Jovem tem AVC aos 23 e relato viraliza: 'Achei que só dava em mais velhos'
Na última sexta-feira (25), Bruna Aguiar Machado, 23, relatou ter sofrido um AVC (acidente vascular cerebral). Em uma sequência de vídeos publicados em seu perfil no TikTok, a jovem contou sobre o ocorrido e fez um alerta para que as pessoas procurem um hospital assim que começarem os sintomas.
Ela contou que no dia 12 de novembro, enquanto realizava um treino na academia, começou a passar mal, sentindo tontura forte. "Eu normalmente sinto tontura, porque tenho pressão baixa e tenho problema no labirinto. Normalmente quando sento, ela passa, mas dessa vez não passou". Bruna começou a perder os sentidos e ficou em pânico. Ela foi até o banheiro porque começou a ter enjoo e se deitou no chão até se sentir bem.
No fim da tarde, ela começou a passar mal de novo. "Me deu tontura, visão toda branca com umas bolinhas, fiquei uma hora assim até voltar a me sentir bem. depois fui até a casa de uma amiga, como se nada tivesse acontecendo e lá comecei a sentir uma forte dor nas costas", disse. O incômodo irradiou até o braço e o pescoço. "O braço formigava muito, subia para a cabeça e formigava o pescoço e a cabeça."
Bruna foi até o pronto-socorro, mas não foi diagnosticada com nada, que poderia ser dor muscular. Durante dois dias ela sentiu dor no pescoço e de cabeça. "Fiquei tomando analgésico, mas na madrugada de segunda para terça meu braço queimava, meu olho começou a doer e não conseguia mais engolir. Achei que ia morrer engasgada."
A jovem contou que ficou cuspindo em um saquinho porque não conseguia engolir mais. O rosto inchou e seu olho ficou um pouco caído. Ela voltou ao pronto-socorro à noite. A suspeita, dessa vez, era esclerose múltipla e ela foi internada. Ao fazer os exames, diagnosticou-se um AVC.
Embora não tenha tido perdas significativas nos movimentos, ela ainda sente queimação no braço, a mão e o pé esquerdos ficam gelados, além de dores no pescoço, atrás do olho e na cabeça. De acordo com o relato de Bruna, o que gerou seu AVC foi um trauma.
"Para mim, AVC era uma coisa que só dava em pessoas mais velhas e era algo com que você morre [sic], muito grave. Quando falou 'você teve um AVC', eu entendi que eu morri. Foi um susto muito grande."
"Foram seis dias de UTI, mais um e meio no quarto, mas agora já está tudo bem. Tenho que tomar muito cuidado, ficar um mês de repouso", disse. Ela está tomando anticoagulante e remédio para dor, por causa da queimação.
O que causa um AVC?
O cardiologista Ausonius Sawczuk diz que um AVC é causado quando há uma interrupção ou alteração do fluxo do sangue em uma determinada região do cérebro. Existem, basicamente, dois tipos:
- Isquêmico: quando há o entupimento de um vaso sanguíneo, devido ao acúmulo de placas de gordura em suas paredes. Ou então quando um coágulo migra para um vaso sanguíneo cerebral e limita o fluxo de sangue, o que vai "matando" as células que não recebem nutrição.
- Hemorrágico: quando um vaso sanguíneo ou artéria se rompe, causando vazamento do sangue na região e interrompendo o fluxo sanguíneo apropriado. Dependendo de onde foi a ruptura do vaso, é possível que haja maior, menor ou nenhuma sequela.
O AVC é, normalmente, consequência das principais doenças relativas ao coração e aos vasos sanguíneos. São elas: hipertensão, diabetes, colesterol elevado, tabagismo, sedentarismo, obesidade e alterações das gorduras do sangue, conhecida como dislipidemia.
Mas algumas pessoas nascem com pré-disposições genéticas para ter doenças cardiovasculares. Existe também a MAV (Malformação Arteriovenosa), que pode predispor a sangramentos, obstruções e distúrbios de coagulação, que podem causar coágulos no cérebro.
De acordo com Wanderley Cerqueira de Lima, neurocirurgião e neurologista, o caso de Bruna não é raro e pode ocorrer em pacientes jovens. Ele diz que o derrame por vezes acontece subitamente, sem sintomas prévios.
Sawczuk diz que, quando se trata de pacientes jovens, geralmente, há a associação a doenças genéticas, como distúrbios de coagulação, doenças imunes, autoimunes, inflamatórias agudas, má formação de artérias e uso de substâncias químicas. Já em pessoas mais idosas, a pressão alta não controlada aumenta o risco, principalmente do hemorrágico.
Como descobrir um AVC?
O cardiologista explica que, de forma geral, os sintomas iniciais de um AVC podem ser tontura, desmaios, síncope, mal-estar, alteração visual, de fala, dificuldade motora, entre outros. E o neurologista complementa que, para um diagnóstico completo, independentemente da idade do paciente, é preciso avaliar sua força, fala e face. Por isso, pode ser necessária uma angiorressonância da cabeça e dos vasos do pescoço.
Lima conta que um sinal de alerta para que o paciente busque um médico são as dores, principalmente na região cervical.
Como é a recuperação
O cardiologista reforça que os danos posteriores mudam dependendo da localização do acidente. Se o AVC for em uma área motora, o paciente pode ter dificuldades motoras, e se for em uma área grande do cérebro, o dano pode ser maior do que em uma área menor.
De forma geral, quanto maior for o AVC e mais nobre artéria comprometida, pior será a sequela. "Por exemplo, se o AVC for motor e tiver acometimento menor, os impactos podem ser menores como formigamento e parestesia. Porém, se for maior, a pessoa pode perder o movimento", diz o especialista.
Bruna teve dificuldade para engolir, a chamada disfagia, e precisou de auxílio de uma fonoaudióloga para a recuperação. Segundo a fisioterapeuta Milene Vieira Cardono, nesses casos, uma fonoaudióloga é a profissional mais recomendada para atuar.
Ela reforça também a importância da fisioterapia para quem sofre algum trauma, a fim de tornar a pessoa o mais funcional possível novamente, visando a melhora em sua qualidade de vida em diferentes faixas etárias.
"No caso da jovem, ela ainda sente sensibilidade ao toque na parte do ombro, e sensibilidade neural, que é a sensação de frio nas mãos e pés. A fisioterapia consegue ajudar com a dessensibilização desses membros. Por ser um acometimento neural, pode demorar um tempo, mas um fisioterapeuta consegue ajudar e reabilitar o paciente", diz Cardoso.
O neurologista reforça que o tratamento, assim como relata Bruna, consiste em uso de anticoagulantes. Posteriormente, pede-se para evitar movimentos súbitos e traumas na movimentação do pescoço.
Em relação aos hábitos para uma saúde melhor, e a fim de evitar um AVC, é preciso estar atento à pressão sanguínea, tratar doenças de base como hipertensão, diabetes, colesterol, tabagismo e sedentarismo, fazer atividades físicas e tratar doenças autoimunes como lúpus. Saber do histórico familiar pode ajudar também. Além disso, sempre buscar um médico caso haja sintomas.
Fontes: Ausonius Sawczuk, cardiologista do Hospital Albert Sabin; Wanderley Cerqueira de Lima, neurocirurgião e neurologista do Hospital Albert Einstein e Rede D'Or e diretor do WCL Neurocirurgia; Milene Vieira Cardoso, fisioterapeuta formada pela UniNorte (Universidade do Norte), especialista em terapia intensiva, atualmente trabalha no Centro de Fisioterapia da Samel, em Manaus (AM).
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