Fim de ano tem cheiro para você? Tem gente que sente (e a ciência explica)
Pode até parecer estranho, mas, para muita gente, dezembro tem um cheiro especial. Algumas pessoas dizem que o último mês do ano tem aroma adocicado; outras acreditam que algo mais frutado ou, talvez, até meio amadeirado tome conta do ar quando chega essa época do ano.
O que pouca gente sabe, no entanto, é que é possível explicar por que isso acontece.
Um artigo publicado na revista Scientific American aponta que certas datas, como Natal e Ano-Novo, são capazes de ativar nossa memória olfativa, evidenciando conexões diretas com o processamento das emoções.
A jornalista Ana Bjornberg, 31, confessa que é só pensar no Natal que imediatamente vem um cheiro doce na mente.
"Respiro fundo e me traz uma felicidade, toda uma nostalgia. Esse cheiro adocicado é de um armário que minha bisavó guardava doces antes de eu nascer, e depois onde ficavam os enfeites e a árvore. Então, quando sinto esse cheiro, já me lembro de tudo. Montar a árvore com minha mãe e meus avós era um dia especial na minha casa quando eu era criança", conta.
Para a fisioterapeuta Lívia Silveira, 34, as manhãs de dezembro também têm aroma adocicado. "É um cheiro doce e quente, parece quando se está fazendo algodão doce. Na rua da casa da minha mãe, bem de manhãzinha, quando chega essa época do ano, dá para sentir."
Neurocientista do Supera - Ginástica para o cérebro, Livia Ciacci diz é extremamente comum a pessoa associar datas a aromas específicos. Exemplos clássicos da relação de cheiros com épocas do ano, segundo ela, são os tradicionais panetones e chocotones. Como são consumidos especialmente em dezembro, o cérebro, automaticamente, relaciona esses alimentos às festas.
"Esse aroma singular explica exatamente o que acontece no cérebro em relação aos cheiros que estão relacionados a lembranças. No caso de alimentos ou situações específicas, resgatam imediatamente essa sensação, criando essa condição de um 'cheiro de fim de ano' ou um cheiro específico que remete imediatamente a um período específico da vida", diz Ciacci.
Como é criada a memória olfativa
Segundo Renata Ferraz, otorrinolaringologista e médica do sono da Unidade de Neurologia do HUPAA (Hospital Universitário Professor Alberto Antunes), da UFAL (Universidade Federal de Alagoas), durante a respiração nasal, as partículas odoríferas (aromas) são direcionadas para a parte superior do nariz, onde se encontram as fibras do nervo olfatório.
"Essa informação é transmitida para o sistema nervoso central para ser identificada pelo cérebro. Durante essa passagem há também a informação do sistema límbico, que identifica as memórias olfativas associadas aos aromas, como cheiro de café, de algo da infância, de um perfume que lembra algo bom do passado, como também existem as memórias associadas aos cheiros que não são bons", explica.
Ainda segundo Ferraz, a formação de uma memória olfativa vai depender do repertório de aromas que a pessoa foi exposta durante a vida.
"A partir desse repertório, fica mais fácil fazer associações, desenvolver sensações e gerar memórias relacionadas aos aromas", diz.
Médico geneticista com especialização em neurologia pela Unirio (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro), Alexandre Lucidi destaca que a memória permite às pessoas uma estrutura por meio da qual elas entendem o presente e o futuro.
Ele explica que há evidências de que a exposição a odores pode desencadear memórias de experiências passadas e emoções positivas. "Essas descobertas são apoiadas por evidências neurológicas relatando a ativação de áreas associadas a memórias e processos emocionais, como a amígdala, hipocampo e estruturas no lobo temporal, durante a exposição a odores."
Cheiros familiares podem ser reconfortantes
Monica Machado, psicóloga com especialização em psicanálise e saúde mental pelo Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Albert Einstein, afirma que, muitas vezes, alguns cheiros específicos podem ser reconfortantes. Ainda mais se a pessoa estiver passando por alguma situação que precise de apoio e carinho.
"Temos como exemplo o cheiro das comidas típicas do Natal, uma data geralmente comemorada em família. Sentir o cheiro do peru sendo assado pode nos remeter a boas lembranças, como as de outros Natais, como os da infância, quando o Natal é uma época bem marcante", diz.
Por outro lado, segundo a psicóloga, se a data marca um trauma ou experiências negativas, o efeito pode ser contrário.
"O cheiro traz de volta as lembranças ruins. Ou seja, cada indivíduo passa por determinadas experiências e tem uma percepção diferente diante dos mesmos estímulos. Por isso os odores que são bons para alguns podem ser ruins para outros, causando sensações diferentes para cada pessoa."
Machado destaca que os cheiros da infância permanecem em nossos cérebros como fortes conexões a um passado emocional que, vez ou outra, acessamos para nos lembrar de momentos felizes.
"Pelo fato de os cheiros terem esse poder de despertar emoções, memórias e até reações físicas, eles podem ser usados como aliados para manter o nosso bem-estar físico e mental", diz.
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