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O que é endometrioma, doença que atriz Samara Felippo suspeita ter?

Samara Felippo no Conexão VivaBem - Mariana Pekin/UOL
Samara Felippo no Conexão VivaBem Imagem: Mariana Pekin/UOL

Do VivaBem, em São Paulo

29/12/2022 16h20

A atriz Samara Felippo, 44, compartilhou nas redes sociais que está com suspeita de endometrioma, uma forma de manifestação da endometriose —doença ginecológica que afeta uma em cada dez mulheres no Brasil, segundo o Ministério da Saúde.

Ela comentou sobre o problema em seu perfil no Twitter, onde enfatizou a importância de ir ao médico regularmente para fazer exames periódicos de ultrassom e ressonância.

Segundo a atriz, foi durante uma consulta de rotina com sua ginecologista que a hipótese do diagnóstico surgiu. "Sim, mulheres! É muito importante [ir ao ginecologista e fazer os exames]", incentivou ela na publicação.

O que é endometrioma?

O endometrioma é uma alteração que, apesar de ser benigna na maior parte dos casos, pode causar uma série de prejuízos à qualidade de vida da mulher, como dor pélvica e intensas cólicas menstruais, além de comprometer a fertilidade. A condição está diretamente relacionada à endometriose.

  • A endometriose acontece quando o endométrio, um tipo de tecido que reveste a parede interna do útero, sai do órgão e se instala fora dele, em áreas onde não deveria estar, como nos ovários ou nas trompas.
  • Se o endométrio migrar para os ovários e formar cistos de endometriose dentro do órgão, o quadro recebe o nome de endometrioma.
  • Em alguns casos, além dos ovários, o endometrioma também pode se formar na parede abdominal.
  • Esses cistos são "bolsas" preenchidas por fragmentos de endométrio e sangue, o que lhes dá um aspecto marrom ou achocolatado.

O endometrioma nada mais é do que uma endometriose nos ovários ou na parede abdominal Vanessa Machado, ginecologista do Hospital Vera Cruz (SP)

Quais são os sintomas?

Como o endometrioma é uma manifestação da endometriose, os sintomas das duas condições são semelhantes, o que inclui:

  • Cólicas fortes ao longo de todo o período menstrual e também alguns dias antes da menstruação;
  • Dificuldade para engravidar;
  • Dor crônica na pelve (bacia), que se torna mais intensa durante o período menstrual;
  • Dor durante a relação sexual, sobretudo no momento da penetração profunda ("despareunia de profundidade");
  • Alterações no abdome, como inchaço e diarreia.

Um sintoma típico do endometrioma é a dor na região lateral da pelve, próxima aos ovários, que pode ser mais intensa tanto do lado direito quanto do esquerdo.

Como é feito o diagnóstico

Uma vez que os sintomas listados acima estão presentes, o passo seguinte é fazer os exames ginecológicos.

"Primeiro, é realizada a inspeção dos órgãos genitais externos, da vulva, e é feita a apalpação do abdome, para ver se existe alguma massa palpável, como acontece no caso dos cistos de endometriose maiores", explica Alexandre Pupo, ginecologista e obstetra do Hospital Sírio Libanês e Albert Einstein.

Depois, são feitos exames para análise dos órgãos genitais internos, entre eles:
  • O exame especular, que permite a visualização do colo do útero.
  • O exame do toque vaginal, em que o médico irá tocar, com os dedos, as regiões laterais do útero, a fim de ver se há algum cisto palpável.
  • Segundo Pupo, normalmente o endometrioma se apresenta como uma massa de consistência intermediária, algo entre o endurecido e o mole, além de ser fixa e dolorosa ao toque.

Cistos menores do que 3 centímetros, no entanto, dificilmente são sensíveis ao toque. Por isso, outros exames podem ser solicitados para a investigação do caso. São eles:

  • Ultrassom transvaginal: a partir de um transdutor, que é inserido no canal vaginal, o médico consegue avaliar os ovários da mulher "quase de forma direta", descreve Pupo.
  • Em alguns casos, a ressonância magnética da pelve pode ser um exame complementar, já que ela permite ver a anatomia da pelve em detalhes e o conteúdo interno do cisto, se houver algum. Samara Felippo, por exemplo, explicou que, para que o diagnóstico seja concluído, ela precisará ser submetida à ressonância.

Em casos de suspeita de endometrioma, o ultrassom transvaginal ou a ressonância magnética são fundamentais para avaliar se também existem focos de endometriose em outros órgãos além dos ovários, como no útero, vagina ou reto.

