'Não via motivo para colocar roupa dentro de casa': ficar pelado faz bem?
Desde menino, o carioca Angelo Pacheco, de 33 anos, gostava de ficar nu em casa. Ele não sabe explicar o motivo, mas ressalta que até hoje a prática é feita por ele e proporciona muitos benefícios. "A nudez sempre me pertenceu. Não via motivo para colocar roupa dentro de casa", diz.
Mesmo tendo uma criação conservadora e até militar, ela conta que lidava muito bem com a nudez e quando sentia que algum local era sua casa, despia-se.
Quando trabalhou em um hotel, em que os funcionários dividiam o mesmo quarto, ele conta que até chegou a avisar os colegas que eles poderiam vê-lo sem roupa em algum momento. "Eu disse que gostava de ficar assim e que por algum descuido poderiam me ver pelado. Até combinei com eles de ficar com roupa, mas que pelo menos eu tinha que dormir nu."
Mesmo não sabendo de onde vem essa "liberdade", Angelo reforça que ficar pelado melhora sua saúde física e mental, além de sua autoestima. "Com certeza ajuda na autoestima e bem-estar, mesmo que a nudez não seja para outras pessoas. Mesmo você estando pelado dentro de casa, só o fato de se observar e poder sentir seu corpo é bom. As pessoas só tem essa prática no banho, mas isso é tão natural e ter essa condição de se observar faz bem e remete à natureza", afirma.
Ele ainda destaca que associar a prática à sexualidade é um retrocesso. "É muito doido pensar que não temos maturidade social para disassociar a nudez do sexo. Chega a ser doentio alguém que não consegue enxergar a naturalidade da nudez. Eu acho que é um atraso", opina.
Ficar nu faz bem à saúde?
Embora ainda seja um tema considerado tabu pela sociedade, ficar nu pode trazer inúmeros benefícios à saúde. Ter um momento sozinho em que é possível sentir o corpo ou prestar mais atenção no toque aumenta a sensação de bem-estar.
"Há uma promoção de autoconhecimento e um amadurecimento das nossas perspectivas e expectativas. Traz, sem dúvidas, um ganho pessoal emocional enorme", diz Eduardo Siqueira, ginecologista e membro da Comissão de Sexologia da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia). Segundo ele, também há um ganho relevante nos relacionamentos, já que aumenta a intimidade e os cuidados entre o casal.
O ato pode ainda proporcionar segurança e dar segurança em situações do dia a dia. "Se ele cuida do corpo e acaricia, é uma pessoa que tem mais autonomia e mais atitude. Vai ainda ter percepção de sensações, justamente por trazer mais autoconfiança, segurança, porque essa pessoa se identifica e se conhece", diz Carla Cecarello, psicoterapeuta sexual e mestre em ciências da saúde pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
Mas o bem-estar vai além do caráter psíquico. Esse momento único e pessoal pode trazer também uma melhora na saúde física, diz Siqueira. O uso de tecidos, principalmente os sintéticos, prejudica a respiração da pele e leva a alguns processos alérgicos. "Roupas íntimas muito apertadas aumentam o risco de corrimentos e também reduz a fertilidade ao prejudicar a produção de espermatozoides."
Nem sempre faz bem à autoestima
Apesar de funcionar para Angelo, nem sempre ficar pelado, mesmo que em casa e sozinho, trará pontos positivos e melhorará a autoestima. De acordo com Cecarello, a nudez pode representar como a pessoa se sente no corpo que ela tem, o que pode ser positivo ou negativo.
"Se é uma pessoa que cresceu em um ambiente em que o nu é ligado a questões de sexualidade, se é visto de forma negativa e suja, a nudez não vai contribuir com a autoestima", diz. "Agora, se foi uma criança que foi ensinada a ter cuidado com o próprio corpo, a se preservar e cresceu em um ambiente saudável, sem dúvida ela chega nessa fase da vida e valoriza o corpo que tem."
Dorli Kamkhagi, doutora em psicologia clínica e coordenadora de Grupos da Maturidade do IPq (Instituto de Psiquiatria) da FMUSP (Faculdade de Medicina da USP), compartilha da mesma ideia e não acredita apenas o ato de tirar a roupa faz com que a pessoa tenha um maior conhecimento do seu corpo. "O fato de tirar as roupas não quer dizer que me libertei de tudo. A liberdade é algo que vou adquirindo, existem muitas maneiras para isso e minha mente vai trabalhando nisso" ressalta.
Nudez ainda é sexualizada
A nudez da pessoa adulta é uma construção histórica-cultural de uma sociedade que, mesmo com o passar dos anos, ainda carrega grande pudor. É muito comum associarem corpos nus com imoralidade, sexo e libertinagem.
Porém, na infância isso não é encarado dessa maneira e ocorre de forma natural. "Se pensarmos na criança menor, ainda na primeira infância, a nudez não configura um problema, ela é simplesmente permitida e, algumas vezes, como em tempos de calor intenso, estimulada pela mãe e pelo pai. E isso só acontece porque nessa idade a nudez não traz a função do sexo", diz o especialista da Febrasgo.
Ao crescer, entretanto, ocorre uma sexualização da nudez, em que a genitália deixa de ser encarada apenas como mais uma parte do corpo, com funções específicas, para ser algo potencialmente obsceno. E isso se amplia, principalmente, aos corpos femininos que, de forma histórica, sofreram maior repressão ao longo dos anos.
"Isso é histórico. Uma mulher que expõe o corpo é taxada como vulgar. Por conta de toda nossa sociedade machista, ela acaba atraindo muitos homens e isso compromete as relações familiares. O corpo feminino é tão sexualizado, que meio que foi treinado para seduzir", diz Kamkhagi.
Por onde começar?
Se você tem vontade de ter mais tempo com o corpo nu, mas tem vergonha, saiba que é possível conquistar essa prática aos poucos.
Não é todo mundo que, mesmo sozinho, se sentirá à vontade para tirar a roupa. Por isso, é importante iniciar de maneira leve e com pequenas ações no dia a dia.
- Comece a dormir sem peças íntimas;
- Fique alguns minutos sem peças de roupa que apertem ou proporcionem uma sensação de "aprisionamento";
- Frequente locais como praias naturistas, onde são, de fato, reconhecidas pela prática. Nelas, a nudez é encarada como algo normal.
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