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Saúde

Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


Dores, vômito, sangue: nosso organismo reage mal às mudanças de altitude

Quanto mais alto subimos, menos oxigênio temos para respirar - Handout / Nirmal "Nims" Purja - Bremont Project Possible / AFP
Quanto mais alto subimos, menos oxigênio temos para respirar Imagem: Handout / Nirmal 'Nims' Purja - Bremont Project Possible / AFP

De VivaBem, em São Paulo

08/01/2023 04h00

Aumento da frequência cardíaca, falta de apetite, dor de cabeça, náusea, vômitos, dificuldade para respirar, sangramento do nariz. Parecem elementos de um filme de terror com zumbis, mas são sintomas bem reais que podem ocorrer em pessoas que viajam de altitudes baixas para lugares montanhosos.

Essas reações costumam acontecer em locais situados a partir de 2.300 metros acima do nível do mar. Nessa altitude, a pressão atmosférica é menor, o que torna o ar mais rarefeito e com menos oxigênio. Quanto mais alto subimos, menos oxigênio: alpinistas profissionais, por exemplo, correm risco de sofrer edemas pulmonar ou cerebral ao tentar escalar o monte Everest, no Himalaia, o pico mais alto do planeta, com seus quase 9.000 metros.

Os sintomas geralmente começam quatro horas depois de se alcançar os 2.300 metros. O coração se acelera à toa, sinal de que o organismo está fazendo um esforço extra para captar o oxigênio que seu corpo está acostumado a absorver.

A partir daí, o pulmão começa a trabalhar mais. É quando vem a falta de ar: por mais que as inspirações preencham todo o órgão, a sensação é de que ainda falta oxigênio. Nas horas seguintes, outros desconfortos podem surgir. Para alguns, são necessárias até duas semanas para uma adaptação total ao ambiente.

A boa notícia é que nem todo mundo sente o mal das montanhas. A má é que não é possível prever quem vai passar mal.

Fumantes, asmáticos, sedentários, pessoas com problemas cardíacos, cardiovasculares e respiratórios tendem a sofrer mais. De qualquer forma, é possível se preparar com antecedência para tentar minimizar os efeitos.

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Expedição brasileira no Everest: 8.850 m de altitude
Imagem: Divulgação / Pitaya Filmes

Prepare-se para subir

Meses antes da viagem, a dica é tentar melhorar ao máximo o condicionamento físico. Exercícios aeróbicos ampliam as capacidades cardíaca e pulmonar. Com o coração e pulmão funcionando bem, eles realizam melhor a troca de oxigênio por gás carbônico no organismo.

Uma semana antes de partir, o ideal é fazer uma dieta para suplementar o ferro. O mineral é um dos ingredientes essenciais para a produção de hemoglobina. Com mais glóbulos vermelhos circulando no organismo, a troca de gás carbônico por oxigênio é mais eficiente.

Vale comer bife de fígado, folhas verdes escuras (como agrião, rúcula, mostarda, couve), feijão... Alie a ingestão de alimentos ricos em ferro com outros ricos em vitamina C. Com a vitamina, a absorção do mineral é mais garantida.

Subir gradativamente é outra medida que pode resolver os problemas. Conhecer cidades mais baixas antes de chegar ao destino final que fica em uma altitude maior é ideal para o organismo se adaptar aos poucos.

Já no alto, vale a pena trocar comidas gordurosas por alimentos ricos em carboidrato. O organismo recebe mais energia com o carboidrato e trabalha muito menos para digerir a gordura. Também é preciso evitar exercícios de intensidade para não sobrecarregar os órgãos que já estão trabalhando na intensidade máxima.

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Turista em Machu Picchu, no Peru: 2.400m de altitude
Imagem: iStock

Caminho de volta

Quem sempre viveu em lugares de baixa altitude e passa mal na montanha costuma se recuperar já no momento em que retorna ao local mais baixo. E quem está acostumado a viver na montanha geralmente não sente desconforto ao viajar para a praia, por exemplo.

O senso comum imagina que quem vive no ar rarefeito tem vantagem física ao praticar esportes em locais de altitude baixa. Isso não acontece: mesmo com a maior oferta de oxigênio, o organismo só vai absorver a quantidade necessária, nada além que vá torná-lo um super-homem.

Até mesmo quem nasceu e praticou esportes nas montanhas pode sentir os efeitos da altitude ao retornar para casa após passar meses na praia, por exemplo.

Fonte: Luciano Capelli, fisiologista do São Bernardo Futebol Clube e membro do Centro de Medicina da Atividade Física e do Esporte da Unifesp.