Pesquisa indica redução da confiança na ciência e nas vacinas no Brasil
A maioria da população brasileira confia na ciência, embora, em tempos de pandemia, a confiança tenha diminuído. Existe uma percepção e atitudes positivas sobre vacinação de modo geral e, em particular, em torno dos imunizantes contra a covid-19, vistos como seguros, eficazes e importantes para proteger a saúde pública e acabar com a pandemia.
Esses são alguns dos resultados do estudo Confiança na ciência no Brasil em tempos de pandemia, conduzido pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Comunicação Pública da Ciência e da Tecnologia (INCT-CPCT), com sede na Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz), divulgado nesta segunda-feira (12).
Os cientistas, especialmente aqueles de universidades e instituições públicas, também têm imagem positiva, sendo percebidos como honestos e responsáveis. Realizado por meio de entrevistas domiciliares, pessoais e individuais, o estudo aponta ainda que a maioria dos brasileiros acredita que as mudanças climáticas estão acontecendo e têm como causa a ação humana.
Por outro lado, acredita-se que os cientistas permitiram que ideologias políticas influenciassem suas pesquisas sobre o coronavírus durante a pandemia. Mesmo assim, os brasileiros parecem não ter dúvidas sobre os benefícios associados ao desenvolvimento científico. Apenas uma minoria (3,5%) afirma que a ciência não traz "nenhum benefício" para a humanidade.
No total, foram entrevistadas 2.069 pessoas com 16 anos ou mais, entre agosto e outubro deste ano. A margem de erro da pesquisa é de 2,2%, em um intervalo de confiança de 95%.
Os pesquisadores responsáveis observam que a atitude das pessoas sobre a ciência, as vacinas e as mudanças climáticas não depende apenas do conhecimento que possuem, mas também de valores, posicionamentos morais e visões políticas.
Na avaliação deles, a percepção majoritariamente positiva do público sobre a ciência e os cientistas, bem como a falta de evidências da existência de um movimento organizado de "negacionistas da ciência" no país, são achados importantes para orientar estratégias mais efetivas de combate à desinformação. De forma semelhante, ressaltam, "o interesse pelo tema e a expectativa de benefícios para a população a partir da ciência, como qualidade de vida, oportunidades de emprego, equidade social, podem facilitar processos de aprendizado e apropriação social do conhecimento."
Principais resultados
A maioria dos entrevistados (68,9%) declarou confiar ou confiar muito na ciência. A confiança não é considerada baixa, mas é menor do que indicam pesquisas recentes, como o Índice do Estado da Ciência, feito pela empresa 3M (EUA) em 2022, que apontou um índice de 90% na afirmação "eu confio na ciência". Segundo os pesquisadores, a confiança "parece ter sido afetada negativamente por campanhas organizadas de desinformação, que cresceram em quantidade e impacto durante a pandemia de covid-19". Apesar disso, eles recomendam cautela com comparações desse tipo, que podem não ser precisas "devido a diferenças na formulação das perguntas ou na apuração dos resultados".
A pesquisa mostrou ainda que os cientistas estão entre as fontes de informação que mais inspiram confiança nos brasileiros e brasileiras. Dentre uma lista de profissionais previamente fornecida, as escolhas mais frequentes de fontes confiáveis de informação foram:
- Médicos (60,1%),
- Cientistas (47,3%, dos quais 30,6% cientistas de universidades ou institutos públicos de pesquisa e 16,7% cientistas que trabalham em empresas); e
- Jornalistas (36,4%).
- Artistas e políticos são aqueles citados com menor frequência (1,5% cada).
Vacinas
A pesquisa também mostrou atitudes positivas tanto com relação à vacinação em geral quanto às vacinas contra a covid-19. As vacinas são:
- Consideradas importantes para proteger a saúde pública (segundo 86,7% dos entrevistados);
- Percebidas como seguras (75,7%);
- E necessárias (69,6%).
Por outro lado, a maior parte (46,4%) concorda que elas produzem efeitos colaterais que são um risco e há desconfiança em relação às empresas farmacêuticas que, para 40% dos que responderam à pesquisa, esconderiam os perigos das vacinas.
Especificamente sobre as vacinas contra a covid-19, a maior parte dos entrevistados reconhece sua ajuda para acabar com a pandemia e para proteger das formas severas da doença, além de considerá-las eficazes e seguras. Para 46,7% dos entrevistados, o governo federal forneceu informações falsas sobre a vacina contra a covid-19.
Hesitação vacinal
Cerca de 13% dos entrevistados declaram não pretender tomar doses de reforço da vacina contra a covid-19 e quase 8% dos que têm filhos ou menores sob sua responsabilidade declaram não ter a intenção de vaciná-los.
O perfil desta minoria foi traçado: os autores do estudo descobriram que, "além do acesso ao conhecimento, eles são profundamente diferentes por sexo e por valores". A chance de recusar vacina aos filhos é muito maior entre os homens e cresce entre as pessoas que declaram que "o crescimento econômico e a criação de empregos devem ser prioridades máximas, mesmo quando a saúde da população sofra de algum modo".
A hesitação vacinal, segundo os dados, está em parte associada à escolaridade, à familiaridade com conceitos científicos e ao conhecimento de instituições científicas, sendo fortemente influenciada pelo grau de engajamento dos entrevistados na sociedade civil e na política, pelos posicionamentos econômicos e pelos valores.
A pesquisa indicou que "pessoas que declaram que os avanços econômicos devem ter prioridade sobre políticas de combate à desigualdade, ou que o mercado deve ter prioridade sobre a saúde, têm maiores chances de considerar elevado o risco das vacinas", assim como aquelas que "participam menos da política, ou que expressam valores de tipo sexista (os homens são melhores que as mulheres na política, ou na ciência, ou devem ter prioridade nos empregos)".
Nesses casos, o efeito da renda e da escolaridade não teve impacto no estudo.
Mudança climática
A população brasileira concorda, em sua maioria, que as mudanças climáticas estão acontecendo (91%). Apenas menos de 6% acham que elas não existem - mas a pesquisa indica que esse grupo é bastante diverso. A chance de um entrevistado declarar que não há mudança climática aumenta muito entre pessoas com baixa escolaridade, aquelas que priorizam a economia, não concordam com a paridade de gênero e aquelas que dizem não confiar na ciência ou cuja confiança na ciência diminuiu durante a pandemia.
Entre quem acredita que as mudanças climáticas estão acontecendo:
- 85,8% dizem que a causa é a ação humana;
- 12,4% acreditam que elas são provocadas por mudanças naturais do meio ambiente.
Já a opinião sobre os esforços nacionais para preservação do meio ambiente se divide: 30,6% concordam que o Brasil é um dos países que melhor preserva o meio ambiente e 42,8% discordam da afirmação.
Os dados mostram que os brasileiros também acreditam que as mudanças climáticas:
- Estão prejudicando a qualidade de vida no Brasil (78,3%);
- Podem prejudicar a si e a suas famílias (81%);
- E às próximas gerações (82,8%).
Mais detalhes estão disponíveis no sumário executivo da pesquisa.
*Com informações da Agência Fiocruz de Notícias
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