Topo

Dieta OMAD: comer uma vez por dia é seguro e pode emagrecer?

iStock
Imagem: iStock

Samantha Cerquetani

Colaboração para o VivaBem

24/11/2022 04h00

Imagine realizar apenas uma refeição por dia e ainda em um curto espaço de tempo. É o que prega a dieta OMAD (One Meal a Day Diet ou dieta de uma refeição por dia, em português). Trata-se de uma versão extrema do jejum intermitente que visa contribuir com o emagrecimento de forma rápida. Mas será que é saudável e todo mundo pode fazer?

De acordo com os especialistas consultados por VivaBem, ainda não existem estudos que comprovem os benefícios da dieta OMAD para a saúde. Mas é sabido que há algumas contraindicações e riscos que devem ser considerados.

Segundo Eline de Almeida Soriano, nutróloga e diretora da Abran (Associação Brasileira de Nutrologia), a OMAD não é indicada para pessoas que necessitam de uma maior quantidade de energia e proteína, como as crianças em fase de crescimento, gestantes e lactantes. "Quem tem diabetes, câncer e insuficiência renal também não deve tentar essa dieta", diz.

Como funciona a dieta OMAD?

Durante a dieta OMAD o indivíduo não consome nenhum alimento por 23 horas e depois ingere todas as suas calorias em uma única refeição, no período de uma hora.

Ela é bastante parecida com o jejum intermitente, no qual a pessoa se priva de se alimentar por algumas horas, de forma voluntária, ou reduz a ingestão de calorias. Nesses casos, pode ser feita restrição em dias alternados, jejum o dia inteiro ou por tempo limitado (restrição da ingestão por 12, 14 ou 16 horas diariamente).

No entanto, a maioria das pessoas que seguem a dieta OMAD opta por se alimentar à noite, no jantar. Mas há quem prefira ingerir os alimentos logo pela manhã.

Há ainda diversas versões da dieta OMAD. Algumas pessoas consomem apenas alimentos saudáveis e ricos em nutrientes, enquanto outras escolhem comer o que desejar nesta única refeição.

"Na dieta OMAD, a pessoa fica a maior parte do tempo com apenas água ou consome algo com poucas calorias (como café ou chá sem açúcar) por cerca de 23 horas. A proposta é associar o jejum com alimentos que tenham de 25% a 35% de proteína, 40% a 50% de gordura e de 10% a 20% de carboidratos", diz Vera Salvo, nutricionista pós-doutora em saúde coletiva e conselheira do CRN-3 (Conselho regional de Nutricionista da 3ª Região).

Entretanto, segundo a nutricionista, são porcentagens que não são recomendadas para uma alimentação equilibrada.

Obesidade, excesso de peso - iStock - iStock
Dieta realmente emagrece, mas é preciso cuidado com duração dela
Imagem: iStock

Há benefícios?

Quem realiza a dieta OMAD acredita que ela oferece diversos benefícios, principalmente a perda de peso. O emagrecimento realmente acontece, já que há diminuição no consumo de calorias.

A estratégia também diminui a formação da gordura no corpo, ao quebrar as moléculas e sua utilização como fonte de energia. Além disso, manter longos períodos sem se alimentar diminui os níveis de insulina e, consequentemente, há menor formação de gordura corporal.

Diversos profissionais de saúde frequentemente usam a OMAD como uma ferramenta complementar para a perda de peso, mesmo que de forma temporária, principalmente em pessoas que não conseguiram emagrecer com outras estratégias, como ao tentar reduzir os carboidratos da dieta.

Há também quem busque a dieta pela praticidade, já que não precisa ficar contando calorias e também porque não há necessidade de excluir determinados alimentos.

"É uma estratégia muito semelhante ao jejum intermitente. Basicamente, é fazer uma restrição calórica por determinado tempo. Portanto, os benefícios são semelhantes e estão ligados à redução não só de peso, mas também de colesterol, pressão arterial, além de melhorar a resposta à glicemia e diminuir a gordura visceral", diz Filipe Brito, nutricionista clínico funcional e professor da Universidade de Fortaleza.

Riscos para a saúde

Quem opta pela dieta OMAD costuma sentir logo nos primeiros dias alguns sintomas desagradáveis como fome excessiva, tontura, mal-estar, fraqueza, irritação e dificuldade de concentração. Tudo isso ocorre devido à restrição extrema de alimentos.

"O principal risco é a queda dos níveis de glicose no sangue (hipoglicemia). Ficar sem se alimentar por 23 horas provavelmente aumentará bastante a fome. E é comum que, quando o indivíduo for se alimentar, ele escolha alimentos mais calóricos e pouco nutritivos, como doces e frituras", diz Soriano.

De acordo com a nutricionista Vera Salvo, como faltam estudos específicos e controlados com essa dieta em humanos, a OMAD não deveria ser recomendada. "Se fosse, não deveria passar de uma a três vezes por semana, em dias não consecutivos, a fim de minimizar seus riscos", diz.

"O emagrecimento é um processo que precisa de orientação. A alimentação equilibrada e fracionada ainda é a melhor forma de alcançar este objetivo", diz Salvo.

jejum intermitente  - iStock - iStock
Dieta não é indicada para quem tem diabetes, crianças em fase de crescimento, gestantes e lactantes
Imagem: iStock

A seguir, veja os possíveis riscos da OMAD:

Atrapalha a manutenção do peso

Quem faz a dieta OMAD pode perder peso rapidamente com a restrição de calorias. O problema é que, em alguns casos, é comum que a pessoa abandone a prática em pouco tempo, pois é difícil de sustentar esse hábito alimentar por longos períodos. Dessa forma, costuma engordar novamente ou entrar no "efeito sanfona", ou seja, engordar e emagrecer em um curto espaço de tempo.

"Fazer uma restrição calórica não precisa necessariamente ser à custa de longos períodos de jejum. Podemos ter resultados semelhantes distribuindo a dieta hipocalórica ao longo do dia, dividindo entre as refeições", sugere Soriano.

Ingestão inadequada de nutrientes

É importante consumir alimentos ricos em nutrientes como vitaminas, minerais, proteínas, fibras e gorduras saudáveis. E fica mais complicado ingerir todos esses itens em apenas uma refeição. Por isso, a pessoa que realiza a dieta OMAD pode ter uma deficiência de nutrientes.

Risco de transtornos alimentares

"Nem toda a dieta leva a um transtorno, mas todo o transtorno começou com uma dieta." A frase é bastante divulgada por especialistas que tratam e estudam os transtornos alimentares, como anorexia e bulimia.

"Apesar de o tema ser polêmico, estudos apontam que, para quem tem tendência a ter esses transtornos, o jejum frequente é um gatilho para aumentar o risco desses problemas de saúde. Por isso, é fundamental o acompanhamento médico para que seja realizada uma avaliação individual antes de começar qualquer dieta", afirma Brito.

Indisposição

O alimento é considerado o combustível do corpo. Quando há uma restrição severa de nutrientes, é comum que o indivíduo sinta indisposição para realizar suas tarefas do dia a dia. Geralmente, esses sintomas ocorrem principalmente no início da dieta OMAD, quando o organismo ainda não se adaptou às mudanças alimentares.

Perigosa para quem tem diabetes

Para quem tem diabetes, síndrome metabólica que provoca a falta de insulina ou a incapacidade de produzi-la, a dieta OMAD é bastante arriscada: é importante realizar refeições regulares para manter os níveis estáveis de açúcar no sangue. Portanto, não deve ser realizada por esse grupo de pessoas.