Dengue é pior na 2ª vez? Mosquito só pica de dia? Tire 13 dúvidas comuns

Por mais que a principal forma de prevenir a dengue seja bem conhecida —impedir a proliferação do mosquito Aedes aegypti—, a doença, que pode até matar, vem crescendo de forma preocupante no Brasil.

De janeiro a outubro a outubro de 2022, já são 1,3 milhão de novos casos registrados por aqui, um aumento de 183% em comparação ao mesmo período do ano passado, segundo dados da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia).

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As mortes causadas pela doença nesse período cresceram 400% e a estimativa é que, em 2022, nosso país bata o recorde histórico de vidas perdidas para a dengue, superando 2015, quando foram contabilizados 986 óbitos.

Para você conhecer melhor a doença e ficar longe do problema, tiramos 13 dúvidas sobre a dengue, com a ajuda do epidemiologista Leonardo Bastos e dos infectologistas Antônio Carlos Bandeira e Kleber Luz.

O que é dengue?

É uma doença infecciosa causada por um dos quatro vírus da dengue (DEN1, DEN2, DEN3, DEN4). Eles são transmitidos por alguns mosquitos do gênero Aedes (caracterizados por terem listras brancas em seu corpo), sendo que no ambiente urbano os principais são o Aedes aegypti e o Aedes albopictus.

Como ocorre a transmissão da doença?

Ocorre pela picada da fêmea do Aedes infectada com o vírus. O mosquito "contrai" o vírus ao picar um ser humano que está com dengue e, cerca de duas semanas depois, pode transmitir o micro-organismo para as pessoas.

Por que somente a fêmea do mosquito pica?

As fêmeas precisam ingerir sangue para o desenvolvimento do seu aparelho reprodutor e maturação dos ovos, enquanto os machos se alimentam do néctar e da seiva das plantas.

É verdade que o mosquito da dengue só pica durante o dia?

O inseto também pode nos picar à noite, mas isso é pouco comum. O Aedes tem hábitos diurnos e costuma "atacar" as pessoas com maior frequência durante o amanhecer e o entardecer, que são o período de maior movimento.

Todo mundo que é picado pelo mosquito Aedes aegypti fica doente?

Não. Para ficar doente é preciso ser picado por uma fêmea infectada com o vírus da dengue. E, mesmo que isso aconteça, se o sistema imunológico da pessoa estiver forte, ela pode contrair o vírus e não adoecer, ficando assintomático.

Quais os sintomas da dengue?

Conhecida como febre quebra ossos, a dengue causa febre alta, dores nas articulações e musculares (especialmente nas costas), dor atrás dos olhos e de cabeça e manchas vermelhas no corpo. Em casos mais graves, os sintomas incluem sangramentos na gengiva, pelo nariz, vômitos e dor na região abdominal.

Algumas pessoas podem ter choque, que é a queda da pressão arterial. Se ela evoluir para a forma grave, pode levar à morte.

Como é feito o diagnóstico?

O diagnóstico inicial é feito por meio do chamado clínico epidemiológico, em que o médico vai avaliar o conjunto de sintomas do paciente e a situação epidemiológica local —ou seja, se a pessoa vive em uma área em que há casos de dengue.

Existem também os testes laboratoriais confirmatórios. Nos primeiros cinco dias, podem ser realizados exames que busquem identificar sequências moleculares do vírus no organismo, como os testes de RT-PCR e o NS1.

Após o quinto dia de doença, pode ser coletada a sorologia IgM e IgG, que são os anticorpos produzidos contra o vírus da dengue. Apesar de controvérsia nos resultados, admite-se que se a IgM for positiva, pode-se considerar um caso de dengue.

Quanto tempo dura a dengue?

Os sintomas da dengue clássica duram em média uma semana, depois desse tempo, eles desaparecem naturalmente. No entanto, se a pessoa desenvolver a forma mais grave da doença —a dengue hemorrágica—, o quadro pode se estender mais tempo.

Se uma pessoa na casa tem dengue, o risco de alguém da família também pegar é maior?

Sim, quando há alguém doente o risco de outras pessoas que vivem juntas pegarem é maior. Isso porque provavelmente há mosquitos infectados com o vírus da dengue dentro de casa ou no entorno —que podem transmitir a doença por semanas.

Os ovos do mosquito infectado ainda podem gerar novos mosquitos infectados. Além disso, um inseto não infectado pode picar a pessoa doente e, após alguns dias, estar apto para transmitir o vírus.

Para evitar uma nova infecção na família, é importante redobrar a atenção com alguns cuidados, como o uso de telas protetoras, repelentes de insetos e roupas compridas, para dificultar as picadas dos mosquitos.

Quantas vezes alguém pode pegar dengue?

É possível uma mesma pessoa pegar a doença até quatro vezes, pois temos quatro tipos diferentes de vírus da dengue (DEN1, DEN2, DEN3 e DEN4) e a imunidade desenvolvida pelo nosso corpo ao contrair a doença é específica para cada vírus, não havendo proteção cruzada.

Ou seja, se você adoecer por causa do vírus da tipo DEN1, ficará protegido contra ele pelo resto da vida, mas ainda poderá ter dengue se for picado por um mosquito infectado com o DEN2, DEN3 ou DEN4.

A dengue costuma ser mais grave quando se repete?

Sim, isto se deve a um fenômeno chamado ADE (Antibody-dependent enhancement), que é a sigla em inglês para amplificação dependente dos anticorpos.

Resumidamente, quando a pessoa tem dengue uma vez e depois contrai a doença novamente, os anticorpos produzidos na primeira ocasião, em vez de neutralizarem o vírus, facilitam a sua entrada nas células —onde ele se replica e se reproduz.

Isso eleva em muito a carga viral no organismo e ainda pode gerar uma resposta imunológica exagerada. Os dois fatores contribuem para o aparecimento de formas graves da doença, como a dengue hemorrágica.

Como tratar a doença? Tem remédio para a dengue?

Até o momento, não há medicamentos eficazes que controlem a multiplicação do vírus da dengue. O tratamento consiste no uso de antitérmicos e analgésicos comuns, para reduzir os sintomas. Só tome cuidado! Existe uma lista de remédios que não devem ser usados em caso de dengue, como o ácido acetilsalicílico (o popular AAS), pois podem agravar o sangramento interno, em caso de dengue hemorrágica.

Durante o curso da doença, é muito importante o paciente beber bastante água. A hidratação serve para manter o sistema circulatório íntegro, não permitindo que a saída de líquidos dos vasos sanguíneos leve a pessoa a quadros graves de desidratação, choque e morte.

A dengue em sua forma grave requer cuidados hospitalares devido ao quadro hemorrágico.

Como diminuir o risco de ter dengue?

O principal cuidado é eliminar os criadouros dos mosquitos, isto é, locais na sua casa e no entorno nos quais o inseto pode colocar seus ovos, como vasos de plantas, baldes, pneus, caixas d'água sem tampa e outros objetos que acumulam água limpa.

O uso de repelentes e telas antimosquitos nas janelas também é recomendado.

FONTES: Leonardo Bastos, epidemiologista, pesquisador em saúde pública do Programa de Computação Científica da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) e coordenador do InfoDengue; Kleber Luz, infectologista, professor associado da Infectologia da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte) e consultor da Opas (Organização Pan-Americana da Saúde) para arboviroses; e Antonio Carlos Bandeira, infectologista, professor de infectologia na UNI-FTC Salvador e coordenador do Comitê de Arboviroses da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia).

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