Medo de voar de avião impediu viagem de Ano-Novo: 'Senti pavor e desisti'
Passagens, hotel, passeios e a oportunidade de voar de avião pela primeira vez. Tudo isso, Maura Simões, 63, de Uberaba (MG), perdeu por cancelar de última hora, já no check-in, uma viagem que faria para comemorar o Ano-Novo de 2012, em Salvador (BA). "Eu iria sozinha e encontraria umas amigas por lá, mas, de última hora, senti um pavor do avião e desisti", diz.
Situação parecida aconteceu com Michel Rachid, 31, de São Paulo, em 2018. Perto de sair de casa para o aeroporto, ele, que duas semanas antes começou a ter insônia por causa do medo de avião, foi atormentado por pensamentos de acidentes aéreos. "Envolviam quedas no mar, porque estava indo para Cancún", diz. Michel, entretanto, foi convencido a ir mesmo assim: "Meus primos me arrastaram com eles".
Em comum, as experiências relatadas por Maura e Michel decorrem do que os especialistas em saúde mental chamam de aerofobia. O medo de voar, seja em avião, helicóptero ou planador, é intenso e pode vir acompanhado de sintomas como suor excessivo, tremores, taquicardia, falta de ar, distúrbios gastrointestinais, fraqueza, desespero.
Sempre é aerofobia?
A aerofobia se caracteriza por um desconforto quase insuportável de estar ou se imaginar dentro de um avião, que não é visto pelo medroso como uma tecnologia avançada e repleta de vantagens. Pelo contrário, na mente dele é perigosa, já que se move no vazio, em altíssima velocidade e a quilômetros de altura, e não oferece a ele nenhum controle sobre sua situação.
Mas existe uma enorme gama de fobias específicas, entendidas como subtipos de ansiedade e que podem se manifestar dentro do avião por motivos variados, podendo ou não estarem relacionadas com a aerofobia, explica Eduardo Perin, psiquiatra e especialista em terapia cognitivo-comportamental pelo HC-USP (Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo).
"O desconforto dentro da aeronave pode ser por uma claustrofobia (medo de se permanecer em ambientes fechados ou com pouca circulação de ar) ou agorafobia, que é o medo de passar mal perto de pessoas com as quais não se tem intimidade e por isso não ser socorrido. Há ainda a acrofobia (medo de altura) e a antropofobia (medo social, de estar entre pessoas)", diz Perin.
Traumas, inseguranças e transtornos
Para Maura, o medo de viajar de avião, naquele momento, surgiu por estar desacompanhada e em um momento novo e apreensivo, que ela compara com estar na fila de uma montanha-russa. Michel, por sua vez, já havia viajado outras vezes de avião, mas, nas últimas, assustou-se bastante com fortes turbulências e com um voo que, prestes a pousar, arremeteu subitamente.
"Mesmo quem já voou dezenas de vezes pode desenvolver aerofobia, por ter vivenciado um trauma, visto alguma notícia ou ouvido o relato de alguém próximo. Numa primeira viagem também é comum o receio e a apreensão pelo que está por vir", aponta Yuri Busin, psicólogo e doutor em neurociência do comportamento pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP).
Entretanto, Busin acrescenta que é para se considerar ainda a presença de transtornos, como de ansiedade generalizada, obsessivo-compulsivo, ou TOC, depressão e crise de pânico. Porém, ainda assim é difícil saber se o transtorno é a causa ou a consequência do medo de avião, que também pode ter gatilhos não tão claros.
Acalme-se e busque tratamento
Quando se tem aerofobia, para evitar estresse, atrasos e não estragar sua viagem e a dos outros, é indicado de antemão procurar ajuda de psicólogos e psiquiatras. Agora, se o mal-estar se manifestar no momento do embarque ou durante o trajeto, o jeito é comunicar as pessoas próximas, o que inclui os comissários de bordo, e tentar se acalmar.
"Uma estratégia é deixar a respiração mais profunda e lenta, principalmente a saída do ar", informa Leide Batista, psicóloga pela Faculdade Castro Alves, em Salvador (BA). Ou então, respirar em um saco de papel, sem tirar o rosto, para que o gás carbônico expelido em excesso retorne e estabilize com o pH do sangue, as frequências cardíaca e respiratória e os sintomas.
Também vale buscar a companhia de alguém sem o mesmo medo, como faz Michel e, mais recentemente, aprendeu Maura, que com essa tática começou a voar, embora ainda não se sinta tão à vontade em decolagens e aterrissagens. Se nada disso funcionar, eventualmente, com prescrição médica, pode ser necessário fazer uso pontual de medicamentos que relaxem.
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