É verdade que temos mais pesadelos quando estamos estressados?
Ansiedade e estresse são naturais e necessários para a vida. Em excesso, contudo, provocam uma série de alterações orgânicas. A preocupação exagerada dificulta o relaxamento e deixa o processo do sono complicado e propenso a pesadelos.
Quando recorrentes, podem estar relacionados a situações traumáticas. No entanto, na maioria das vezes, são sinais de alerta de que algo está afetando a qualidade do repouso.
Entendendo o esgotamento físico e mental
"O estresse tem a sua função no desenvolvimento humano e quando sai do controle, há um problema de sobrevivência. A existência de vidas altamente confortáveis nas quais todas as necessidades estivessem preenchidas, provavelmente não resultariam na metade do desenvolvimento tecnológico e humano", explica R. Nonato D. Rodrigues, neurologista, especialista em medicina do sono e membro titular da ABN (Academia Brasileira de Neurologia).
O estresse pode ser contagioso, estimulando a sensação de preocupação de uma pessoa para outras. Há também o indivíduo que já nasce com uma predisposição à ruminação, ou seja, tende a pensar muito sobre um problema, às vezes, até ampliando sua dimensão.
O terceiro tipo, de acordo com Rodrigues, é o que precisa do estresse para viver e, muitas vezes, a sociedade celebra esse tipo de personalidade, como um jogador que irá definir o campeonato batendo o pênalti.
Em muitos momentos, o estresse é fundamental para propiciar o deslocamento da zona de conforto, em que atua, de forma positiva, a favor de novos desafios. "É o ajustamento em que se adquirem novas posturas até se recolocar em uma nova zona de conforto."
Qual o sentido dos sonhos?
O problema é que não se sabe a quantidade de estresse que começa a causar mal, dependendo, provavelmente da resistência e resiliência de cada um.
O pesadelo é um sonho —todos sonham e precisam sonhar. "Faz parte da fisiologia cerebral. À medida que o tempo passa, sonha-se menos. É normal sonhar todas as noites, mas nem sempre se recorda porque o cérebro tem um mecanismo de proteção em que o sono normal —o sono sem sonho— apaga a lembrança do sonho. Assim, se o conteúdo não é favorável à fisiologia cerebral, ele é apagado", afirma o neurologista da ABN.
Na psicanálise, os sonhos são a produção do inconsciente, que consiste em um depósito dos conteúdos de tudo que já foi vivido —sentimentos, pensamentos, pessoas, objetos, ideias— tentando dar vazão às questões que estão tensas e em conflito, na explicação de Alexandre Nicolau Luccas, psicólogo, psicanalista, mestre em psicologia social, professor e coordenador do curso de psicologia da Unipaulistana (Centro Universitário Paulistano).
Na concepção de Sigmund Freud, neurologista, psiquiatra e criador da psicanálise, o sonho é o guardião do sono. O pesadelo é o inconsciente buscando encontrar o equilíbrio, é um alerta sobre o desgaste. Com isso, o sono agitado deixa a pessoa esgotada, indicando que a estafa merece cuidados.
"Se os pesadelos atrapalham o descanso, dificultando as demandas do dia a dia, é necessário procurar auxílio de especialistas, como um psiquiatra ou psicólogo", aconselha Maria Julia Francischetto, psiquiatra do HSPE (Hospital do Servidor Público Estadual), de São Paulo.
A doença do pesadelo
Situações de desgaste emocional, como sequestro, abuso, guerra, são capazes de deixar uma marca profunda, atrapalhando a resolução, em que são necessários mecanismos de compensação. Algumas pessoas tornam-se antissociais, outras chegam a recorrer a ações extremas, como o suicídio.
O pesadelo é um válvula de escape para as tensões geradas pela experiência —chamado estresse pós-traumático. Os pesadelos ficam recorrentes, sempre com o mesmo teor, motivo, tema e mesmo roteiro. "É frequente em veteranos de guerra."
Quando sai do controle e deixa de ser uma válvula de escape pode transformar-se na própria doença, ocasionando até medo de dormir.
Fontes: Alexandre Nicolau Luccas, psicólogo, psicanalista, mestre em psicologia social, professor e coordenador do curso de psicologia da Unipaulistana (Centro Universitário Paulistano); Maria Julia Francischetto, psiquiatra do HSPE (Hospital do Servidor Público Estadual/SP); e R. Nonato D. Rodrigues, neurologista, especialista em medicina do sono e membro titular da ABN (Academia Brasileira de Neurologia).
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