Topo

Saúde

Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


19% das adolescentes grávidas enfrentam nova gestação antes da idade adulta

iStock
Imagem: iStock

Gabriela Cupani

Da Agência Einstein

13/11/2022 14h00

Quase 1 em cada 5 adolescentes gestantes volta a engravidar antes de chegar à vida adulta, mostra uma pesquisa que avaliou dados de mais de 4.500 grávidas entre 12 e 19 anos em todo o Brasil. O estudo investigou os fatores que levam à reincidência na gestação nessa idade e foi feito pela UFES (Universidade Federal do Espírito Santo) a partir de informações do estudo "Nascer no Brasil", da Fiocruz.

A taxa de nova gestação nessas meninas é de 18,6% e a enorme maioria não foi planejada e desejada. Jovens com baixa escolaridade e renda são as mais expostas ao problema. Aquelas que moram com o companheiro têm uma chance duas vezes maior de engravidar novamente.

Por outro lado, o risco de reincidir cai 23% a cada ano que se consegue adiar a gravidez. "A escolaridade é um fator protetivo e quanto mais ela fica na escola, mais atrasa a maternidade", enfatiza a enfermeira Thamara de Souza Campos Assis, uma das autoras. "Isso dá um sentido pra vida delas, de realizar sonhos e ter metas."

Nessa idade, também há risco de mais complicações na gravidez, como hipertensão, pré-eclâmpsia e eclâmpsia, parto prematuro e bebês com baixo peso ao nascer.

"Como o corpo ainda está em amadurecimento, pode até haver um déficit calórico pelas demandas do próprio organismo da adolescente e da gestação. Não é o momento para uma sobrecarga", explica Mariano Tamura, ginecologista e obstetra do Hospital Israelita Albert Einstein (SP).

Além disso, a falta de maturidade traz outros problemas: "Elas procuram menos atendimento, não seguem as orientações corretamente e acabam fazendo um pré-natal de pior qualidade", observa.

Falha no acesso à saúde reprodutiva

"Os resultados mostram a dificuldade de acesso ao planejamento familiar e à saúde reprodutiva das adolescentes", diz Thamara. Às vezes elas têm vergonha de assumir que já iniciaram a vida sexual ou não encontram acolhimento na família e nos serviços de saúde.

"Após terem filhos, muitas acabam assumindo essa função na sociedade, pois isso já define um rumo e fecha outras possibilidades", completa Tamura.

Mas não faltam meios de evitar uma gravidez indesejada e não há nenhuma contraindicação ao uso de contraceptivos nessa idade, como as pílulas. Para quem costuma esquecer de tomar o comprimido, uma boa opção são os implantes hormonais. O DIU (dispositivo intrauterino) atualmente também tem uma versão mini. O mais importante é procurar um médico antes mesmo de começar a vida sexual, que vai orientar essa escolha.

"Esse tema pode e deve ser abordado em qualquer consulta, mesmo com outros especialistas, se a paciente estiver mais à vontade com outro profissional", diz Tamura. Mas vale lembrar que a visita ao ginecologista é essencial quando há queixas ou sintomas menstruais, ou sinais de infecção, como corrimento ou ardência.

Campeão de gravidez adolescente

Apesar de uma ligeira queda nos últimos anos, o Brasil ainda tem uma das maiores taxas de gravidez na adolescência da América Latina. Só em 2020, foram cerca de 380 mil partos de mães com até 19 anos —cerca de 14% de todos os nascimentos no país, segundo dados do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para a Saúde.

Em 2018, eram 15,5% no país. Para se ter uma ideia: no Peru e na Costa Rica a taxa é 11%; na Argentina e no Uruguai, 10%; e no Chile, 5%. Esses dados são Fundo de População das Nações Unidas, a agência que trata de saúde sexual e reprodutiva.

Embora o fenômeno atinja todas as classes sociais, é mais frequente nas mais vulneráveis. São elas que também sofrem o maior impacto, tanto no acesso à saúde quanto na perda de oportunidades.