Ansiedade de voltar às aulas é comum; veja sinais e dicas para ajudar
Janeiro termina e as férias escolares também. Para alguns alunos esse momento desperta inseguranças: será que o ano letivo será legal? Vou gostar dos meus novos professores e dos meus colegas de classe?
As dúvidas são naturais pelas incertezas sobre um novo ambiente e o que os espera nele. Porém, para algumas crianças e adolescentes a preocupação excessiva gera muita ansiedade e isso prejudica o bem-estar.
Essa ânsia faz com que a pessoa esteja diante de um acontecimento que a tira de uma certa constância, da zona de conforto. Por exemplo, todo domingo muitas pessoas são acometidas pela ansiedade pré-segunda, porque sabem que vão retornar aos seus locais de trabalho ou a sua rotina. Rosa Mariotto, psicóloga e doutora pela USP
Como identificar isso?
- Há crianças que verbalizam sobre a ansiedade, deixando claro a aflição de voltar à escola.
- Já aquelas que não conseguem falar diretamente deixam algumas pistas (sobretudo no comportamento): crianças que perguntam muito sobre o retorno das aulas e se mostram tensas com isso.
- Há aquelas ainda mais reservadas, em que o acúmulo de angústia se revela por meio de sintomas físicos, como: dores de barriga e de cabeça sem explicação, ânsia de vômito, chorro sem motivo, agressividade, alterações no sono (dormir pouco ou muito) e de alimentação (falta de apetite ou muita fome).
Tem crianças que são extremamente verbais, que falam o que sentem, são educadas para nomear os sentimentos. Algumas até já sabem o que é ansiedade. E tem crianças mais retraídas, que precisam achar um canalizador para se expressar, muitas vezes na forma física. Larissa Câmara, ludoterapeuta e psicóloga infantojuvenil
Por que há ansiedade no fim das férias?
Psicólogas explicam que a ansiedade nesse período é normal por muitos fatores. Três se destacam:
- Deixar a zona de conforto para lidar com o desconhecido. É a chamada ânsia expectante, quando há espera por alguma coisa. Em idade escolar, há dúvidas sobre o novo ano, os professores e os colegas. A angústia é ainda maior entre quem vai começar em uma nova escola, quem mudou de classe ou de período no colégio e vai precisar se adaptar a uma nova turma. Isso é comum também nos adultos: basta pensar naqueles que começam um novo emprego e ficam tensos nos primeiros dias.
- Deixar as férias para encarar as obrigações da escola. Voltar às aulas é, para muitos alunos, renunciar ao prazer para retornar à rotina de aulas, que exige dedicação e comportamentos mais regrados --como horário para acordar e dormir, fazer lição, limitando o tempo livre e de brincadeiras.
- Crianças menores, em especial, sofrem com a ansiedade de separação dos pais após passar um longo período com eles nas férias.
A criança passa muito tempo com os pais, em ambiente seguro, conhecido, que sabe exatamente o que vai encontrar, e na volta às aulas tem que lidar com pessoas diferentes. Larissa Câmara, ludoterapeuta e psicóloga infantojuvenil
- O inverso também pode ocorrer: há quem queira tanto retornar às aulas que desenvolve sintomas de ansiedade. É necessário ter atenção também a esse perfil, porque o equilíbrio das emoções é importante ao bem-estar.
Como ajudar?
Identificar os sinais de ansiedade pré-volta às aulas é o primeiro passo. E, a todo o momento, o diálogo é a melhor ferramenta.
É preciso que os pais validem os desconfortos de seus filhos, pois são angústias reais. Minimizar pode intimidá-los e impedir que compartilhem as queixas no futuro.
A escuta sem julgamentos ajuda a descobrir os motivos de sofrimento. E só se trata a ansiedade efetivamente quando se identifica as suas causas —ter sofrido bullying na escola, dificuldades com os professores ou com o ensino, brigas com colegas de classe.
A participação da escola também ajuda na identificação desses problemas. É papel das instituições comunicar quando veem algo errado. Muitas vezes, a ansiedade também reflete no desempenho em sala de aula e dificuldades de aprendizados.
Não acolher traz riscos
- Pais devem lembrar que a construção social de crianças e adolescentes ainda está em desenvolvimento.
- Lidar com o novo já é enfrentar um turbilhão de emoções quando adulto. Isso é potencializado para os pequenos, ainda sem maturidade emocional.
O papel do adulto é de organizador, permitir que a criança ou o adolescente traga a situação problema e o ajudar criando possíveis soluções. Conversar e supor se a pior situação possível se concretizar, o que é possível fazer. Propor novas possibilidades de ação é lidar melhor com a ansiedade. Telma Pântano, fonoaudióloga e coordenadora da equipe multidisciplinar do Hospital Dia do Instituto de Psiquiatria da USP
O que acontece?
- Sem acolhimento, há risco de a situação avançar para quadros patológicos: transtorno de ansiedade generalizada e depressão, por exemplo.
- Também pode atrapalhar o desenvolvimento e aprendizado. Sem ajuda, o aluno entra em um espiral de sentimentos negativos, porque não consegue ressignificar suas percepções sobre o ambiente. Então, a ansiedade constante prejudica a capacidade de focar e ter atenção, essenciais durante a vida escolar.
Quando o psicólogo é necessário?
- Não é sempre que os pais têm recursos emocionais para lidar com as angústias dos filhos. Psicólogos podem ajudar, inclusive, orientando os responsáveis a ajudar os pequenos.
- Sofrimento persistente e/ou que prejudica a qualidade de vida são alertas para buscar ajuda profissional. Assim como quando os sintomas físicos são fortes.
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