'Cabelo congelou': ela fez história ao subir maior montanha da Antártica
A ultramaratonista mineira Fernanda Maciel, de 42 anos, fez história na Antártica: subiu e desceu — correndo —a montanha mais alta do continente, o Monte Vinson, em tempo recorde. O percurso de 4.892 metros, geralmente feito em 5 a 7 dias, foi concluído em 9 horas e 41 minutos sob temperaturas congelantes. A VivaBem, ela contou os desafios e a preparação.
"No polo sul, há diferença na pressão atmosférica e menos porcentagem de oxigênio no ar. Essa foi minha primeira dificuldade. Já a temperatura varia entre -35ºC e -50ºC. O frio tira toda a energia do corpo.
É difícil comer porque tudo fica petrificado. Nesse desafio, eu tomei uns 400 ml de água, que é o que não congelou, e comi uns três pedaços de chocolate que, apesar de ser mais mole, estavam duros. Além disso, na Antártica, são 24 horas de sol [ela fez o percurso em 24 de dezembro].
O frio é fora do normal. Tirei minha luva para dar um clique na câmera e, por causa de 20 segundos, congelei meus dois dedos da mão. Demora para voltar. Já troquei de pele seis vezes e demora uns meses para voltar a sentir de novo.
Também congelei meu cabelo, tive de fazer um super tratamento para recuperar. Nunca tinha passado por essa experiência de congelar tão facilmente o corpo.
Pioneirismo
Na Antártica, não só fui a primeira mulher, mas a primeira pessoa a subir e descer o percurso correndo.
Apesar de todas as dificuldades, não acho que esse percurso tenha sido meu maior desafio. O Aconcágua [na Argentina, com 7.000 metros] é mais alto do que o Monte Vinson. Você fica mais tonto, começa a não conseguir correr.
Em montanhas desse tipo, a descida acaba sendo mais difícil do que a subida. Enquanto a subida exige muito esforço físico, a descida é mais perigosa: é preciso prestar muita atenção para não cair e rolar.
'Banho de água fria'
Treino todos os dias, não tenho um dia de descanso. Para competir em ultramaratona, treino só corrida. Corro rápido, no plano, na montanha, com peso. Coloco 8 quilos nas costas, subindo em 40 graus [de inclinação] — é quase impossível. Treino correr devagar e caminhar muito rápido.
Já a parte mental, exige muita coragem. Pode haver buracos, quedas, avalanches. Tem de ter muito conhecimento do tipo de gelo e neve. Faço sessões com mental coach para me preparar.
Como meu medo era o frio, tomei banhos com água bem fria e corria sem abrigo. Fiz treinos específicos para estar mais confortável quando chegasse lá.
Já começo a corrida acreditando que vou conseguir, mas sabendo que é muito difícil. É muito esforço para pouca energia, tem de focar totalmente no momento presente e não existe tempo nem para pensar.
'Como um animal'
Sou de Belo Horizonte, uma cidade com vários morros e montanhas. Comecei correndo ali. Em 2006, criei um projeto pessoal de subir e descer a montanha mais alta do Brasil, mas fui além.
Agora, a previsão é cumprir outras três montanhas entre este ano e o ano que vem [além do Monte Vinson e do Aconcágua, Fernanda já ultramaratonou o Kilimanjaro, a maior montanha da África, com 5.900 metros, e outras].
A próxima tem quase 5.000 metros só de pedra. Depois, vou subir uma no Alasca. E, por último, tem o Everest [no Nepal], que é a mais alta e exige treino de alpinismo.
É uma sensação conseguir correr em um local totalmente selvagem e impossível. Me sinto como um animal, em uma montanha remota e em condições extremas."
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