Topo

Saúde

Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


Xixi tem escapado? Veja tipos e causas de incontinência urinária masculina

iStock
Imagem: iStock

Alexandre Raith

Colaboração para VivaBem

14/11/2022 04h00

Já ouviu a expressão "tirar água do joelho"? Diferentemente do que parece, o termo significa urinar. Tal ato traz alívio e relaxamento, mas existem homens que não conseguem chegar a tempo ao banheiro e a prática tão comum e necessária se torna um estorvo. Classificada por diversos tipos e causas, a incontinência urinária é definida pelo escape involuntário, e não pela frequência ou pelo volume de perda.

Em alguns casos, o simples fato de espirrar ou tossir provoca a perda involuntária de urina, e a condição é comum, sobretudo em idosos. "Cerca de 30% da população masculina tem, mas somente um quinto procura ajuda. A prevalência aumenta conforme a idade avança, pois aumenta o risco de a bexiga perder massa muscular, de ter câncer de próstata ou um problema neurológico, além de outras doenças relacionadas", afirma Carlo Passerotti, urologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz (SP) e professor livre-docente pela FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).

O processo de eliminação do xixi acontece da seguinte forma: a urina produzida pelo rim segue para a bexiga, que serve como um reservatório. Quando está cheia, manda um sinal para a coluna lombossacra, que, em seguida, chega ao cérebro. É ele que envia a mensagem para a bexiga contrair e o músculo (esfíncter urinário) relaxar, a fim de que ocorra o esvaziamento do líquido através do canal da uretra.

Passerotti explica que não existe uma frequência fixa, mas o habitual é urinar a cada 3 ou 4 horas. Ir ao banheiro em um intervalo curto e acordar muito à noite são sinais de alerta. "O importante é verificar a mudança de hábito, mesmo que lenta. Se urinava cinco vezes ao dia e agora são dez, não é normal. Procure ajuda, porque tem cura e tratamentos efetivos", acrescenta o especialista.

Conheça, a seguir, os tipos de incontinência urinária masculina, suas causas e fatores de risco, que vão desde aumento benigno da próstata e diabetes até doenças neuromusculares, tabagismo e apneia. Já os tratamentos incluem de aplicação de toxina botulínica na bexiga à colocação de marca-passo.

Incontinência urinária - iStock - iStock
Imagem: iStock

Incontinência de urgência: é caracterizada pela vontade incontrolável de urinar e incapacidade de chegar a tempo ao banheiro. Geralmente, deriva do mau funcionamento da bexiga, que contrai antes de estar completamente cheia. Diabetes, infecção de urina, próstata aumentada e qualquer lesão acima do plexo lombossacral são outros motivos associados. Um dos sintomas é a hiperatividade, que provoca uma necessidade súbita de fazer xixi.

Incontinência de esforço: a perda urinária acontece ao espirrar, tossir ou fazer força. Neste caso, é provocada pelo enfraquecimento dos músculos do assoalho pélvico, que causa perda de resistência, ou por pós-cirurgia para câncer de próstata.

Incontinência por excesso de produção de urina: a obstrução do fluxo na uretra ou uma fraqueza do músculo da bexiga faz com que o órgão encha demais e, assim, provoque perda involuntária. Pode ser consequência de diabetes, insuficiência renal ou apneia do sono, entre outras razões.

Incontinência por gotejamento terminal: ocorrem respingos após urinar, pois a contração da bexiga acaba antes que ela se esvazie por completo, e o que pinga é o xixi que sobrou no canal da uretra. Ou, de tanto fazer esforço no final da micção, a bexiga aperta novamente e libera mais líquido. Normalmente, é reflexo de próstata aumentada ou enfraquecimento dos músculos do assoalho pélvico.

Relação de causa e efeito

Quanto maior a idade do homem, maior a incidência de incontinência urinária, seja por fragilidade da musculatura do assoalho pélvico, que envelhece, perde o tônus e força muscular, seja por incompetência do esfíncter urinário, que com o tempo se torna mais frágil e não retém a pressão abdominal. Ademais, a lista da relação de causa e efeito entre certas doenças e a perda involuntária de urina é longa.

