Pétala diz que Kerline usa remédio de TDAH para emagrecer; faz sentido?
Na noite desta terça-feira (22), na academia da sede de "A Fazenda 2022" (Record TV), Pétala Barreiros disse que Kerline Cardoso toma remédios para TDAH (transtorno de déficit de atenção e hiperatividade) para emagrecer.
"Ela só fica aí tomando remédio para TDAH para emagrecer", disparou Pétala durante uma conversa com Bia Miranda e Moranguinho. Na sequência, a peoa citou o nome do medicamento Ritalina.
Remédio pode ser usado para emagrecer?
Não. A Ritalina —nome comercial do fármaco metilfenidato— é um medicamento de uso contínuo e psicoestimulante que age reduzindo os sintomas de quem tem TDAH.
Aliás, no Twitter, o perfil oficial de Kerline se pronunciou a respeito da fala de Pétala. "Kerline faz tratamento aqui fora. Ela se cuida, faz psicoterapia e entende quão importante é a saúde psicológica. Gostaríamos que a Pétala também soubesse o que é isso e como afeta diversas pessoas! Kerline se medica por saúde. E saúde é coisa séria!", diz o post.
Essa classe de medicamentos pode mesmo ter como efeito colateral a redução de apetite, segundo Mário Louzã, psiquiatra e coordenador do Prodath (Programa Déficit de Atenção e Hiperatividade no Adulto) do IPq (Instituto de Psiquiatria) da USP (Universidade de São Paulo). Mas o efeito colateral não é tão forte a ponto de alguém usar o remédio para este fim.
"Quando usamos os psicoestimulantes para tratar TDAH, explicamos aos pacientes que um dos efeitos colaterais é essa redução do apetite, mas não tanto nos adultos, e, sim, nas crianças", explica.
"Há substâncias que aumentam e diminuem o apetite. No caso, esses psicostimulantes, pela ação bloqueadora da recaptação da dopamina, levam a esse efeito colateral."
Louzã esclarece ainda que, mesmo não tendo aprovação para o uso, não é incomum que as pessoas burlem as regras para utilizar o remédio. "Quando as pessoas optam pelo off-label [sem orientação na bula], elas fazem o que bem entendem e assumem suas responsabilidades", fala.
O médico cita outro medicamento, da mesma classe do metilfenidato, que atualmente tem permissão para tratar compulsão alimentar —o que é diferente do uso apenas para emagrecer.
"A lisdexanfetamina, que tem nome comercial de Venvanse, foi aprovada ano passado para o transtorno da compulsão alimentar", conta. "Mas nenhuma delas é aprovada para diminuição de apetite", reforça.
Para Raphael Boechat, psiquiatra e professor da UNB (Universidade de Brasília), o efeito colateral não é "nada que se mantenha": "É algo muito transitório. Nada que justifique o uso para isso".
De acordo com o especialista, o uso off-label mais comum é em alguns casos de depressão. "É mais quando o paciente não tem energia, por exemplo, para sair da cama."
Aliás, os dois médicos são enfáticos em dizer que o uso do medicamento pode causar outros efeitos indesejáveis, como insônia, irritação, ansiedade, entre outros mais graves. "Pode causar quadros psicóticos, principalmente em quantidades aumentadas e em pessoas que têm maior suscetibilidade."
Importância do diagnóstico
Com a banalização do transtorno em alta, Rafaela Scapim, psiquiatra do PAI (Polo de Atenção Integral à Saúde Mental), do Hospital São Francisco na Providência de Deus, no Rio de Janeiro, reforça a importância de um diagnóstico sério.
"Ele é feito pelo médico psiquiatra, com auxílio da avaliação neuropsicológica, que é um exame clínico abrangente da atenção e memória feito por psicólogos especializados", diz.
É importante lembrar que ter TDAH é completamente diferente de ser distraído. Somente a distração ou situações em que a pessoa está realizando tarefas de forma desatenta não configuram um transtorno.
Mudança de ambiente e de rotina, estresse, uso excessivo de eletrônicos, consumo excessivo de bebida alcoólica e até ansiedade são fatores que podem provocar sintomas como procrastinação e dificuldade de concentração.
No caso do transtorno, é importante observar os sintomas que se manifestam em pelo menos em dois ambientes diferentes (casa, escola, lazer), durante, no mínimo, seis meses. Como já foi dito, o transtorno costuma se manifestar ainda na infância, mas é comum que o diagnóstico demore a acontecer e seja feito apenas na idade adulta.
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