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Qual a diferença entre obesidade e lipedema, que afeta ex-paquita?

A ex-paquita Tatiana Maranhão - Reprodução/Instagram
A ex-paquita Tatiana Maranhão Imagem: Reprodução/Instagram

De VivaBem*, em São Paulo

06/11/2022 14h38

A ex-paquita Tatiana Maranhão, 45, contou em suas redes sociais que foi diagnosticada com lipedema, uma doença crônica que provoca acúmulo anormal de gordura nos braços e pernas. Antes de descobrir o problema, a atual assessora de Xuxa Meneghel disse que passou por dezenas de médicos sem receber o diagnóstico correto, e, durante a adolescência, ouviu diversos comentários gordofóbicos a respeito de seu corpo.

"Você viu como aquela Paquita tá gorda?" ou "a Marlene [Mattos, que comandava o girl group brasileiro formado em 1984] mandou ela embora porque estava acima do peso" eram alguns dos mais frequentes, segundo Tatiana. Por causar gordura localizada e flacidez, o lipedema é comumente encarado como obesidade ou sobrepeso. Mas a gordura associada à condição e aquela provocada pela obesidade não são a mesma coisa.

Segundo a Classificação Internacional de Doenças, a CID-11, da OMS (Organização Mundial de Saúde), o lipodema é caracterizado por um inchaço "gorduroso" difuso, geralmente confinado às pernas, coxas, quadris e braços —mas também pode ocorrer no couro cabeludo.

Trata-se de uma doença muito mais comum em mulheres, que tende a surgir na puberdade, durante a gestação ou após a menopausa.

A gordura do lipedema costuma ser dolorosa e também pode levar ao surgimento de alguns pequenos nódulos. O surgimento de hematomas, muitas vezes até sem um trauma, é comum. O paciente também pode ter hipersensibilidade ao toque, frouxidão ligamentar e muita flacidez de pele.

Outros sintomas incluem desproporção entre as pernas e o tronco, celulite, sensação de peso nas pernas e cansaço. Com o passar do tempo, há risco de deformidades e problemas de mobilidade. Nem sempre, contudo, a condição é acompanhada pelo excesso de peso.

Já a gordura da obesidade é distribuída de forma mais uniforme no corpo. E também é eliminada com menor dificuldade por meio de dieta e atividade física, o que não acontece em casos de lipedema. "A verdade é que nunca houve ginástica e alimentação que resolvessem meu problema", compartilhou a ex-paquita em uma publicação no Instagram.

Como funciona o diagnóstico?

Segundo a SBACV (Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular (SBACV), o diagnóstico do lipedema é clínico. O médico observa se há acúmulo de gordura nos glúteos, coxas, joelhos e pernas. Esse acúmulo deve mostrar uma desproporção entre a parte inferior e a superior do corpo, podendo comprometer também os braços, mas poupando mãos, pés e o tronco.

Entre as queixas mais frequentes dos pacientes estão:

  • Dor (principalmente quando o membro onde há acúmulo de gordura é apalpado);
  • Dificuldade de mobilidade;
  • Edema (inchaço) e hematomas frequentes;
  • Pode haver associação com outras doenças, como insuficiência venosa crônica, linfedema e obesidade.
  • Um sinal típico é o acúmulo de gordura na região do tornozelo, conhecido como "sinal do manguito".

Tipos de lipedema

A SACV lista cinco tipos de lipedema, de acordo com as áreas dos membros que estão afetadas.

  • Tipo I: acometimento do umbigo até os quadris;
  • Tipo II: acometimento até os joelhos com presença de tecido gorduroso na parte lateral e inferior dos joelhos;
  • Tipo III: acometimento até os tornozelos com formação de "manguito" de gordura logo acima dos pés;
  • Tipo IV: acometimento dos braços. Bastante associado aos tipos II e III;
  • Tipo V: apenas do joelho para baixo.

Segundo a organização, existe ainda uma classificação funcional, que se se refere à evolução e/ou gravidade da doença.

No estágio 1, a superfície da pele é normal, mas ocorre aumento da gordura no tecido subcutâneo e há presença de nódulos ou bolinhas de gordura, como se fossem pérolas debaixo da pele.

Já no estágio 2, a pele é irregular, um pouco mais flácida do que o esperado para a idade e com aspecto de celulite. Os nódulos também são maiores.

No estágio 3, a pele é significativamente mais flácida, com a presença de "dobras de pele", o que pode causar dificuldade para caminhar e se movimentar.

Todas as alterações descritas no estágio 3 se repetem no estágio 4, além do comprometimento do sistema linfático.

Qual é o tratamento?

O tratamento do lipedema demanda uma equipe multidisciplinar, formada por angiologista, cirurgião vascular, nutricionista, fisioterapeuta e, em alguns casos, psicólogo. Também são realizados exames para detectar doenças endocrinológicas que poderiam causar sintomas similares.

A lipoaspiração só é indicada como última opção, quando o tratamento clínico não surtiu o efeito esperado ao longo do tempo.

Além do acompanhamento multidisciplinar, recomenda-se evitar o abuso de alimentos como carnes suínas e bovinas, embutidos, refrigerante, bebidas alcoólicas e produtos industrializados, que podem intensificar a inflamação do lipedema. A prática de exercícios, por outro lado, é muito bem-vinda.

Por que é mais comum em mulheres?

A doença atinge quase que exclusivamente mulheres e tem início na puberdade, motivo pelo qual acredita-se que haja um componente hormonal em sua fisiopatologia.

A relação com o estrogênio (hormônio feminino) também é levantada porque a condição normalmente ocorre em fases nas quais ocorre um aumento da produção desse hormônio, como na gestação.

Pode ser que haja uma ligação com a genética, mas nenhum gene ainda foi identificado.

Em homens, os poucos casos reportados na literatura médica eram de pacientes que apresentavam problemas hepáticos ou deficiências de testosterona.

*Com informações de reportagem publicada em 27/06/2021 e da SBACV (Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular (SBACV).