Isso porque, explica o médico, ter endometrioma no ovário é um "indicativo indireto" de que o paciente também tem endometriose em outras áreas.

"É muito raro ter endometrioma ovariano sem ter outros focos de endometriose profunda, principalmente no espaço retovaginal, que engloba útero, vagina e reto", afirma Pupo.

Entenda como funciona o tratamento

  • Se o endometrioma for considerado pequeno, a ginecologista Vanessa Machado, do Hospital Vera Cruz (SP), explica que geralmente a indicação é o uso de contraceptivo, para inibir o processo de ovulação.
  • Já no caso de cistos maiores, o tratamento é cirúrgico, na maior parte das vezes a laparoscopia, um procedimento minimamente invasivo que permite a sua remoção. "No caso de cistos de endometriose na parede abdominal, a cirurgia é aberta, para retirá-los", acrescenta Machado.

Avaliação criteriosa é fundamental antes de fazer cirurgia. O ginecologista Alexandre Pupo explica que, como existe o risco de a cirurgia afetar a função de fertilidade dos ovários —principalmente se houver cistos em ambos os ovários—, é imprescindível que a paciente, caso tenha o desejo de ser mãe, seja submetida a uma pesquisa de fertilidade (exame de sangue e ultrassom com contagem de folículos) antes de ser operada.

Se a reserva ovariana da paciente for baixa e o desejo reprodutivo for alto e ela não tiver filho, e o médico já sabe de antemão que vai ter que mexer no ovário, ele pode propor uma coleta de óvulos e congelamento. Assim, caso a cirurgia acabe danificando o ovário, a paciente já tem os óvulos congelados e a capacidade fértil é preservada. Alexandre Pupo, ginecologista

Todo cisto hemorrágico no ovário é endometrioma?

Não. Existem outros fatores que podem levar ao aparecimento de cistos sanguinolentos dentro dos ovários. Pupo cita dois exemplos:

1. Durante o processo de ovulação:

  • Um cisto, chamado de "cisto simples", naturalmente se forma no ovário das mulheres que têm um ciclo reprodutivo natural, isto é, que não utilizam nenhum método hormonal para impedir a ovulação (como pílula anticoncepcional ou anel vaginal).
  • Em determinado momento, esse cisto se rompe, como se fosse uma bolha na superfície do ovário, e libera o óvulo para dentro das trompas.
  • "Às vezes, nesse processo de liberar o óvulo, algum vaso sanguíneo pode se romper e causar acúmulo de sangue no espaço onde estava o cisto, formando um cisto hemorrágico", explica o médico.
  • Na maioria dos casos, contudo, o cisto desaparece espontaneamente em poucas semanas. Se o ultrassom for repetido no ciclo menstrual seguinte da mulher, diz o especialista, esse tipo de cisto, que é de cor preta e atinge por volta de 24 a 30 milímetros, já terá desaparecido.

2. Depois da ovulação:

  • Outra situação de cisto hemorrágico que não tem relação com a endometriose é quando o corpo lúteo, que se forma no ovário depois da ovulação, apresenta sangramento interno. Se a mulher não engravidar, no prazo de um mês ele é absorvido espontaneamente pelo corpo.
  • No caso de a gravidez ocorrer, o corpo lúteo pode se manter hemorrágico durante o primeiro trimestre da gestação.
  • "Médicos mais desavisados ou num exame rápido podem achar que é um cisto de endometriose, mas, depois de três meses, quando a placenta assume todo o processo hormonal da gravidez e o corpo lúteo do ovário atrofia, esse cisto também desaparece sozinho", explica Pupo.

Já os cistos associados à endometriose, como é o endometrioma, são diferentes desses: eles não desaparecem com o tempo e, em alguns casos, podem até acumular mais sangue e crescer, atingindo até 15 centímetros de diâmetro.

Grupos de risco

As causas da endometriose e dos cistos de endometriose ainda não estão claras, mas estima-se que múltiplos fatores estejam associados, desde genética até a deficiência do sistema imunológico.

  • Pacientes com histórico familiar de endometriose, por exemplo, estão mais suscetíveis à condição.
  • Sabe-se também que a endometriose é mais frequente em mulheres entre os 35 e 45 anos de idade.
  • A doença é mais comum entre aquelas que engravidaram após os 30 anos, já que tiveram um maior número de menstruações e, consequentemente, mais endométrio preenchendo a cavidade abdominal.