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Inspiração pra fazer da atividade física um hábito


Não é o que você pensa: por que jogadores cospem líquido que bebem em jogo?

Alisson, goleiro do Brasil, bebe líquido durante jogo da Copa do Qatar 2022 - Li Ming/Xinhua
Alisson, goleiro do Brasil, bebe líquido durante jogo da Copa do Qatar 2022 Imagem: Li Ming/Xinhua

De VivaBem, em São Paulo

29/11/2022 10h34

Um jogador de futebol leva uma garrafa à boca, esguicha a bebida e, logo em seguida, cospe o líquido no gramado. Quem vê pensa que o atleta está apenas se refrescando com água durante os intervalos do jogo. Mas é possível que a cena, comum em campeonatos como a Copa do Mundo, seja o registro de uma estratégia nutricional conhecida como "enxágue com carboidratos" (ou "carb rinsing", em inglês).

A técnica, considerada frequente entre atletas que praticam esportes de longa duração, é exatamente o que sugere seu nome: enxaguar a boca com uma solução de carboidratos —mas sem engoli-la. O objetivo, segundo nutricionistas, é "enganar o cérebro" para melhorar o desempenho físico.

A explicação por trás do truque está na boca. Na cavidade oral, existem receptores de carboidratos que, ao identificarem o nutriente, são capazes de ativar áreas do nosso cérebro relacionadas à recompensa e ao prazer, explica Humberto Nicastro, nutricionista especializado em medicina esportiva da clínica Care Club (SP).

"Quando você bochecha o carboidrato e cospe, é ativada a área de prazer, de bem-estar e de recompensa do cérebro, então ele entende que há mais energia a caminho e você dá aquela revigorada", resume Nicastro. "É uma busca pelo aumento do rendimento através da ativação do sistema nervoso central".

Bochechar o carboidrato sem engolir também é visto como uma alternativa útil para atletas que relatam sentir algum desconforto gastrointestinal após a ingestão do nutriente durante exercícios de alta intensidade —como é o caso do futebol.

Enxágue não substitui reposição de energia

Jogadores da Sérvia bebem líquido durante jogo da Copa do Qatar 2022 - Andrej Isakovic/AFP - Andrej Isakovic/AFP
Jogadores da Sérvia bebem líquido durante jogo da Copa; será que é água ou não?
Imagem: Andrej Isakovic/AFP

Desde o início dos anos 2000, numerosos estudos investigaram os efeitos de bochechar carboidratos, com a maioria demonstrando um aumento no desempenho físico, mas nem todos.

Em artigo para o VivaBem, Guilherme Giorelli, nutrólogo e coordenador da pós-graduação em nutrologia do Hospital Albert Einstein, explica que a maioria das pesquisas feitas até o momento indicam que bochechar líquido com carboidrato por 5 a 10 segundos pode melhorar o desempenho em exercícios de alta intensidade, com duração de 30 a 70 minutos.

Embora os benefícios da prática sejam bastante claros para a resistência na corrida, ainda não se sabe se a estratégia seria capaz de melhorar habilidades específicas do futebol, como driblar, chutar e cabecear.

Existem estudos que mostram efeitos positivos no drible, passe e tempo, e outros que não mostram efeitos.

Também não foi descoberta a quantidade ideal de carboidratos que deve ser ingerida para ganhar um impulso, nem a duração dos resultados da técnica.

É claro que apenas o enxágue de carboidratos não pode sustentar os jogadores por um período de tempo indefinido.

"A partir do momento em que você bochecha e cospe, você deixou de ingerir o carboidrato, então você não está guardando energia dentro do seu corpo. Você pode até ter uma revigorada, mas não cria base energética, porque não engoliu o carboidrato", explica Humberto Nicastro.

O nutriente deve ser ingerido à medida que o combustível usado pelos músculos se esgotam. Caso contrário, os jogadores acabarão ficando sem fonte de energia.

O que é o enxágue?

Mbappé cospe líquido durante jogo na Copa do Qatar 2022 - Franck Fife/AFP - Franck Fife/AFP
Será que Mbappé está cuspindo água ou uma solução de carboidrato? Vai saber...
Imagem: Franck Fife/AFP

Segundo Nicastro, normalmente a solução utilizada nesses casos é à base de maltodextrina, um carboidrato simples que é comercializado como suplemento energético na forma de pó para preparo de bebidas e também na forma de gel e balas de goma, além de entrar na composição de isotônicos e de alguns produtos proteicos para ajudar na recuperação pós-treino.

O gel de carboidratos, exemplifica o nutricionista, geralmente é utilizado por atletas durante o treino para repor o nutriente de forma rápida e sem gerar desconfortos gastrointestinais.

É o conteúdo calórico, e não sua doçura, que seria capaz de ativar áreas do cérebro.

"Se um atleta bochechar água com adoçante, por exemplo, a solução é doce, só que não tem caloria, então não ativa área de recompensa do cérebro. Dentro da boca tem receptores que identificam exatamente o que é calórico e o que não é, então não adianta a solução ser meramente doce", explica.