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Paniculite: entenda o distúrbio que foi a causa da morte de Erasmo Carlos

O cantor Erasmo Carlos - Reprodução / Instagram / Fabiano Jr / Kaio Cesar
O cantor Erasmo Carlos Imagem: Reprodução / Instagram / Fabiano Jr / Kaio Cesar

De VivaBem, em São Paulo

23/11/2022 11h09

Uma "paniculite complicada por sepse de origem cutânea" foi a causa da morte de Erasmo Carlos, de acordo com boletim médico divulgado pelo Hospital Barra D'Or (RJ), onde ele estava internado desde o dia 2 de novembro. O cantor morreu ontem (22/11), aos 81 anos.

Paniculite é o nome dado a um grupo de distúrbios inflamatórios que podem causar inchaços ou nódulos dolorosos na camada de gordura abaixo da pele, o chamado tecido adiposo subcutâneo. Existem muitas causas associadas à condição, incluindo infecções por bactérias (como tuberculose e estreptococos), vírus, fungos ou parasitas, além de doenças inflamatórias —como doença de Crohn ou colite ulcerosa.

Distúrbios do tecido conjuntivo (como lúpus e artrite reumatoide), cânceres como leucemia e linfoma, doenças pancreáticas e deficiência de alfa-1 antitripsina também estão entre as causas da condição. Quando a paniculite não tem uma causa óbvia, ela é chamada de paniculite idiopática.

"Se a causa for infecciosa, pode haver infecção generalizada, ou seja, primeiro a infecção atinge o sangue e depois se espalha para o restante do corpo, que é o caso da sepse", explica Maria Elisa Bertoco Andrade, do Ambulatório de Alergia e Imunologia do HSPE (Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo).

A sepse, que agravou o caso de Erasmo Carlos, é uma reação exagerada do corpo a algum tipo de infecção. Nesses casos, descreve Andrade, os quadros são considerados graves —especialmente se o paciente for idoso.

"Esse tipo de paniculite que se transforma em sepse num idoso é particularmente grave, porque o idoso já tem uma resposta imune deficitária, já que o número de neutrófilos, que são as células que primeiro são ativadas contra uma doença infecciosa, podem estar em número normal, mas a função deles é diminuída, favorecendo infecções mais graves", explica a médica.

Além da idade avançada, o artista tinha um histórico de problemas de saúde, incluindo a síndrome edemigênica, que ocorre quando há um excesso de líquido nos tecidos do corpo humano —o edema— e fez com que ele ficasse internado no mês passado.

Quais são os sintomas?

O principal sintoma da paniculite é o aparecimento de nódulos macios e avermelhados que se originam na cama de gordura abaixo da pele, responsável por fornecer isolamento e ajudar na regulação da temperatura do corpo. As saliências variam em tamanho, mas tendem a ser grandes, com vários centímetros de diâmetro.

Os caroços são mais comuns nas pernas e nos braços e ocorrem com menos frequência nas nádegas, no tronco e no rosto.

"Geralmente se apresentam como nódulos avermelhados e quentes, sensíveis ao toque ou mesmo doloridos", descreve o dermatologista Fabiano Pacheco, da SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia).

A pele em cima das protuberâncias pode ficar descolorida e, em alguns casos, o tecido pode "quebrar" —uma substância oleosa pode escorrer dos nódulos quando isso acontece.

"As paniculites podem originar nódulos na pele do tecido gorduroso, que podem acometer alguns órgãos internos, como gordura ou pele visceral em volta dos órgãos, podendo levar a óbito, inclusive", afirma Theodoro Habermann Neto, dermatologista do Hospital Vera Cruz (SP).

Outros sintomas sistêmicos associados à paniculite incluem:

  • Fadiga
  • Febre
  • Mal-estar geral
  • Dor articular e muscular
  • Dor abdominal
  • Náusea e vomito
  • Perda de peso
  • Abaulamento do olho (alteração na forma como o olho se move dentro da órbita)

Os médicos classificam a paniculite com base na parte da camada de gordura sob a pele que está inflamada. A paniculite septal afeta o tecido conjuntivo ao redor da gordura. Já a paniculite lobular afeta os lóbulos de gordura.

Embora a paniculite que acometeu Erasmo Carlos esteja associada à pele, existem tipos envolvendo outros órgãos —como o intestino e os rins.

Diagnóstico e tratamento

O diagnóstico da paniculite geralmente é feito a partir de uma biópsia profunda da área em que estão localizadas as lesões.

Uma vez diagnosticada, o objetivo do tratamento é não só reduzir a inflamação e aliviar os sintomas, como tratar a origem do problema, explica Pacheco.

"Seu tratamento é direcionado para a origem da paniculite, sempre com uma resposta lenta de recuperação", diz o médico.

O prognóstico depende do que causou a inflamação —algumas condições são mais fáceis de tratar do que outras.

No caso de paniculites causadas por doenças crônicas, a condição geralmente vem e vai. As protuberâncias podem aparecer, permanecer por algumas semanas e depois desaparecer. No entanto, podem retornar no futuro. Algumas formas de paniculite também deixam marcas permanentes na pele.

Casos desencadeados por infecções demandam maior atenção e, muitas vezes, antibióticos que sejam capazes de conter bactérias resistentes.

"Muitas vezes, a gente consegue a reversão dos casos, mas quando tem principalmente acometimento de vísceras, de órgãos internos, aí o prognóstico é bem pior, principalmente se tiver pancreatite associada", diz Neto, do Hospital Vera Cruz.

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