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Alopecia: após ser chamada de careca, ela criou perfil e se aceitou

Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

Thamires Andrade

Colaboração para VivaBem

21/11/2022 04h00

Giovanna Iniesta tinha 16 anos quando sua mãe notou que os fios do topo da sua cabeça estavam ficando mais ralos. "Na época, não dei tanta atenção, mas depois busquei um dermatologista porque começou a me incomodar. Como estava na época de vestibular, ele disse que isso estava acontecendo por conta do estresse", relembra a jornalista e criadora do perfil @pormaisfios.

Ela saiu do consultório com prescrição de vitaminas caras, que tomou por um tempão, e que não resolveram o problema. "A situação foi piorando e cheguei a buscar mais de quatro profissionais desde então. Foi só depois de cerca de oito anos que recebi o diagnóstico de alopecia androgenética", conta.

A alopecia androgenética ou AAG nada mais é do que a calvície, a mesma que também impacta os homens. Segundo a SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia), cerca de 30% de todas as mulheres do mundo sofrerão com algum problema relacionado a calvície após os 50 anos de idade.

Mas, afinal, como a alopecia se manifesta?

De acordo com os especialistas ouvidos por VivaBem, a principal queixa da alopecia feminina não é a queda, mas, sim, o afinamento dos cabelos, como foi o caso de Giovanna. O couro cabeludo passa a ficar visível, há o alargamento da parte central da cabeça, no meio do couro cabeludo, e o diâmetro do rabo de cavalo fica menor. Já nos homens, esse padrão é diferente: aparecem as "entradas" e o cabelo some na coroa da cabeça.

A calvície acontece por conta de níveis mais elevados de alguns hormônios masculinos no couro cabeludo, que causam uma inflamação nos folículos pilosos. Provocando assim, a miniaturização dos folículos capilares, que nada mais é do que a redução pouco a pouco do tamanho do folículo, o que faz com que eles fiquem cada vez mais finos e curtos.

Esse afinamento gradativo e progressivo vai diminuindo a densidade capilar e a consequência disso é que é possível ver o couro cabeludo, já que os fios estão cada vez mais finos.

O que desencadeia a calvície?

Giovanna Iniesta 3 - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

Há um tempo esse afinamento era atribuído ao envelhecimento, mas a AAG tem origem genética e pode ser herdada tanto pelo lado paterno quanto materno. No entanto, o que a desencadeia ainda não é um consenso entre os especialistas, tampouco o período em que ela acontece, já que a miniaturização pode começar na adolescência, ficando mais evidente na fase adulta.

Há alguns estudos que creditam ao estresse essa mudança do ciclo de vida do cabelo, que vai ficando encurtado e, por ficar cada vez mais fino, não consegue chegar na espessura e comprimento que deveria. Enquanto há outros que relacionam os processos inflamatórios nos folículos como motivo da alopecia.

Como é feito o diagnóstico?

Normalmente, o paciente já chega ao consultório se queixando do afinamento dos fios. O diagnóstico é clínico e também é feito um exame —dermatoscopia ou tricoscopia— com um aparelho que fica no próprio consultório e tem um conjunto de lentes capaz de aumentar de 20 a 70 vezes e, assim, é possível ver a estrutura do couro cabeludo e dos fios afetados pela alopecia.

O importante é sempre buscar um dermatologista em caso de suspeita de alopecia para ter o diagnóstico o quanto antes, já que se os fios estão muito acometidos é mais difícil reverter o processo de miniaturização e muitos deles ficam tão finos que não nascem mais.

Foi o que aconteceu com Giovanna. "Receber o diagnóstico foi ótimo, porque passei anos sem saber o que tinha, mas ao mesmo tempo fiquei com raiva de não poder ter tratado antes. Se tivesse iniciado o tratamento logo no início teria poupado muitos cabelos que acabei perdendo", lembra.

Como é feito o tratamento?

O principal objetivo é reduzir a inflamação do folículo piloso, reduzir o processo e velocidade da miniaturização e, em alguns casos, até revertê-la. Mas, no fim das contas, o tratamento é individualizado, variando de acordo com o grau da alopecia, se a mulher pretende engravidar ou se já passou da menopausa. Ou seja, não tem uma receita de bolo.

A boa notícia é que há cada vez mais tratamentos disponíveis. Desde medicamentos como o minoxidil, finasterida, espirolactona e dutasterida, até as injeções de medicamentos diretamente no couro cabeludo e lasers que podem ser usados no consultório e até mesmo em casa.

O que é mais importante é seguir o tratamento prescrito pelo médico e não sair comprando vitaminas e outros produtos indicados por blogueiras. A calvície é uma doença crônica, assim como a hipertensão e o diabetes, que não tem cura, portanto, o acompanhamento com o especialista deve ser feito com uma periodicidade de seis meses a um ano.

No futuro, segundo as especialistas ouvidas pela reportagem, já se estudam pesquisas com células-tronco e com plasmas para ajudar na desinflamação dos folículos. O futuro promete tratamentos mais efetivos e sem depender de uma medicação diária —o que às vezes impacta na adesão do tratamento.

Diagnóstico, tratamento e aceitação

Giovanna Iniesta 2 - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

Giovanna decidiu criar o perfil @pormaisfios após uma pessoa em situação de rua chamá-la de careca. "Na hora, fiquei com raiva, mas queria que as pessoas soubessem mais sobre o tema. No início, não assumia a minha identidade no perfil, mas aos poucos isso foi mudando e ter o perfil, sem dúvida, me ajudou muito no processo de aceitação", diz.

Hoje, ela recebe mensagens de meninas e mulheres em vários estágios de tratamento, desde as que acabaram de receber o diagnóstico até as que já estão com acompanhamento. "Recebo muitas mensagens de pessoas agradecendo que se sentiram acolhidas e menos sozinhas em todo esse processo. Isso para mim é muito importante porque eu me dedico para ir atrás das informações, traduzir estudos etc.", afirma.

A influenciadora também ressalta a importância de sempre buscar um especialista para realizar o tratamento. "Tem muitas empresas de vitaminas que contratam blogueiras para falar do tema, mas a verdade é que a alopecia não está relacionada com a falta de vitamina. Os produtos são caros e ainda fazem com que o atraso no diagnóstico aconteça! Por isso, sempre recomendo buscar um dermatologista", finaliza.

Fontes: Elisete Crocco, dermatologista e professora da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo; Luciana Passoni, médica dermatologista e tricologista; Mariana Lima, especialista em dermatologia pela SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia) e professora de Dermatologia da Santa Casa de Misericórdia do Recife; e Rosana Lazzarini, dermatologista e professora da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.