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Com enjoo, mal-estar e dor de cabeça, ela descobriu resistência à insulina

Pâncreas é o órgão que produz insulina no organismo - iStock
Pâncreas é o órgão que produz insulina no organismo Imagem: iStock

Janaína Silva

Colaboração para VivaBem

18/01/2023 04h00

Claudia Maldonado, 51, é motorista de aplicativo e há mais ou menos 1 ano descobriu que estava com resistência à insulina, que ocorre quando o hormônio produzido no pâncreas apresenta dificuldade em permitir a entrada da glicose nas células para gerar energia.

A resistência das células do corpo à ação da insulina faz com que o pâncreas a metabolize mais, porém impede que funcione da maneira esperada.

"Os receptores do hormônio nas células não respondem normalmente e ocorre a hiperinsulinemia, aumento da sua produção para compensar. Quando a resistência não consegue mais ser corrigida, a glicose não penetra nas células com a mesma facilidade e, por isso, pode se acumular no sangue", esclarece Ana Flávia Torquato, endocrinologista da linha de obesidade do Hospital Universitário Walter Cantídio, do Complexo Hospitalar da UFC (Universidade Federal do Ceará), ligado à rede Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares).

Apesar de não ser considerada doença e ser, na maioria das vezes, assintomática, Claudia afirma que sentia mal-estar constante, sensação de enjoo todas as manhãs, dor de cabeça fraca e persistente e, também, desconforto intestinal.

Segundo os especialistas entrevistados, a alteração está relacionada à obesidade e apresenta sinais que ajudam a identificação por exames clínicos, como o aumento da circunferência abdominal, redução de massa magra e a presença do escurecimento e engrossamento da pele em regiões de dobras, como pescoço, axilas e virilhas —chamada de acantose nigricante—, associada aos acrocórdons, que são pequenos nódulos na pele, também conhecidos como pólipos fibroepiteliais.

No exame de sangue, explica Torquato, são indicativos da anomalia a presença de glicemia de jejum acima de 100, bem como níveis de insulina elevados, índice HOMA (modelo de avaliação da homeostase) alto —obtido pela relação entre as concentrações de glicose em jejum bem como a de insulina produzida pelo organismo—, hemoglobina glicada alta ou uma glicemia que se eleva após sobrecarga de glicose.

"Há também aumento das taxas de triglicérides", informa Ronaldo José Pineda Wieselberg, médico endocrinologista e vice-presidente da ADJ Diabetes Brasil.

Há risco de desenvolver diabetes tipo 2?

Hipoglicemia, diabetes e exercício físico - iStock - iStock
Imagem: iStock

"Sabe-se que quanto maior é o ganho de peso, principalmente na região abdominal, mais dificuldade o hormônio tem para atuar e, como consequência, mais o paciente é resistente à insulina", alerta Rodrigo de Oliveira Moreira, endocrinologista e vice-presidente do departamento de diabetes mellitus da SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia).

É uma sequência, nas palavras dele, quanto maior a quantidade de gordura visceral, ou seja, quanto maior a circunferência de cintura, mais resistência à insulina a pessoa tem, o que gera maior risco de desenvolver o diabetes.

"As células de gordura ficam inflamadas. Os músculos captam menos glicose do sangue e o fígado começa a produzir mais a substância, que vai se acumulando no organismo até atingir o limite que diagnostica a doença", detalha Wieselberg.

O que provoca?

A disfunção é provocada pelo excesso de peso, em geral, consequência do excesso de ingestão calórica e do sedentarismo, aliado à predisposição genética. "Cada pessoa tem um limiar diferente para a quantidade de gordura que provoca a resistência à insulina e isso tem correlação hereditária", explica Torquato.

Outra causa são infecções, porém de maneira transitória. "Algumas medicações, como corticosteroides, também podem aumentar a resistência do organismo à ação do hormônio", lista Wieselberg.

É possível revertê-la?

Fonte de proteínas - iStock - iStock
Imagem: iStock

Hoje, Claudia faz acompanhamento médico e controle trimestral por meio de exames de sangue. Além disso, toma medicação e retirou 95% de carboidratos de sua alimentação, que mudou de forma radical.

Uma das substituições foi trocar a farinha de trigo pela de amêndoas, conhecida pelo baixo índice glicêmico, com digestão lenta e liberação gradual do açúcar no sangue, e magnésio, substância que contribui para a redução na resistência da insulina. "Mas ainda sinto mal-estar quando saio da dieta."

Na maioria dos casos, afirmam os especialistas, por meio da perda de peso é possível normalizar as funcionalidades orgânicas.

Entre as estratégias, são recomendadas:

  • reeducação alimentar que leve à perda de peso, com orientação de nutricionista para a correta adequação;
  • dieta rica em alimentos in natura, como vegetais, legumes, verduras;
  • manutenção da ingestão adequada de proteínas, como frango, peixes, clara de ovo, feijão, lacticínios, que dão saciedade e ajudam a preservar a massa magra no processo de emagrecimento;
  • dar preferência à ingestão de carboidratos ricos em fibras;
  • diminuição de alimentos com índice glicêmico elevado, como doces, açúcar e carboidratos simples;
  • não tomar líquidos açucarados, como sucos em caixa;
  • preferir alimentos ricos em gorduras mono e poli-insaturadas como o azeite, peixe e abacate;
  • evitar frituras;
  • restringir o consumo de alimentos ultraprocessados: bolachas recheadas, refrigerantes e outros alimentos industrializados e
  • prática regular de atividade física.

Medicamentos com prescrição médica também são indicados. "Outras práticas de vida saudável são o sono apropriado, controle do estresse e evitar tóxicos, como bebida alcoólica em excesso", aconselha a endocrinologista do complexo hospitalar da UFC.