Qual a relação entre alterações na tireoide e transtornos como depressão?
Em 2015, Diego Pereira, 36, de São Paulo (SP), decidiu consultar um psiquiatra por se sentir deprimido, cansado e com insônia. O profissional então o entrevistou rapidamente, receitou um antidepressivo e o encaminhou para um psicólogo. "Comecei psicoterapia, mas melhorava um pouco e sofria recaídas, mesmo medicado, até que comecei a engordar muito", conta.
Há cerca de três anos, Diego, que tem 1,75 m de altura, foi de 70 kg para mais de 80 kg em questão de um ano. Ele pensava que o motivo do ganho de peso era por ter parado de fazer academia, já que sua alimentação sempre foi muito equilibrada e não havia mudado. Até que, em conversa com sua irmã, ouviu dela o conselho para procurar por um endocrinologista.
Ele soube que uma amiga de sua irmã com histórico de depressão descobriu que estava com problemas na glândula tireoide, situada em frente à laringe e responsável pela liberação de hormônios que regulam o metabolismo. "Depois de realizar exames que medem a quantidade de hormônios no sangue, descobri que estava com hipotireoidismo e busquei tratamento", diz.
Sem corpo são, sem mente sã
Embora muitos possam supor que problemas psicoemocionais sejam apenas decorrentes de conflitos internos, não é bem assim, explica Leide Batista, psicóloga pela Faculdade Castro Alves, em Salvador (BA). "A causa pode ser orgânica, como por uma desregulação da função neuroendócrina", diz.
Nesse sentido, os hormônios da tireoide, que são necessários para a maioria das funções fisiológicas, se desregulados —no caso do hipotireoidismo, há um grau de insuficiência na produção deles—, podem afetar o desenvolvimento e a função cerebral normal, ocasionando distúrbios psiquiátricos, além de prejudicar a resposta de medicamentos que os combatem.
Outra psicóloga, Carla Guth, em especialização em neuropsicologia pela FCMSCSP (Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo), cita que quando a tiroide é hipofuncionante, o metabolismo desacelera e, com ele, o humor. "Além de o corpo engordar, cabelo e unhas podem ficar quebradiços, a pele ressecada, o ritmo lentificado e a pessoa apresentar ainda falta de memória e de concentração e desinteresse geral, um combo que afeta a autoestima", diz.
Hipertireoidismo também afeta mente
O hipertireoidismo é caracterizado pela produção excessiva dos hormônios tireoidianos. Ele também afeta a mente, mas de maneira diferente.
De acordo com Maria Fernanda Barca, endocrinologista pela FM-USP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), quem sofre de hipertireoidismo pode apresentar quadros de ansiedade intensa, irritabilidade, agitação, acompanhados de sudorese, tremores, taquicardia, sensação de calor, olhos saltados, perda de peso e inchaço do pescoço, devido ao hiperaceleramento da glândula tireoide.
Há pacientes ainda sujeitos a variações de humor no dia e manias psicóticas.
"A relação entre alterações da tireoide e transtornos psiquiátricos é muito grande e existe ainda a tireoidite pós-parto, que atinge cerca de 13 em cada 100 mulheres nesse período, em decorrência do aumento de anticorpos que atacam a tireoide. Com esse quadro, a chance de se ter depressão pós-parto é sete vezes maior", diz Barca.
É preciso manter o equilíbrio
Cabe ao psiquiatra, em consulta, solicitar o exame da função da tireoide e, eventualmente, um ultrassom da glândula. Caso o pedido não seja feito, os entrevistados aconselham trocar de profissional ou procurar por um endocrinologista, como fez Diego. Quanto às mulheres, devem ficar atentas se o ginecologista/obstetra pediu a triagem de hormônios com anticorpos.
Na maioria dos casos, à medida que a disfunção da tiroide é controlada pelo tratamento, os sintomas físicos e mentais melhoram gradativamente. No entanto, os especialistas não entendem ainda ao certo se depressão, ansiedade e outros indicadores de transtornos se manifestam porque a tireoide interfere no psiquismo ou se o psiquismo interfere na tireoide.
"Mas, independentemente, devem ser prescritos medicamentos para as duas questões, para repor e organizar os hormônios e melhorar e estabilizar o humor. A psicoterapia é indicada se houver junto conflitos internos e dependendo do grau do problema e do tempo até ele ser resolvido", diz Henrique Bottura, psiquiatra e diretor no Instituto de Psiquiatria Paulista.
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