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Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


Ela fez feminização facial: 'Fiquei mais confortável em lugares públicos'

Rafaela Manfrini queria suavizar os traços masculinos - Arquivo pessoal
Rafaela Manfrini queria suavizar os traços masculinos Imagem: Arquivo pessoal

Janaína Silva

Colaboração para VivaBem

08/12/2022 04h00

Rafaela Manfrini de Oliveira é uma mulher trans, maquiadora, modelo e vive em Dublin, na Irlanda. Quando morava no Brasil, passou por intervenções cirúrgicas na testa, no nariz, no queixo e no pomo de adão. Ela conta que quando as fez sabia muito bem o que queira: suavizar os traços masculinos e, com isso, ter uma vida menos constrangedora. Abaixo, ela conta sua história:

"Essas cirurgias iriam mudar minha forma de lidar comigo mesma. Sabia que teria uma vida mais tranquila, enfrentando menos olhares desconfiados com minha aparência andrógena.

O resultado foi como imaginei e passei a me sentir mais confortável para frequentar lugares públicos, como restaurantes e até o banheiro feminino.

Antes, presumia que todos os olhares direcionados fossem por conta da minha aparência. Hoje, sei que atraio olhares por me considerarem interessante. Sinto-me mais segura para entrar e sair de qualquer lugar, isso fez toda a diferença em diversas áreas da minha vida: profissional, amorosa e social.

As interferências visam melhorar o seu olhar para si mesma. Sentindo-se bem, naturalmente, o mundo entra em sintonia com você.

Em relação à estética, não é mudar a aparência, mas suavizar os traços. Assim que fiz os procedimentos, ninguém percebia que havia feito plástica, mas diziam que eu estava diferente, com um olhar mais leve e doce.

Infelizmente, ainda existe muita desinformação a respeito da feminização. Muitas acreditam que é uma operação de grandes mudanças estéticas, mas ela não faz milagres e, sim, ajuda a trazer feminilidade. Nem sempre proporciona o que muitas trans buscam, que é a beleza estética.

Rafaela Manfrini 1 - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Rafaela diz que, após cirurgias, se sentiu mais confortável para estar em público
Imagem: Arquivo pessoal

Nós, mulheres trans, buscamos essa cirurgia para ajudar no que chamamos de disforia, que faz com que nós não consigamos nos ver da forma que deveríamos, fazendo com que muitas procurem tratamentos e procedimentos com resultados chocantes.

A construção social é um fator que nos atrapalha muito. Muitas vezes, visando colocar em pauta novas intervenções, preenchimentos e tratamentos que nem sempre combinam com a pessoa que irá realizar, fazem com que os resultados nem sempre sejam harmônicos e, às vezes, se tornam aberrativos.

Por isso, com frequência, somos colocadas como referência do ridículo. Quando as pessoas acham mulheres plastificadamente exageradas, logo falam que estão parecidas com travestis, e esse é um dos motivos que muitas meninas buscam a plástica como subterfúgio para uma vida mais tranquila.

O acompanhamento psicológico é fundamental para que as cirurgias plásticas sejam aliadas e não inimigas. A mudança tem que ser de dentro para fora."

Confirmação de gênero facial

Projetar as maçãs e os lábios, suavizar o contorno da testa e das têmporas, alterar a projeção e o contorno do nariz, reduzir o pomo de adão são algumas alterações que podem ser feitas com o objetivo de deixar os rostos das mulheres trans com traços mais delicados e femininos.

Suzy Vieira, cirurgiã plástica que atua nas áreas de cirurgia estética, reparadora e cosmiatria, membro da SBCP (Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica) e da SBLMC (Sociedade Brasileira de Laser), mestre em cirurgia plástica pela USP (Universidade de São Paulo), explica que é possível realizar, também, procedimentos envolvendo a estrutura óssea para retrusão do queixo (mentoplastia), atenuação da projeção da testa (reconstrução fronto-orbitária), implantes capilares e correção de áreas de calvície, laser para remoção de pelos e elevação dos supercílios.

"As cirurgias de confirmação de gênero facial são definidas criteriosamente, verificando-se a necessidade, com análises individuais", esclarece Moises Wolfenson, cirurgião plástico e professor de nedicina da Uninassau (Centro Universitário Maurício de Nassau), de Olinda (PE).

Além disso, os procedimentos não são realizados todos de uma única vez. "De maneira geral, por questões de segurança, uma cirurgia não deve ultrapassar 5 horas. Certamente não será possível, por exemplo, incluir microtransplante de cabelo, pois isolado já tem essa duração. Já mentoplastia, ângulo mandibular e região zigomática [maçã do rosto] podem ser conjugadas no tempo seguro", explica Wolfenson.

Segundo ele, a atuação é conjunta entre cirurgião plástico e os demais profissionais envolvidos, como endocrinologista (hormônios), foniatras (tratamento da voz), buco-maxilo-facial (mordida cruzada). "Todos trabalham na mesma direção: o bem-estar dos pacientes."