'Pior dor que já senti': peeling de fenol rejuvenesce, mas é agressivo
Entre os procedimentos estéticos não cirúrgicos, não há método mais eficaz para o rejuvenescimento facial do que o peeling de fenol profundo.
Agressiva, a técnica causa uma abrasão química controlada até a derme, induzindo a uma descamação que, quando completa, faz surgir uma nova pele com menos rugas, manchas, cicatrizes e flacidez.
É uma prática antiga, utilizada em cirurgias diversas desde o século 19. Mas a descamação, um dos efeitos colaterais, roubou a cena por trazer uma pele jovem como produto final.
Esse passou a ser, então, o objetivo do peeling a partir do século 20. Na década de 1960, a fórmula de Baker-Gordon foi vendida aos médicos, tornando-se sensação entre os vaidosos de Hollywood. Com o passar dos anos, perdeu espaço para tratamentos menos agressivos, mas agora volta à tona graças aos incríveis vídeos de antes e depois publicados nas redes sociais.
O resultado é de fato impressionante, mas assim também é o período de recuperação. "Fiquei bem feia, como uma monstra. A minha filha chorou quando me viu", diz a advogada Soraya Missiato, 58, que realizou o procedimento em 2020. "Mas é maravilhoso", enfatiza.
Alguns meses atrás, o vídeo de antes e depois de uma mulher viralizou e assustou muita gente nas redes sociais. A gaúcha Regina Lucia Sganzerla de Boni, 67, disse em entrevista ao UOL à época que "nem com 30 anos se sentiu tão bonita".
"Não precisei ficar sem falar, mas tinha que evitar abrir muito a boca. Um dos cuidados que tive foi manter a pele bastante hidratada, conforme orientação da médica. Para dormir, foi muito tranquilo, apenas evitei colocar o rosto em contato com o travesseiro. Tomava banho normal, sem molhar o rosto. Não fica cheiro, nem tive dor ou desconforto", relembrou Regina.
Trauma e medo de qualquer procedimento
Os relatos de satisfação com o peeling de fenol contrastam com experiências negativas, normalmente daqueles que o realizaram com profissionais não qualificados, em locais incorretos, sem a preparação ideal ou monitoramento. Quando submetidos a situações assim, os danos podem ser irreversíveis.
"Não realizaria novamente nem se me dessem R$ 1 milhão", diz a técnica de celulares Denise Atta, 40. Em 2018, ela ouviu de uma esteticista que o peeling de fenol seria a única solução para as suas marcas de acne, e aceitou realizar o tratamento ali mesmo, na clínica de estética.
Foi a pior experiência da minha vida e a pior dor que já senti: sofri um pico de arritmia na maca e desmaiei de dor.
Denise conseguiu se recuperar, mas a dor insuportável lhe causou um trauma que a faz temer qualquer procedimento estético.
Volta ao passado, mas com protocolos
O choque com a aparência pós-peeling surge devido ao edema e à crosta que se formam em resposta à agressão química. Após uma semana, todavia, eles dão lugar a uma face nova, ainda rosada, como a de um bebê.
"O paciente volta ao passado. O peeling de fenol é tão eficiente que, se aplicado hoje, daqui a 20 anos a pessoa estará melhor", diz Ival Peres Rosa, médico dermatologista, ex-presidente e sócio-fundador da SBCD (Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica).
Para alcançar este efeito, contudo, há protocolos a serem seguidos. A começar pela indicação: a melhor delas é para uma pele envelhecida, com rugas finas e profundas.
Em seguida vêm outras queixas, como manchas, melasmas e cicatrizes de acne, embora, nestes casos, o uso da técnica possa ser considerado desproporcional.
'Não valeu a pena'
Apesar de não serem os melhores candidatos para o peeling de fenol, pacientes deste último grupo estão entre os mais interessados. É o caso do técnico de enfermagem Renato Alvarenga, 38, que passou pelo tratamento em três oportunidades distintas a fim de suavizar suas marcas de acne cística, mas obteve pouca melhora.
