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Equilíbrio

Cuidar da mente para uma vida mais harmônica


Penso, logo... emagreço? Quanta energia consumimos para raciocinar?

O pensamento é fruto da comunicação entre os neurônios do cérebro - iStock
O pensamento é fruto da comunicação entre os neurônios do cérebro Imagem: iStock

Colaboração para o VivaBem

26/12/2022 04h00

Já teve uma sensação de esgotamento físico depois de alguma atividade em que precisou raciocinar muito? Estima-se que nosso cérebro seja responsável por 20% do nosso gasto energético basal —o total de energia consumida quando estamos acordados, mas em repouso.

A proporção é bem razoável para um órgão que representa apenas 2% do nosso peso corporal, e não tem a obrigação de bombear sangue, por exemplo, como acontece com o coração. Mas será que resolver dilemas difíceis e fazer cálculos matemáticos são boas formas de queimar calorias?

Embora o cérebro demande bastante energia, ainda não há evidências científicas de que um grande esforço mental seja capaz de modificar muito nosso gasto calórico no fim do dia. Até porque saber exatamente quantas calorias são gastas ao pensarmos não é simples.

O valor exato desse consumo é muito difícil de mensurar. Não existem trabalhos com poder científico voltados exatamente para essa medida em humanos. Ela ainda varia muito de uma pessoa para outra e depende do que chamamos de intensidade do pensamento.

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Pensar consome calorias
Imagem: Reprodução/Dreamstime

O pensamento é fruto da comunicação entre os neurônios, que ocorre graças a mediadores químicos e impulsos elétricos. Por isso, todo pensamento é um evento biológico de natureza eletroquímica, o que, obviamente, consome energia.

Considerando o gasto energético do cérebro, podemos dizer que o órgão consome aproximadamente 260 calorias por dia para uma pessoa com gasto energético basal de 1.300 calorias (uma média comum entre sedentários). Isso equivaleria a cerca de 10,8 calorias por hora, o que é desanimador se levarmos em conta que, ao passar 60 minutos de pé numa fila, queimamos cerca de 47 calorias no mesmo período.

Fazer um grande esforço mental certamente aumenta o gasto calórico, mas de forma modesta. É algo bem diferente do que andar devagar e correr, por exemplo. Por isso, não dá para recorrer ao Enem para perder peso. O efeito, aliás, pode até ser o inverso, pois o estresse é famoso por fazer certas pessoas comerem mais.

Comida para o cérebro

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Neurônios em ação no cérebro
Imagem: iStock

Em um pequeno estudo de 2008 realizado no Canadá, pesquisadores colocaram 14 estudantes para realizar testes de atenção e memória por 45 minutos antes de levá-las a um banquete. O resultado é que elas comeram, em média, 200 calorias a mais do que outras garotas que não tinham feito nenhum esforço mental antes de comer. O nível de glicose delas também variou em relação ao grupo de controle, mas não de forma consistente.

As meninas que fizeram os testes também apresentaram níveis mais altos de cortisol (hormônio do estresse) e relataram mais ansiedade. Para os pesquisadores, portanto, elas não comeram mais porque gastaram mais calorias com os exercícios mentais, mas porque estavam mais estressadas.

Se comer uma caixa de bombons não é garantia de melhor desempenho em uma prova, passar fome certamente não vai ajudar. Quem faz dietas que restringem a ingestão de carboidratos tem o metabolismo modificado para garantir o substrato essencial do cérebro, que é a glicose.

Energia x eficiência

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Pensar é resultado de interações bioquímicas que demandam energia
Imagem: iStock

Um artigo publicado na revista Scientific American mostrou que vários estudos trouxeram resultados contraditórios em relação ao tema; por isso, não dá para concluir que um grande filósofo gasta mais calorias do que alguém que passa o dia em frente à TV.

Para os especialistas, o cansaço que surge após uma prova difícil tem muito mais a ver com o estresse gerado pela atividade, algo induzido pela simples ideia de que nosso cérebro está sendo drenado.

Embora comparar o consumo calórico do pensamento com qualquer caminhada seja desmotivador para quem quer emagrecer, pensar no que o nosso cérebro pode fazer com tão pouco é de tirar o fôlego, como mostra o mesmo artigo.

Convertendo as 1.300 calorias do gasto basal para outra medida de energia (54,16 kcal/hora = 15,04 kcal/seg = 62,93 joules/segundo = 63 watts), pode-se concluir que o cérebro precisa de apenas 12,6 watts para fazer tudo o que faz o dia inteiro —bem menos que uma lâmpada de cabeceira. Em comparação com muitos eletrodomésticos, é uma eficiência descomunal.

Fontes: Leandro Teles, neurologista, membro da Academia Brasileira de Neurologia, revista Scientific American.