sentir um desconforto no ouvido: ela apertava e a dor parava, mas quando ela soltava, o incômodo voltava. Ao acordar, ela resolveu procurar um otorrinolaringologista.

"O médico disse que iria jogar um líquido no meu ouvido para fazer uma lavagem", lembra. Depois do procedimento de retirada do bicho, ele perguntou se Bárbara gostaria de ver o que estava no ouvido dela. Mas ela ficou receosa e quem olhou foi a avó dela. "Ela disse que era uma barata", conta.

Fábio Porchat ficou surpreso com a revelação —assim como a plateia ao redor dos dois. Segundo Bárbara, o médico tentou acalmá-la dizendo que a situação era bem comum, que acontecia quase todos os dias. O programa foi ao ar na semana passada.

Situação é perigosa

Apesar de a situação ser engraçada, é preciso tomar cuidado com a entrada de corpos estranhos que podem causar incômodos intensos, inchaço e até problemas auditivos em uma região que acaba se tornando uma porta aberta no nosso corpo.

De acordo com Manoel de Nobrega, otorrinolaringologista e professor da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), orpos estranhos animados, geralmente insetos, produzem ruídos e grande desconforto aos pacientes com seus movimentos, por isso pode haver zumbido. Por isso é necessário que sejam imobilizados e mortos com óleo ou éter, o que evita maiores complicações locais.

Já os corpos estranhos inanimados, como sementes, algodão ou borracha podem absorver água dentro da orelha, podendo inchar e tapá-la, o que prejudica a audição, além de facilitar o desenvolvimento de infecções.

Nobrega afirma que a idade com maior índice de complicações costuma ser de 0 até 6 anos, tendo uma leve predominância no gênero masculino. A anestesia geral ou sedação pode ser utilizada quando a criança não consegue permanecer imóvel.

Os objetos mais comumente removidos incluem papel/lenço de papel, grãos de pipoca ou feijão, peças de brinquedos, pedaços de alimentos, pequenas pedras, entre outros, e respondem por pouco mais da metade dos casos.

Certos tipos de objetos, como aquelas baterias em formato de círculo do tipo botão, requerem remoção urgente devido ao risco de lesão tecidual (da pele da orelha) e de até mesmo intoxicação sistêmica, que é quando o organismo absorve algo tóxico, por causa do conteúdo que pode vazar para dentro dentro do ouvido.

Quais sinais?

Renato Roithmann, presidente da ABORL-CCF (Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cervicofacial), alerta que os sinais não são evidentes em casos de crianças, pois elas não costumam contar o que aconteceu.

No entanto, pode haver dor e até diminuição da audição. Se algum inseto entra no ouvido, existe muito incômodo provocado pelo batimento das asas ou do movimento, que gera um barulho na região.

  • Antes de mais nada, é preciso saber que os riscos dependem dos seguintes fatores: Dimensão do corpo estranho e presença de arestas pontiagudas na superfície do objeto; Profundidade em que o objeto está alojado;
  • Eventuais lesões provocadas nas estruturas da orelha;
  • Tentativas de remoção de forma inadequada;
  • O tempo que levou para ser retirado.

Tudo isso deixará mais difícil uma abordagem especializada posterior.

E os riscos?

Thiago Bezerra, médico especialista em otorrinolaringologista, membro da ABORL-CCF e professor da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), aponta que, no curto prazo, o risco é de provocar uma otite externa, que é uma inflamação do conduto auditivo externo, aquela parte do "corredor dentro da orelha".

Nisto, o corpo estranho afeta na descamação e nos processos de renovação da pele e da parte externa. Essa alteração no processo de descamação, junto com a umidade, contribuem para uma proliferação bacteriana.

Em relação aos insetos, os problemas são outros. Além de resultar em inflamação, da mesma forma como os corpos inanimados, pode acontecer de haver uma infecção pela picada, contaminação ou envenenamento.

Um carrapato, por exemplo, traz o risco de infecção devido a sua bactéria, assim como outros insetos mais agressivos. Eles podem causar um machucado ou perfuração na membrana timpânica, parte responsável pela vibração e condução do som.

Em caso de o objeto ou pequeno inseto ficar por períodos prolongados no ouvido, é possível ter reações como inflamação que causa dor, coceira, infecção, mau cheiro, otorreia purulenta (pus) e inchaço, e o desconforto do paciente aumenta se ele tentar a remoção.

Existe algo a se fazer em casa ou devo correr para o médico?

Todo o procedimento de remoção deve ser feito apenas pelo médico otorrinolaringologista que tem a experiência e todo o material específico para os diferentes problemas. Uma eventual manipulação equivocada ou excessiva pode gerar:

  • Laceração do meato (machucado no "buraco" da orelha);
  • Perda auditiva ou perfuração da membrana timpânica;
  • Comprometimento de labirinto membranoso (órgão localizado na parte interna do ouvido); Inchaço de conduto, região constituída de osso e cartilagem que começa na parte de fora da orelha e vai até o interior;
  • Hematoma, ou causar deslocamento mais profundo do objeto.

Além disso, quando há falha na primeira tentativa de remoção, torna-se mais difícil realizar as próximas por causa de sangramentos que podem acontecer e atrapalhar a visualização do corpo estranho.

As tentativas de remoção caseira com lavagem e uso de objetos caseiros, como cotonete ou ponta de chaves pioram a situação, provocando sinais e sintomas inflamatórios mais graves, e isso gera uma difícil manipulação local que obriga o especialista a recorrer à anestesia geral.

No caso dos insetos, o médico presidente da ABORL-CCF esclarece que o importante é fazer com que o inseto pare de se mexer. Para isto, é indicado pingar 3 ou 4 gotas de álcool na orelha.

Na grande maioria das vezes, isso mata o corpo estranho e ele acaba parando de se mexer, o que pode eliminar os sintomas de dor e desconforto, assim como o ruído.

Dessa maneira, o inseto morre literalmente afogado, mas só isso não basta, é indispensável ir ao médico para um exame, que fará a remoção com instrumentos próprios para cada caso, fazer sucção ou mesmo lavagem com seringas especiais com água.

* Com informações de reportagem publicada em 08/07/2022.