"Não valeu a pena, pois o resultado foi mínimo para o meu caso. As cicatrizes amenizaram de forma muito medíocre e o procedimento tem um custo elevado", conta. O valor pode variar entre R$ 10 mil e R$ 30 mil, se aplicado em todo o rosto. Já para áreas localizadas, o intervalo é entre R$ 7.000 e R$ 12 mil.
Ele diz ainda que não voltaria a realizar o peeling, atentando para a complexidade da recuperação: "Fiquei cerca de 15 dias me alimentando com dieta líquida por canudos, sem poder falar, escovar os dentes e tomar sol".
Cuidados são fundamentais
Outro ponto importante é que o procedimento demanda aplicação por um médico e monitoramento em hospital ou centro cirúrgico. Isso porque o fenol, em excesso, pode afetar coração, rins e fígado.
"Concentrações acima do permitido e aplicações agressivas ou incorretas podem causar danos à pele e complicações estéticas, como cicatrizes ou repuxamento dos olhos", comenta Leonardo Ribeiro, médico dermatologista e ex-presidente da SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia - seção Rio Grande do Norte).
Além disso, o peeling exige anestesia ou sedação para evitar a sensação de dor ou ardência no momento da aplicação, que podem causar arritmia. Por isso, há contraindicação para grávidas ou pessoas com doenças crônicas.
O acompanhamento pós-operatório pelo dermatologista ou cirurgião plástico também é imprescindível, pois esta é uma intervenção passível de incidentes.
Alvarenga, por exemplo, sofreu uma alergia após o seu terceiro peeling e se viu prejudicado devido à conduta inadequada: molhou o rosto com água e, em decorrência, teve a pele escurecida.
Como o peeling de fenol é feito?
Se feito com a técnica correta, os especialistas garantem a segurança do procedimento. As substâncias utilizadas variam de acordo com a fórmula adotada, mas a técnica clássica combina fenol, água destilada, sabão líquido e óleo de cróton.
Nela, os elementos corroem as camadas superiores da pele e vão se aprofundando conforme o tempo de oclusão com esparadrapo, utilizado para evitar a evaporação do fenol.
Já a técnica menos tóxica do médico José Kacowicz, responsável pela fama do peeling no Brasil, dispensa a oclusão. "Tratar rugas com peelings superficiais é como apagar fumaça. A degeneração está na camada basal, última da epiderme, então se deve ir até ela. Eu não converso com a epiderme, eu a arranco. É assim que eu trato", diz Kacowicz.
Antes
- Para evitar o surgimento de herpes, o paciente deve se comprometer a tomar antivirais, além de utilizar protetor solar e ácidos para afinar a pele de 15 a 30 dias antes da intervenção.
- Quem tem infecções locais só poderá fazer depois de tratá-las, e alguns especialistas atentam para o potencial efeito colateral de clareamento da região onde a mistura foi aplicada --o que a torna insegura para pessoas de pele escura.
Durante
- No centro cirúrgico, o paciente recebe sedação ou anestesia e tem o seu rosto limpo e desengordurado.
- A aplicação em si dura por volta de 1h30 se feita em toda a face e é realizada por etapas --assim, o fenol é metabolizado pelo corpo em concentrações que não oferecem perigo.
- Em geral, a alta é dada no mesmo dia ou no dia seguinte, e, se feita a técnica clássica, a pessoa sai com uma máscara oclusiva que deve ser retirada após dois dias.
Depois
- Daí vem o pós-operatório, quando a pele começa a cicatrizar e ganha o aspecto de queimadura.
- O normal é não sentir dor ou ardência durante este período --caso sinta, o médico deve intervir com a análise da situação e prescrição dos remédios cabíveis.
- Depois que a crosta sai, por volta do oitavo dia de recuperação, surge uma pele nova e ainda rosada --aspecto que desaparece após três meses.
- Então o paciente pode desfrutar do resultado expressivo e duradouro, mantendo apenas os cuidados rotineiros e de fotoproteção.
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