'Como se um leão estivesse na minha sala': o que é a crise de pânico?
Medo, angústia, dor, sofrimento, congelamento. As sensações de uma crise de pânico podem ser nomeadas de diferentes formas por quem já passou pela experiência. Geralmente, acontece em período curto, de ansiedade abrupta, causando sintomas desconfortáveis, intensos e limitantes como tremores, tontura, coração acelerado, falta de ar, sensação de sufocamento ou até mesmo náusea e vômito.
A crise de pânico é desencadeada, do ponto de vista neurobiológico, pela estimulação da via cerebral do processamento do medo. Em termos práticos, "é quando o copo transborda". É assim que o médico de família e presidente do Departamento Científico de Medicina de Família da Associação Paulista de Medicina, Renato Walch, define a condição de saúde.
"Uma crise de pânico não tem hora ou motivo para começar. Dependendo da situação, qualquer pessoa pode ter uma reação dessa. Contudo, ela pode ser mais recorrente em pessoas que estão vivendo um momento frágil como esgotamento, traumas ou transtornos de saúde mental não tratados, como a ansiedade. Situações que servem como pano de fundo para a crise", explica.
Um ataque de pânico pode acontecer uma única vez ou de forma recorrente, sendo assim, é classificado como um transtorno de saúde mental associado à ansiedade. A maior parte das crises iniciam-se a partir de estímulos intrapsíquicos, como preocupações repetitivas de algo acontecendo na vida cotidiana. A crise em si pode chegar a devaneios excessivos ou sintomas intensos que precisam de assistência médica imediata.
"Em uma crise de pânico, como a sensação de ameaça ou morte iminente é alta e os sintomas são latentes, muitas vezes a pessoa busca serviços de saúde com a convicção de ter um problema cardíaco, e não psíquico", explica o médico psiquiatra Alaor Carlos, coordenador do serviço de psiquiatria do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
De acordo com o especialista, a prevalência do transtorno de pânico na população está em torno de 3%. Embora seja possível, é rara a presença de crises em crianças, sendo mais comum a partir da adolescência e tendo o maior pico no início da vida adulta, com maior prevalência em mulheres.
"A grande maioria das pessoas associa dificuldades no convívio interpessoal e a falta de bem-estar físico com o surgimento dos episódios, sendo a vivência do estresse um importante fator no desencadeamento das crises", aponta o médico.
Outros aspectos também podem influenciar. Segundo o psiquiatra, relatos de abuso infantil são mais comuns em pessoas com transtorno de pânico do que em outros quadros ansiosos. Fumar também foi elencado como fator de risco.
Como acontece uma crise de pânico?
O corpo está a todo momento sondando o mundo externo e interior (como a mente e os pensamentos) e avaliando se há algum tipo de risco imediato. Quando esse risco é reconhecido, o corpo ativa o sistema de fuga e luta, uma reação fisiológica que o prepara para enfrentar uma ameaça e agir o mais rápido possível para se proteger.
No entanto, algumas vezes, o disparador dessa reação não é claro, ou não justificável (uma vez que não traz um risco iminente real), de modo que as reações físicas que surgem para proteger acabam por, na verdade, atrapalhar e causar imenso sofrimento.
Se um leão entra na minha casa, meu cérebro está pronto para reagir e dispara uma cascata de sensações associadas à adrenalina para fugir ou lutar com essa ameaça. Na crise de pânico, é como se o leão estivesse na minha sala, sem ele estar. Essa desconexão culmina na sensação de estar morrendo, adoecido ou perdendo a sanidade. Lucas Giustra Valente, médico psiquiatra do Hospital das Clínicas de Botucatu e coordenador do Ambulatório de Transtornos Ansiosos e Obsessivo-Compulsivos.
De acordo com Valente, a crise de pânico com intensos sintomas físicos pode durar em média 10 minutos. Mas pacientes já relataram que a experiência parece durar muito mais que isso. A ciência explica essa sensação: é frequente que, após uma crise de pânico, o sistema que gerencia a ansiedade fique fragilizado por um espaço de tempo maior, dando a percepção que a crise durou horas.
A forma mais fácil de prevenir é fazer o que gosta
O tratamento da síndrome do pânico pode envolver medicamentos, sugeridos por um psiquiatra, ou acompanhamento psicoterapeutico, ou até mesmo com a junção de ambos. Mas o grande divisor de águas para os especialistas é a prevenção e ficar atento aos sinais.
Segundo Valente, uma primeira crise pode ser muito assustadora, e, por vezes, culmina em consequências mais duradouras. Dessa maneira, os especialistas apontam que é importante estar atento ao nível diário de preocupações e estresse, assim como o modo de lidar com esses sentimentos.
"Há a atual robusta evidência científica do benefício de práticas meditativas, como exercícios de respiração, mindfulness e ioga, tanto para o controle de crises quanto para tratamento e prevenção, para que a pessoa possa entender mais sobre suas emoções de modo geral", explica Valente.
O médico reforça que hábitos de vida mais saudáveis, com equilíbrio da alimentação e prática regular de exercícios físicos, além de auxiliar no controle de doenças crônicas como hipertensão e diabetes, têm ação direta sobre os processos neurobiológicos e hormonais que gerenciam a ansiedade.
Walch, médico de família, lembra a importância do lazer para prevenir o adoecimento mental e mitigar os riscos de uma crise de pânico. "Precisamos incluir na rotina uma atividade que dê prazer, prazer em viver. Não precisa ser exatamente um esporte. Pode ser simplesmente ir ao cabeleireiro, parar para fazer uma leitura, ouvir música, estar com quem você gosta. Um momento que seja seu e que você possa extravasar da rotina estressante."
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