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Equilíbrio

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Por que tem pais e filhos que estão sempre competindo entre si?

Jorge e Mauricio brigavam desde que o filho era pequeno - Arquivo pessoal
Jorge e Mauricio brigavam desde que o filho era pequeno Imagem: Arquivo pessoal

Marcelo Testoni

Colaboração para o VivaBem

09/11/2022 04h00

Se Mauricio Nascimento, 35, e seu pai Jorge, 65, ambos de São Paulo (SP), fossem figuras mitológicas, provavelmente seriam, até pouco tempo, os gregos Édipo e Laio. A boa notícia é que não tiveram o mesmo desfecho trágico —Édipo matou Laio, que era seu pai, tomando seu lugar como rei e desposando sua viúva, no caso, sua mãe.

"Quando eu era garoto, por volta dos quatro anos, comecei a ter muito ciúmes do meu pai com minha mãe. Se visse os dois juntos abraçados, separava-os imediatamente. Batia nele quando dormia, sujava suas roupas e ele ficava com muita raiva de mim. Quando minha irmã nasceu, ele se apegou muito mais a ela, então não cresci muito próximo dele", diz Mauricio.

Freud usou justamente o mito de Édipo para explicar esse conflito entre pais e filhos. Segundo Eduardo Perin, psiquiatra pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), o criador da psicanálise se apropriou da história para formular sua teoria de que o desenvolvimento sexual infantil começa a partir do momento em que o menino, entre os 3 e 5 anos, formula um desejo incestuoso pela mãe, mas é impedido pela figura paterna, que acaba odiada por essa disputa.

Perin continua que passada essa fase, do chamado complexo de Édipo, o menino, segundo a teoria freudiana, então teria duas alternativas. Na primeira, deixaria espontaneamente de perceber o pai como um obstáculo e se identificaria com ele, imitando seus comportamentos com o objetivo de desenvolver habilidades para o futuro e estruturar sua personalidade.

Mas se tal identificação não ocorresse, os conflitos típicos do complexo de Édipo poderiam ser estendidos até a maioridade. A psicanálise considera ainda casos em que o pai também não consegue se colocar no lugar do filho, apenas se enxerga e deposita nele suas frustrações, em especial quando não tem seus desejos correspondidos ou por ter crescido em um lar abusivo.

Mauricio e seu pai, Jorge - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Mauricio e seu pai, Jorge, só se resolveram depois de um retiro de reeducação psicoemocional
Imagem: Arquivo pessoal

Maurício explica que seu pai queria que ele estudasse direito, um sonho que Jorge não realizou por falta de estudo, recursos e incentivo da família. "Falei que não, mas por pressão do meu pai, que me ajudava e queria que eu trabalhasse com ele, optei pela administração. Mas depois a gente brigava tanto, por ter visões diferentes, que quase não nos falávamos", diz.

Narcisismo, imaturidade e dependência

Outras questões a serem consideradas quando uma relação entre pai e filho é conflituosa demais é o narcisismo ou a imaturidade do pai, ou a dependência do filho, aponta Wimer Bottura, psiquiatra especialista em psiquiatria infantil pelo IPq/HCFMUSP (Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).

"Infelizmente acontece com frequência, em todas as combinações, principalmente do genitor com o filho do mesmo sexo. Podemos citar como as mais comuns a competição pela beleza (mais prevalente entre as mulheres) ou pelo sucesso, seja social ou econômico e, quando se trata dos narcisistas, não admitem que o problema se inicia com eles", continua o médico.

Quando evolui para transtorno, provocações nesse tipo de relação são comuns, para se criar situações de vitimização. Se não ocorrem, o narcisista parte para o ataque, para evidenciar sua percepção de grandeza ou de sabedoria, nunca admitindo que o oponente esteja à altura. O filho pode ser visto como posse, que pode ser exposta, ter vontades e privacidade anuladas.

Trate mágoas o quanto antes

A maioria das desavenças entre pais e filhos, independentemente de gênero, podem ser resolvidas com psicoterapia, afirma Joeuder Lima, doutorando em psicologia pelo IESLA (Instituto de Educação Superior Latino-Americano), em Palmas (TO), com uma ressalva em se tratando de narcisistas patológicos, pois dificilmente admitem que precisam de alguma ajuda.

Não foi o caso do pai de Mauricio. "Quando ele fez 55 anos, minha madrinha, vendo que nos adiávamos por tudo, nos presenteou com um retiro de reeducação psicoemocional. A princípio não queríamos, mas fizemos e percebemos como nossos ressentimentos e a falta de perdão eram os problemas. São 'vícios' que exigem ser superados, para recomeçar", diz Mauricio.

E esse exercício não é exclusivo a adultos, acrescenta Lima. "Na infância e adolescência também, mas pouco adianta terapia se o genitor não reconhecer que requer participar. Com a orientação familiar, o que inclui não agir com imposição, às vezes nem é necessário tratar o menor, que pode apenas estar reagindo às condições de uma pressão psicológica", diz.

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