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Ele pediu xixi dela para sexo: entenda parafilia e quando se torna doentio

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Imagem: iStock

Priscila Carvalho

Colaboração para o VivaBem

07/01/2023 04h00

Uma publicação no Twitter chamou atenção de alguns internautas depois que uma influenciadora nigeriana postou um relato contando as práticas sexuais "diferentes" de homens em Dubai.

No vídeo, a mulher explica que eles ofereciam viagens, presentes e outros benefícios para que, em troca, elas fossem até o país e defecassem na boca deles. O conteúdo começou a viralizar rapidamente e até a hashtag #portapottydubai foi usada para mostrar as imagens polêmicas em outras redes sociais.

Mesmo parecendo algo inusitado, esses pedidos podem ocorrer com mais frequência do que imaginamos. Foi o caso de Luciana*, que depois de algumas mensagens em um aplicativo de relacionamento, resolveu sair com um homem que já estava conversando há dias.

Para ela, o rapaz já se mostrou diferente durante as mensagens, pois não pediu nenhum tipo de foto sensual ou falava sobre sexo. Ao marcar de sair, os dois foram em um parque em São Paulo e o homem insistiu para que ela levasse uma garrafa de água devido ao calor.

"Eu não entendi nada, mas acabei levando na minha bolsa a garrafa que eu sempre carrego para todo canto", diz. Depois do date a céu aberto, o encontro seguiu para um restaurante e os dois começaram uns papos sobre fetiche. Para Luciana, não havia problema nenhum e, como ela define, mesmo sendo chata para isso não tinha nada de incomum em ter experiências novas.

Na hora de ele compartilhar os fetiches, ela conta que imaginou pedidos como lingeries diferentes, fantasias e outras posições menos comuns. O rapaz, entretanto, fez outro pedido: "Ele pediu para que eu fosse ao banheiro e enchesse a garrafa com meu xixi e a desse para ele. No começo, achei que era piada, então dei uma risadinha. Ele ficou pálido", conta.

O homem ainda disse que não curtia na hora do sexo e ele só queria a urina para lembrar dela. "Nesse momento eu reparei que era sério e eu disse que não queria, não faria e nem estava interessada nisso", diz. Por fim, ele ainda sugeriu um pagamento, caso ela quisesse.

"Ficou um clima superestranho, e como a gente já tinha acabado de comer, acabei pedindo para ir embora. Cheguei em casa bloqueada. Não deu tempo de dizer nada", conta, rindo.

Ela conta que depois desse encontro, outros pedidos inusitados foram feitos por meio das redes sociais e um outro homem chegou a pedir cocô. Na mensagem, a pessoa oferecia R$ 200 e propunha que o encontro fosse em um shopping e ele fornecia o pote para coleta das fezes.

potinho de fezes; urina - iStock - iStock
Esses desejos um tanto peculiares podem ser encarados como fetiches e também recebem o nome de parafilia
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Pedido estranho

O ator e palestrante Nego Catra também já vivenciou situações parecidas e que foram um pouco desconfortáveis. Ao conhecer uma menina pela Internet, ele estava trocando mensagens com ela para os dois se encontrarem.

Antes mesmo de chegar ao hotel, a moça disse que tinha fetiches e que desejava que ele fizesse cocô na boca dela. "Eu falei isso não rola e isso não curto", disse Nego.

Em uma outra situação, uma mulher pediu para que ele fizesse xixi no rosto dela enquanto os dois estavam tendo relações sexuais. Ele também conta que teve um episódio com pasta de dente em seu órgão genital que não foi nada confortável.

O que é parafilia?

  • O conceito é usado para caracterizar condutas e interesses de natureza erótica e que fogem do normativo.
  • Esses comportamentos têm suas raízes na formação de cunho psíquico desses indivíduos e na estruturação do ego.

Esse mecanismo específico de formação psíquica desvia o desejo e a obtenção do prazer de zonas erógenas consideradas 'normais', como o pênis e a vagina. Em consequência desse desvio, o sujeito procura a obtenção do prazer em substitutos. Vitoria Von Buch Bornia, psicóloga dos hospitais Marcelino Champagnat e Universitário Cajuru, em Curitiba (PR).

  • Vale lembrar que mesmo sendo algo incomum, essas práticas sexuais podem ser normais.
  • Elas não devem ser confundidas com transtornos parafílicos, que são graves e trazem sofrimento para quem pratica e para quem recebe.

Como saber se não é transtorno parafílico?

  • Para não ser considerada um transtorno, a atividade sexual deve ser com a mesma espécie, ter maturidade sexual e o outro deve estar vivo. Se não respeitar isso, são transtornos parafílicos.
  • A condição também está ligada ao não consentimento do outro e há uma predileção a objetos para uso sexual e ao frotismo, que consiste em sentir prazer ao encostar em outra pessoa sem a sua autorização.

Dentro dos transtornos parafílicos há "subclassificações", que estão ligadas à parafilia, fogem do padrão sexual convencional e configuram crime. São eles:

  • Pedofilia: prática sexual entre uma pessoa maior de 16 anos e uma criança. Colecionar fotos, vídeos e outros tipos de mídias que contenham esse tipo de ato também se encaixa na categoria e é considerado um delito.
  • Zoofilia: envolvimento sexual entre humanos e animais. Se encaixa como ato criminoso.
  • Necrofilia: utilização de cadáveres para sexo e outras práticas que levem à excitação.

Para identificar possíveis comportamentos como esses, é necessário que um psiquiatra ateste a condição do indivíduo e faça com que ele siga um tratamento.

No entanto, em alguns casos, pessoas que sofrem com transtornos parafílicos tendem a ter quadros de sociopatia e não podem conviver em sociedade.

*Nome trocado a pedido da fonte

Fontes: Ygor Bereze, psiquiatra e professor de medicina da Universidade Positivo, no Paraná; Vinicius Pedreira, psiquiatra da infância e adolescência e professor de saúde mental da Unime (BA).