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Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


Caso raro: 'Tive dengue 2 vezes seguidas e não consegui andar por 5 anos'

Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

Samantha Cerquetani

Colaboração para VivaBem

25/11/2022 04h00

Quando relembra sua história, Natacha Sousa, 22, não consegue explicar como sobreviveu. Após ter dengue por duas vezes seguidas, a estudante de direito acumulou diversas complicações que a debilitaram por anos.

Com apenas 17 anos, a jovem, que mora em Brasília, viu sua vida mudar completamente ao passar meses em hospitais. Na maior parte do tempo, ela não sabia exatamente o que estava acontecendo com o seu corpo.

De forma bastante repentina, ela parou de comer, perdeu os movimentos das pernas e não conseguia mais andar ou realizar cuidados básicos, como tomar banho ou ir ao banheiro sozinha. A seguir, ela conta detalhes de como tudo aconteceu:

"Em junho de 2015, tive dengue e me recuperei rapidamente. Não precisei ir ao hospital e fiquei repousando em casa. Porém, cerca de um mês depois, quando estava melhorando, tive outro episódio da doença. A partir daí, minha saúde piorou.

Procurei vários médicos, inclusive de outras cidades, e eles não sabiam me dizer o que estava acontecendo comigo. Alguns especialistas suspeitam que, após a dengue, desenvolvi a síndrome de Guillain-Barré, mas o diagnóstico não foi confirmado.

Natacha Sousa - dengue grave 4 - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

No início, sentia muitas dores musculares e nas articulações. Pouco tempo depois, não tinha mais apetite e parei de comer. Fiquei bastante debilitada, me sentia fraca o tempo todo.

Perdi os movimentos das pernas depois de três meses. Uma vez tentei levantar e não aguentei o peso do meu próprio corpo. Precisei me locomover em uma cadeira de rodas ou passava o tempo todo deitada.

Neste momento, não tinha mais capacidade de cuidar de mim, tomar banho ou ir ao banheiro sozinha. Também foi necessário usar fraldas. Foi algo muito estranho. Sempre tive muita saúde e na época estava com apenas 17 anos."

Internação de emergência na UTI

Ao todo, Natacha passou 8 meses internada em hospitais. Mas, para ela, o momento mais crítico e assustador foi quando precisou ir para a UTI (Unidade de Terapia Intensiva) em 2016:

Natacha Sousa - dengue grave 3 - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

"Como não conseguia comer, perdi mais de 10 kg em poucos meses. Fiquei desnutrida e cheguei aos 29 kg. Comecei a usar sonda para me alimentar. Devido a desnutrição severa, fiquei bastante inchada, o que prejudicou o meu pulmão.

Os médicos me diagnosticaram com derrame pleural [acúmulo de líquidos no pulmão]. Quase morri e fiquei duas semanas na UTI. Precisei colocar uma sonda no pulmão para drenar a água e ter um pouco mais de conforto.

Neste momento, os especialistas não acreditavam mais que eu sobreviveria. Muitas vezes, ouvi que já tinham feito tudo o que era possível por mim. Chorei muito e decidi que lutaria até o fim."

O recomeço

A história de Natacha poderia ter um final trágico, mas com o apoio dos médicos e familiares, ela começou a melhorar:

Natacha Sousa - dengue grave 2 - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

"Me amparava nas paredes para ficar de pé. Depois, usei o andador e fiz muitas sessões de fisioterapia. Recebi alta do hospital e continuei debilitada, mas me sentia mais forte. Foram quase cinco anos sem andar.

Com o tempo, fui engordando e me recomendaram praticar musculação para ganhar mais massa muscular. Hoje eu tenho uma vida normal e sem sequelas. Não sei como cheguei aqui.

Todo mundo pensa que a dengue é uma doença simples, que não traz problemas graves de saúde. Eu sou a prova de que é preciso se cuidar e reforçar as medidas de prevenção. A gente nunca sabe o que pode acontecer."

Entenda as complicações da dengue

A dengue é uma doença infecciosa causada por um vírus transmitido por meio da picada do mosquito Aedes aegypti. Como são quatro sorotipos diferentes (DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4), é possível que uma mesma pessoa possa ter dengue até quatro vezes.

Todos os sorotipos se manifestam da mesma forma. O quadro é leve e autolimitado para a maioria dos pacientes —a conhecida "dengue clássica", que pela nova classificação passou a ser chamada de "dengue sem sinais de alarme". Mas alguns casos podem se complicar e evoluir para a chamada "dengue grave".

A maioria das pessoas não percebe que foi infectada ou apresenta apenas manifestações leves, tanto que cerca de 70% nem chegam a procurar tratamento. Mas, em geral, a dengue clássica costuma causar:

  • Febre (geralmente alta, de 39°C a 40ºC, que começa de repente);
  • Dor de cabeça;
  • Dor atrás dos olhos (retro-orbitária);
  • Fotofobia (sensibilidade à luz);
  • Cansaço forte (astenia);
  • Dor muscular (mialgia);
  • Dor articular (artralgia).

Também podem surgir:

  • Manchas vermelhas na pele (exantema), com ou sem coceira;
  • Perda de apetite;
  • Náuseas e vômitos;
  • Diarreia.

As complicações e sequelas da dengue costumam ser mais raras e ocorrem em indivíduos que foram anteriormente infectados por mais de um dos outros sorotipos.

Os sinais de alerta para a dengue grave são:

  • Dor abdominal intensa e contínua;
  • Vômitos persistentes;
  • Aumento do volume do fígado (hepatomegalia);
  • Diminuição excessiva da temperatura (hipotermia);
  • Manifestações hemorrágicas (como sangramento na gengiva, presença de sangue nas fezes ou pontos vermelhos na pele, chamados petéquias);
  • Sonolência ou irritabilidade;
  • Diminuição da frequência urinária;
  • Desconforto para respirar;
  • Queda da pressão arterial, tontura ou desmaio.

Já foram relatados casos de alterações neurológicas graves, amputações, hepatite, disfunção cardiorrespiratória, meningite e sangramentos em diferentes órgãos do corpo.

Além disso, a dengue pode provocar uma condição chamada de síndrome de Guillain-Barré, um distúrbio autoimune que atinge o sistema nervoso. Na maioria das vezes, ele surge após um processo infeccioso e provoca fraqueza muscular e até mesmo ausência de reflexos.

O caso de Natacha é raro e incomum. Poucas vezes ouvimos falar de pessoas que são infectadas por dengue duas vezes em um curto espaço de tempo. Isso pode ter agravado a situação da paciente. Claudia Maruyama, infectologista da Rede de Hospitais São Camilo (SP).

Veja como prevenir a dengue

Sempre é importante lembrar que é possível prevenir a dengue ao evitar a procriação do seu vetor. O Aedes aegypti busca reservatórios de água parada para que as fêmeas depositem os ovos. Por isso, não é recomendado deixar a água armazenada sem necessidade.

As principais medidas de prevenção da dengue são:

  • Tampar a caixa d'água e lixeiras;
  • Colocar areia nos pratos de plantas;
  • Cobrir piscinas, tapar os ralos e baixar as tampas dos vasos sanitários;
  • Virar garrafas e recipientes que acumulam água;
  • Trocar a água dos animais de estimação e lavar as vasilhas com regularidade;
  • Use repelentes ao sair de casa, principalmente de dia;
  • Tampar ou cobrir todos os reservatórios de água.

Referências: OMS (Organização Mundial de Saúde) e Ministério da Saúde.