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10 coisas que podemos aprender sobre lúpus com o filme 'Depois do Universo'

Em "Depois do Universo", Nina (Giulia Be) tem lúpus - Reprodução/Netflix
Em "Depois do Universo", Nina (Giulia Be) tem lúpus Imagem: Reprodução/Netflix

De VivaBem, em São Paulo

22/11/2022 04h00Atualizada em 22/11/2022 19h53

Desde criança, Nina (Giulia Be) já demonstrava todo seu amor pelo piano. Mas quando os primeiros sinais do lúpus, uma doença autoimune, aparecem, a jovem precisa reavaliar todos os planos.

Essa é a história do filme "Depois do Universo", da Netflix, que mostra os desafios de Nina com a doença até a chegada de um novo amor em sua vida, o médico Gabriel (Henrique Zaga).

Desde que estreou, no final de outubro, o longa ganhou bastante destaque na plataforma de streaming, ocupando por semanas o top 10 de filmes mais vistos da Netflix no Brasil. Além disso, a trama aborda o assunto, uma doença séria, com muita leveza e cuidado.

Abaixo, veja 10 coisas para aprender sobre o lúpus com o filme "Depois do Universo":

1. Como funciona uma doença autoimune

Logo nos primeiros minutos, Nina aparece com o nariz sangrando durante uma apresentação de piano —momento em que recebe o diagnóstico da doença. Depois, ainda criança, ela explica para outras amigas o que é o lúpus: uma doença autoimune, crônica e inflamatória.

O foco fica mais na questão "autoimune", que envolve condições na qual o sistema imunológico ataca as estruturas do próprio organismo. Além do lúpus, há a artrite reumatoide, psoríase, diabetes tipo 1, entre outras.

Depois do Univer - Reprodução/Netflix - Reprodução/Netflix
Imagem: Reprodução/Netflix

"Com a doença, os pacientes podem apresentar os sintomas das mais variadas formas. Tudo depende do comprometimento orgânico na qual o paciente está sendo afetado", explica a reumatologista Nafice Costa Araújo, presidente da SPR (Sociedade Paulista de Reumatologia).

No caso da jovem do filme, o órgão mais afetado é o rim —assunto que ganha mais destaque ao longa da trama.

De acordo com a médica, também responsável pelo ambulatório de lúpus do Serviço de Reumatologia do Iamspe (Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual), as pessoas podem evoluir ao longo da vida com período de atividade —com a doença ativa— ou em fases de remissão, que pode ser completa ou parcial, que é quando a doença está quieta, controlada.

2. Paciente pode ter sangramento no nariz

Em alguns momentos, a personagem principal aparece com o nariz sangrando e, logo depois, desmaia. Isso tem uma explicação, segundo Araújo, que é membro da Comissão de Lúpus da SBR (Sociedade Brasileira de Reumatologia).

Depois do universo - Reprodução/Netflix - Reprodução/Netflix
Imagem: Reprodução/Netflix

"O sangramento no nariz da personagem pode realmente implicar em atividade de doença, ou seja, que está acontecendo uma reação inflamatória, com danos em alguns órgãos. Isso pode ser em um órgão só ou em vários. Depende muito da maneira como cada um vai desenvolver o lúpus", diz.

Segundo a reumatologista, esse tipo de manifestação é mais comum em pacientes que apresentam maior comprometimento nas células de sangue, como as plaquetas. "Muitos podem apresentar também anemia e diminuição de glóbulos brancos", explica.

3. Relação de lúpus com os rins é frequente

No caso de Nina, ela já recebe a notícia que um dos rim está trabalhando com apenas 10% da capacidade e, por isso, será necessário o transplante de órgão. Até lá, a jovem precisa realizar diálise, tratamento na qual o sangue do paciente passa por um filtro que elimina as toxinas e o excesso de água acumulado no organismo.

Depois do universo - Reprodução/Netflix - Reprodução/Netflix
Imagem: Reprodução/Netflix

De acordo com Araújo, a relação entre os rins e o lúpus é muito frequente. "Entre 50% e 70% dos pacientes vão apresentar alguma manifestação renal no curso da doença. Entre 20% e 30% vão evoluir para a insuficiência renal crônica e, destes, 10% vão precisar do transplante renal", conta a médica.

A inflamação do rim, a nefrite, pode aparecer no início dos sintomas ou ao longo da evolução da doença. Entre os sinais, há a alteração na cor e na quantidade da urina, presença de mais espuma no xixi, inchaço nas pernas, aumento na pressão arterial, entre outros.

4. Transplante de rim pode ser necessário

No filme, Nina fica na fila de espera para receber um novo rim. No entanto, esse tipo de transplante pode ser feito com doadores vivos —e não necessariamente um doador morto, como ocorre com outros órgãos.

