Sonhos ruins: por que temos pesadelos? Dá para evitar?

Você foge de monstros, é enterrado vivo, cai do alto de um prédio, vê um tsunami chegar, tenta gritar e a voz não sai, tenta correr e não consegue. E então acorda assustado, com o coração disparado e uma sensação de angústia. Só aí percebe que teve um pesadelo.

É difícil escapar desses sonhos ruins, que despertam sensações de medo, tristeza e raiva. Ao menos metade da população mundial tem pesadelos esporadicamente, e entre dois e oito por cento dos adultos sofrem com eles frequentemente.

Assim como os sonhos, os pesadelos costumam acontecer durante o estado mais profundo do sono, conhecido como REM (sigla em inglês para movimento rápido dos olhos). Essa fase dura cerca de 30 minutos e pode se repetir até seis vezes por noite.

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Ou seja: podemos ter até seis sonhos —ou pesadelos— em uma única noite. Mas nem sempre nos lembramos deles ao amanhecer. Isso acontece quando despertamos logo após eles acontecerem. Como os pesadelos trazem uma carga emocional muito grande, é comum acordarmos assim que ele termina. Por isso, também são mais fáceis de lembrar.

O que causa o pesadelo?

As razões pelas quais os pesadelos acontecem ainda não são claras, mas há algumas hipóteses. Eles podem, como os sonhos, refletir situações com as quais não conseguimos lidar bem ao longo do dia. Estresse, ansiedade, rotina de sono irregular, uso de medicamentos antidepressivos e para hipertensão podem aumentar os riscos de ter pesadelos.

Pessoas que sofreram algum tipo de trauma recente, como acidentes, assalto, estupro ou a morte de uma pessoa querida, tendem a ter sonhos ruins. Geralmente a temática desses pesadelos está relacionada ao trauma a que foram submetidas.

Problemas físicos ou desconfortos durante o sono também podem causar pesadelos. Quem sofre de apneia, por exemplo, pode incorporar a sensação de falta de ar no sonho. Se algum alimento der muito trabalho para ser digerido durante o sono, é bem provável que essa sensação seja transportada para os sonhos.

Isso acontece porque, durante o sono REM, todos os nossos sentidos ainda estão "funcionando", mesmo que estejamos dormindo profundamente. Com isso, qualquer estímulo externo pode ser percebido e adicionado ao sonho ou pesadelo.

A partir de que idade temos pesadelos?

Os sonhos ruins nos acompanham durante toda a vida. Costumam aparecer por volta dos 4 ou 5 anos. Eles costumam ser mais intensos na infância, por conta da maturação cerebral ainda não estar consolidada nessa fase.

Na idade adulta, os pesadelos tendem a ser bem menos frequentes, mas acontecem com maior intensidade quando alguma coisa na vida não vai bem.

A Universidade de Montreal, no Canadá, mapeou, a partir de cerca de 10 mil sonhos narrados, os temas mais frequentes relatados em pesadelos. O medo de agressão física foi citado por 31,5% dos entrevistados. Morte, preocupações com saúde e ameaças também são recorrentes.

Homens costumam ter mais pesadelos com temas envolvendo desastres e calamidades, como inundações, terremotos e guerra. Já temas que envolvem conflitos interpessoais são duas vezes mais frequentes nos pesadelos das mulheres.

A partir das entrevistas para o estudo, os pesquisadores concluíram que o medo nem sempre está presente nos pesadelos. Na verdade, foi descrito em apenas um terço deles. Outros sentimentos comuns em sonhos ruins são tristeza, confusão e culpa.

É possível evitar os pesadelos?

Os pesadelos não precisam ser encarados como prejudiciais à saúde. Quando esporádicos, podem até ajudar a resolver algumas questões e superar medos. O problema é quando passam a ser constantes.

No mundo, de dois a oito por cento das pessoas dizem ter mais de um pesadelo por semana. Em alguns casos, mais de um numa só noite de sono. Metade das crianças entre 3 e 6 anos também tem sonhos ruins constantemente.

Casos de excesso de pesadelos podem ser tratados clinicamente. O médico irá investigar se existe alguma anormalidade física ou se a causa é gerada por fatores externos.

O tratamento varia de terapia até medicação de controle da ansiedade. Em alguns casos, os pacientes podem ser treinados para ter sonhos lúcidos, ou seja, conseguir ter consciência de que estão sonhando e, assim, mudar os rumos do pesadelo.

Fontes: Luciano Ribeiro, neurologista do Instituto do Sono; Rosana Cardoso Alves, neurologista especializada em medicina do sono do laboratório Fleury.