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Só em casa? Só na terra? Faz gripar? Mitos e verdades sobre andar descalço

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Marcelo Testoni

Colaboração para VivaBem

14/12/2022 04h00

Os primeiros calçados inventados pelos seres humanos datam de 10 mil a.C. e tinham como principal finalidade proteger os pés, como evidenciam pinturas registradas em cavernas. Gelo, calor, pedras, bichos peçonhentos e rastejantes, espinhos, sujeiras, tudo isso superamos com essa invenção, que com o tempo virou também um acessório de moda, com função social.

Por outro lado, com os sapatos, o andar descalço quase que virou um hábito antinatural, ideia reforçada especialmente após a Revolução Industrial e a criação dos transportes tecnológicos. Agora, nossa espécie, outrora tão andarilha, carrega tantas dúvidas sobre pôr os pés no chão que VivaBem, com ajuda de especialistas, decidiu reunir e elucidar as principais. Veja a seguir:

No frio ou piso gelado causa doenças respiratórias?

Mito. Não causa gripe, nem resfriado, que são doenças decorrentes da transmissão de vírus e bactérias entre pessoas, seja por meio de tosse, espirro, conversa, local fechado, mãos e objetos contaminados levados ao nariz, boca, olhos. Entretanto, a friagem pode enfraquecer o sistema imunológico, nos deixando vulneráveis a infecções, além de desencadear rinite.

Dentro de casa não há riscos como fora dela?

Mito. Claro que ao andar descalço na rua as possibilidades de se sujar, machucar, se expor a poluentes e metais e contrair doenças, como leptospirose, são maiores. Já a nossa casa é um espaço mais controlado, mas ainda assim repleto de microrganismos. Para evitar de trazer mais deles para dentro dela, vale tirar os sapatos antes de entrar e limpar as patas de seu pet após ele passear.

Pôr o pé na terra, grama ou areia faz bem à saúde?

Pés descalços pé descalço grama natureza - iStock - iStock
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Verdade. A terapia de se reconectar com a Terra, chamada de grounding (ou aterramento em português), garante bem-estar, melhora da resposta imune, ajuda na recuperação de lesões, processos inflamatórios e dores crônicas, e isso devido à absorção dos elétrons da superfície que teriam efeito antioxidante no corpo. Mas certifique-se sobre o estado do local escolhido.

A chance de se contrair verminoses não é maior?

Não. Claro que descalço sobre um solo com fezes contaminadas com ovos e larvas de parasitas você pode adquirir, por exemplo, bicho geográfico (larva migrans cutânea), que habita o intestino de animais infectados, e amarelão (ancilostomose). Mas verminoses podem ser contraídas ainda de água, mosquitos e alimentos crus ou carnes malcozidas contaminadas.

Melhora equilíbrio, propriocepção e consciência corporal?

Sim. Andar descalço, diferentemente de andar calçado, melhora tudo isso, pois "conserta" nosso padrão de caminhada natural, ou marcha fisiológica. Com tênis, apesar de toda tecnologia que alguns modelos podem oferecer, o uso de certos grupos musculares que podem fortalecer o corpo acaba impedido e o impacto costuma ocorrer mais no calcanhar.

Crianças devem aprender a andar sem calçados?

Pé chato, andar descalço - Getty Images - Getty Images
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Verdade, mas os pais ou cuidadores devem assegurar alguns cuidados, como manter a limpeza do chão, que também não pode ser gelado ou ter coisas que favoreçam quedas e perfurações. O bom de aprender a dar os primeiros passos naturalmente é que se adquire maior segurança, estabilidade, além de ajudar a fortalecer a musculatura dos pés e a formar a curvatura plantar.

Reduz a chance de se ter deformidades nos pés?

Sim. Os pés ficam livres e confortáveis, diferentemente de quando se usa sapatos o dia inteiro, ainda mais muito ajustados, apertados, ou com salto alto e fino. Eles podem facilitar o aparecimento de uma saliência óssea que cresce na articulação na base do dedão do pé (joanete), além de outros problemas, como dedos curvados, em garra, ou em formato martelo.

Não é preciso consultar médico para andar descalço?

Mito. Há quem precise, sim, sobretudo em áreas externas. É o caso dos imunodeprimidos, pessoas com sistema imune enfraquecido, como oncológicos, soropositivos ou transplantados, mais vulneráveis a infecções que podem se tornar graves. Além de pacientes com alterações anatômicas, tendinites e neuropatas sem sensibilidade nos pés, pois podem se ferir sem sentir.

Andar e se exercitar descalço e sem prática é perigoso?

pés no chão, acordar, levantar da cama - iStock - iStock
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Verdade. Sem nunca ter feito isso antes é grande a chance de se lesionar, principalmente em terrenos irregulares e duros. Por isso, comece devagar, com pequenas caminhadas descalças, preferivelmente dentro de casa, para fortalecer e adaptar pés e tornozelos, e depois aumente gradualmente distância e tempo. Ioga, pilates e artes marciais são atividades que treinam isso.

Apenas musculatura e articulações dos pés se fortalecem?

Mito. Andar descalço contribui para o fortalecimento do core dos pés, mas também dos joelhos, pernas, quadris e coluna, sem falar que garante amplitude de movimento adequada, ativa os nervos, melhora a circulação e mantém a boa postura. Diferente de quando os pés estão sempre calçados e em desuso, o que causa fascite, tendinopatias e fraturas por estresse.

Fontes: Márcia Borges, pediatra pela EPM-Unifesp (Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo); Marco Tulio Costa, ortopedista do Hospital Israelita Albert-Einstein e do Instituto Cohen, em São Paulo; Mauro Gomes, pneumologista e professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo; e Raymundo Paraná, professor de gastro-hepatologia da UFBA (Universidade Federal da Bahia).