Yanomamis: fome tortura corpo, afeta cérebro e traz problemas irreversíveis
Nesta sexta (20), a crise de saúde entre os indígenas yanomamis fez o Ministério da Saúde decretar Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional. A pasta informou que enviou uma equipe para averiguar a situação no território indígena na última segunda (16).
Ao chegar ao local, a equipe do ministério observou um cenário com crianças e idosos com problemas graves de saúde. Desnutrição, malária e infecção respiratória aguda foram algumas das complicações que a pasta informou.
Reportagem do site Sumaúma de ontem trouxe informações e fotos assustadoras de crianças e adultos indígenas yanomamis severamente desnutridos e doentes, literalmente pele e ossos.
Garimpeiros ilegais também levaram contaminação por mercúrio e violência ao maior território indígena do país, localizado em Roraima. O resultado foi uma crise humanitária sem precedentes.
Neste sábado (21), o presidente Lula foi visitar a região e disse que "Bolsonaro abandonou os yanomamis".
Mas o que acontece com a saúde de quem passa tanta fome? Acredite, mesmo que a pessoa volte a se alimentar e ingerir os nutrientes necessários ao organismo, vai carregar consequências para sempre.
A fome nos primeiros anos da criança pode ter um efeito cascata na vida adulta. A fase mais crítica é quando a oferta reduzida de nutrientes ocorre nos dois primeiros anos, período no qual se dá o mais rápido aumento do cérebro.
Somado a privações alimentares da mãe na gestação e que impactam o desenvolvimento infantil em fases posteriores, corre-se o risco de haver adultos com distúrbios físicos e mentais nas próximas décadas.
Indivíduos em fase de crescimento que passaram fome provavelmente terão sequelas com limitação da capacidade funcional a longo prazo, ou seja, suas aptidões para conseguir emprego e, portanto, de gerar renda para seu sustento.
As consequências atingem o desenvolvimento emocional, o aprendizado e o desempenho de atividades comuns para a idade.
O que é subnutrição? A baixa ingestão de macronutrientes, representados por proteínas, carboidratos e gorduras, e os micronutrientes —vitaminas e minerais—, por longos intervalos de tempo, caracteriza a subnutrição, que favorece o estabelecimento de enfermidades crônicas como diabetes mellitus, além de aumentar o risco de disfunções cardiovasculares, infecções intestinais, osteoporose, hipotireoidismo, obesidade e comprometimento imunológico.
Há risco de mortalidade, retardo do crescimento físico, baixo peso e estatura, associados a infecções frequentes e resistência ao tratamento.
Estragos irreversíveis. Por causa de um grupo específico de células ativadas, o cérebro que passa fome já não tem tanta capacidade de controle emocional e toma decisões por impulso, o que pode resultar em toda espécie de desastre.
Apresenta, ainda, dificuldade para controlar movimentos e não consegue ter um sono profundo, que consolidaria os aprendizados do dia e restauraria o corpo da cabeça aos pés. Acorda zonzo de fraqueza e mais e mais moído.
A memória se encontra prejudicada de maneira perturbadora. Mas, acima de tudo, seus neurônios perderam fisiologicamente a capacidade de sentir alegria.
Conforme a idade ou, independentemente dela, conforme o tempo que esse mal dure, seus estragos na cabeça se tornam irreversíveis. O indivíduo que um dia conviveu com essa condição sempre terá enorme tendência a transtornos mentais. A depressão profunda e a ansiedade costumam se tornar ameaças constantes.
Quem conhece a fome extrema, ainda que passe a esvaziar pratos cheios de comida, costuma apresentar quadros como ansiedade, fobia social, depressão, síndrome de pânico, problemas sérios de autoestima, além de transtorno obsessivo-compulsivo.
É só dar comida? Acredite, não é tão simples assim. Quem está em desnutrição profunda, o que parece ser o caso de muitos ianomâmis, pode sofrer a chamada síndrome da realimentação se simplesmente voltar a se alimentar normalmente.
A síndrome é uma complicação que pode levar à morte, e ocorre após jejum prolongado em pacientes desnutridos. As consequências passam por alterações neurológicas, sintomas respiratórios, arritmias e falência cardíacas, poucos dias após a realimentação. Sua causa é decorrente de sobrecarga na ingestão calórica e reduzida capacidade do sistema cardiovascular.
A reintrodução da dieta deve ser feita de maneira cautelosa. De modo geral, inicia-se com baixo aporte calórico e progride-se ao longo de 5 a 10 dias, de acordo com o risco individual.
*Com informações de reportagens de 06/12/2021 e 27/10/2022.
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