Depois do universo - Reprodução/Instagram @netflixbrasil - Reprodução/Instagram @netflixbrasil
Imagem: Reprodução/Instagram @netflixbrasil

Mas após algumas tentativas, inclusive do namorado, ela segue sem conseguir encontrar alguém compatível com ela. De acordo com a SBN (Sociedade Brasileira de Nefrologia), em situações como essa, há a necessidade de ter compatibilidade sanguínea com o receptor. Por isso, são realizados testes para comprovar outras compatibilidades.

Apenas no final da trama, Nina consegue um doador, que é o pai do namorado Gabriel. Mas antes da cirurgia, são feitos vários exames do doador para se certificar que apresenta rins com bom funcionamento, não possui nenhuma doença que possa ser transmitida e que o seu risco de realizar a cirurgia seja reduzido.

5. Dor nas juntas é sintoma comum do lúpus

Durante o longa, a jovem apresenta algumas dificuldades para tocar piano, pois sente muitas dores nas mãos. Esse sintoma também é bem comum no lúpus, segundo a reumatologista. A manifestação chega a acometer cerca de 90% dos pacientes.

Depois do Universo - Reprodução/Netflix - Reprodução/Netflix
Imagem: Reprodução/Netflix

"Os sintomas envolvem muita dor nas articulações, o que chamamos de artralgia. Muitos pacientes evoluem com artrite, em que as juntas ficam inchadas, vermelhas e quentes, principalmente nas pequenas articulações: as mãos, os punhos e os pés", diz.

Araújo explica que a pessoa, geralmente, acorda com dor e dificuldade para mexer as articulações. "Chamamos de rigidez matinal. A duração vai de 30 minutos a 1 hora, são dores prolongadas."

6. Usar protetor solar faz parte do tratamento

Nina utiliza o protetor solar mesmo dentro de casa e isso tem um motivo importante. Há fatores ambientais, como a exposição ao sol ou mesmo a luz artificial, que podem desencadear ou agravar o lúpus.

"As lesões na pele são muito associadas à fotossensibilidade. Há uma relação muito forte com a irradiação do ultravioleta", diz a médica.

Depois do universo - Reprodução/Netflix - Reprodução/Netflix
Imagem: Reprodução/Netflix

Por isso, a orientação é usar protetor solar diariamente, até mesmo dentro de casa e nos dias mais nublados. A aplicação deve ser feita de 2 a 3 vezes ao dia.

7. Doença é mais comum em mulheres

A doença é mais prevalente em mulheres, explica a médica, e principalmente na idade que vai de 15 a 50 anos —representando 90% dos casos. Mas crianças e idosos também podem ter lúpus.

"Os primeiros sinais e sintomas ocorrem, geralmente, entre a primeira e a segunda década de vida. A predominância do lúpus é de 10 mulheres para 1 homem", afirma Araújo.

Giulia Be interpreta Nina no filme "Depois do Universo" - Divulgação/Netflix - Divulgação/Netflix
Imagem: Divulgação/Netflix

Com uma prevalência que varia conforme cada região do mundo, sabe-se que o lúpus é mais comum entre afrodescendentes, asiáticos e hispânicos, quando comparados aos caucasianos.

8. Não há cura para o lúpus

Mas existem formas de tratar a doença. E tudo isso vai depender da maneira com que ela se apresenta. Nina precisou de transplante de rim porque o órgão estava com maior comprometimento.

Depois do universo - Reprodução/Netflix - Reprodução/Netflix
Imagem: Reprodução/Netflix

A proteção solar é outro ponto importante. Existem ainda medicamentos que auxiliam na redução da resposta imunológica do corpo, como corticosteroides, imunossupressores, imunobiológicos, entre outros. Além disso, é fundamental evitar momentos de muito estresse, que podem agravar quadros da doença.

9. Causas ainda desconhecidas

Embora o filme não explique exatamente este ponto, é importante dizer que as causas da doença ainda são desconhecidas. Até o momento, sabe-se que ela envolve diversos fatores, como:

  • Predisposição genética;
  • Desregulação do sistema imunológico;
  • Fatores hormonais (hormônio feminino);
  • Estresse;
  • Exposição a fatores ambientais (irradiação ultravioleta, infecções, tabagismo).

10. É possível levar uma vida normal

Embora alguns pacientes apresentem limitações na vida, dependendo do nível de comprometimento dos órgãos, é possível, sim, entrar em remissão (mesmo que parcial) e levar uma vida normal, como ocorre em qualquer doença crônica, como diabetes ou hipertensão.

'Depois do Universo' conta com Giulia Be e Henrique Zaga - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação

Inclusive, no filme, Nina vai para festas, anda de bicicleta, toca piano e leva uma vida normal. "Estamos conseguindo fazer com que muito pacientes entrem em remissão. Sabemos que não podemos curar essas pessoas com doenças autoimunes, mas conseguimos controlar a resposta imunológica, o processo inflamatório e os sintomas que estes pacientes apresentam", diz a reumatologista.

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