No que se refere ao câncer de próstata, apesar da evolução no tratamento cirúrgico, existe uma tendência de perda involuntária no pós-operatório. Após a prostatectomia (retirada da próstata), o homem fica com uma sonda urinária por volta de dez dias. Depois de retirada, é frequente a dificuldade de conter a urina, que é temporária, devido a uma incompetência do esfíncter. O controle é recuperado no decorrer de algumas semanas.

"Hoje, com a cirurgia robótica para o câncer de próstata, a prevalência de homens com incontinência no pós-operatório diminuiu bruscamente. Quando existe, é de pequena intensidade e corrigida facilmente com urofisioterapia", informa Juncal Pazos, urologista do Hospital Aliança, da Rede D'Or, em Salvador.

Apontando para a próstata - iStock - iStock
Imagem: iStock

"Estima-se que somente de 3% a 5% dos homens que operam de câncer de próstata têm incontinência severa após a cirurgia", acrescenta Antônio Correa Lopes Neto, coordenador do Departamento de Litíase e Endourologia da SBU-SP (Sociedade Brasileira de Urologia - regional São Paulo) e professor da FMABC (Faculdade de Medicina do ABC).

Ele reitera que, em relação ao aumento benigno, a perda involuntária está relacionada à obstrução na bexiga, que, como mecanismo de reflexo a esse processo, desencadeia um quadro hiperativo.

Já no caso do diabetes, a incontinência de urgência surge devido ao comprometimento neurológico provocado pela doença. Os nervos que comandam a bexiga, ou seja, que estão ali para estimular o órgão no momento da micção, ficam comprometidos. O principal reflexo neste caso é a hiperatividade. O mesmo acontece com algumas enfermidades neuromusculares.

Problemas cardiopulmonares, como insuficiência cardíaca congestiva, também estão associados à incontinência urinária. A congestão provoca durante o dia o inchaço dos membros inferiores por causa da retenção de líquido. Ao deitar-se à noite, ele é reabsorvido pelo organismo, o que gera o aumento da frequência de micção noturna e, eventualmente, uma perda involuntária.

Homens que apresentam DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica) igualmente correm risco. Um terço dos pacientes nesta condição apresenta incontinência urinária, sobretudo por causa da tosse, indica o urologista da SBU-SP. O esforço leva a uma sobrecarga do esfíncter urinário e ao escape de urina.

Aliás, o tabagismo, que é considerado o grande causador de DPOC, é o principal fator de risco. "Os componentes do cigarro trazem irritação na bexiga. 90% dos pacientes com tumor neste órgão são fumantes ou ex-fumantes. Em relação à incontinência, a nicotina tem uma ação estimulante no músculo detrusor [da parede da bexiga] que causa, eventualmente, hiperatividade", diz Neto.

Até quem ronca demais não fica de fora, uma vez que a apneia do sono aumenta a geração de urina. Devido ao bloqueio da passagem de ar pela faringe, o coração acelera para buscar oxigênio. Assim, o sangue passa mais pelo rim e produz urina em maior quantidade.

Toxina botulínica na bexiga

Sistema urinário humano, bexiga - iStock - iStock
Imagem: iStock

Exercícios físicos, como pilates e fisioterapia urinária, fortalecem a musculatura pélvica e, por isso, são benéficos no controle da micção. Estimular os músculos específicos desta região ajuda a reduzir a incontinência de urgência, que tem outras linhas de tratamento.

Os medicamentos são eficientes no controle dos espasmos que a bexiga sofre. Já a injeção de toxina botulínica no órgão relaxa a musculatura e diminui a contração. Assim como no rosto, deve ser reaplicada de seis a nove meses.

Existe ainda uma terapia chamada neuromodulação, que consiste em um implante cirúrgico de um dispositivo na coluna lombossacra. É uma espécie de marca-passo que emite estímulos elétricos nos nervos responsáveis pelo controle da função da bexiga e uretra.

No caso da incontinência de esforço, muito comum no pós-operatório do câncer de próstata, uma opção cirúrgica é a colocação de um esfíncter artificial no escroto. Quando quer urinar, o homem aperta o dispositivo, que se abre para a drenagem da bexiga e se fecha após cerca de 50 segundos.

O diagnóstico da incontinência urinária é realizado pelo estudo urodinâmico, que mede as pressões da bexiga e abdominal. A definição e a combinação dos tratamentos dependem da causa, do tipo de incontinência e de até que ponto a perda involuntária impacta na qualidade de vida do homem. Na maioria das vezes, a chance de cura beira os 100%.