É melhor usar All Star e outros tênis de sola baixa para treinar pernas?

É cada vez mais comum ver nas academias ou em redes sociais pessoas fazendo exercícios (principalmente para as pernas) com tênis que não foram desenvolvidos para treinar, como All Star, Vans e outros modelos de "sola reta".

O argumento é que, por não ter o calcanhar mais alto que a ponta do pé (como tênis de corrida), esses calçados garantem maior estabilidade ao levantar peso e não interferem na biomecânica do corpo. Mas será que é mesmo mais vantajoso usar modelos casuais na academia?

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• Tênis de sola reta garantem, sim, maior estabilidade para fazer os exercícios de musculação, em comparação a modelos com maior drop (diferença de altura entre a ponta do pé o calcanhar), segundo especialistas ouvidos pelo VivaBem. Isso possibilita o uso de cargas maiores.
• Usá-los permite uma maior flexão dos joelhos e menor amplitude do movimento do tronco em certos exercícios, como agachamento e levantamento terra. Desse modo, a ativação muscular aumenta.
• Treinar com esses calçados trabalha mais a propriocepção e aumenta a exigência da musculatura intrínseca dos pés, fortalecendo-a.

Vantagens não fazem tanta diferença para praticante comum

Segundo os especialistas consultados, as vantagens acima trazem ganhos pequenos para o treino. Por isso, não são tão importantes para atletas amadores, que treinam por lazer, saúde e bem-estar e não levantam cargas perto do limite —grande parte das vezes, na verdade, estão bem longe disso.

• Para o praticante comum, o mais importante para ter bons resultados é a regularidade nos treinos.
• As vantagens de treinar com um tênis de solado reto são mais determinantes para atletas profissionais, que treinam com grande carga, perto do limite da capacidade física --e qualquer ganho mínimo pode levar a uma vitória ou a um recorde.
• Para o atleta amador, o uso de um tênis desenvolvido para a atividade física (musculação, caminhada, corrida ou similar) já vai permitir ganhos satisfatórios na academia.

RESUMO DA HISTÓRIA: apesar de ter vantagens, treinar com um calçado de solado baixo é a "cereja do bolo". Antes disso, há muitas outras coisas com que você deve se preocupar para ter melhores resultados: regularidade no treino, boa alimentação, dormir bem, ter uma rotina de exercícios bem planejada etc.

Quer usar um tênis "reto"? Há opções melhores que seu All Star

Nada contra o seu All Star, Vans ou modelo similar, mas eles não foram desenvolvidos para treinar.

• Esses tênis não oferecem características importantes para a prática de exercícios, como ser flexível, ter boa aderência, não ter costuras em certos pontos e contar com proteção extra em áreas de maior atrito com os pés.
• O uso de calçados não apropriados pode gerar bolhas, machucar a pele ou provocar dores em curto e longo prazo.
• Treinar com esses modelos vai fazer com que eles estraguem rapidamente. Como não foram feitos para treinar, esses modelos não contam com peças, cola ou costuras reforçadas em áreas que sofrem maior pressão, como bico, calcanhar e laterais. Por isso, partes podem rasgar, descolar, descosturar ou entortar logo.

Atualmente, há no mercado diversos tênis desenvolvidos para o treinamento de força (musculação, funcional, CrossFit). Além de sola reta (ou quase), eles contam com as características apontadas acima (flexibilidade, reforço em áreas estratégicas, aderência etc.) e são mais apropriados para usar na academia do que seu All Star ou Vans (preserve-os para o passeio de fim de semana, o trabalho).

Esses calçados para treino de força tendem a ser mais baratos do que os de corrida, pois não precisam de tantas tecnologias (caras) para oferecer amortecimento —já que musculação não é um exercício de alto impacto como a corrida.

Outra coisa importante na hora de escolher um tênis é, com orientação de um profissional de educação física, avaliar o seu treino por completo para escolher o modelo mais apropriado. Se no mesmo dia você faz musculação e corre na esteira, por exemplo, talvez precise de um tênis com um pouco mais de amortecimento.

Fontes: João Libardoni, profissional de educação física, doutor em ciências do movimento humano, docente e diretor da FEFF (Faculdade de Educação Física e Fisioterapia) da UFAM (Universidade Federal do Amazonas); Rodrigo Albuquerque, profissional de educação física, mestre em ciências da saúde, docente do IEFE (Instituto de Educação Fìsica e Esporte) da UFAL (Universidade Federal de Alagoas); Ícaro Carvalho, mestre em educação Física, presidente da APEF-PE (Associação dos Profissionais de Educação Física de Pernambuco).