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Cabelo de homem cresce mais rápido? Veja o que afeta crescimento dos fios

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Do VivaBem, em São Paulo

01/02/2023 04h00

Um homem e uma mulher se arrependeram de ter cortado o cabelo e agora estão ansiosos pelo dia em que seus fios estarão de volta. O cabelo de quem crescerá mais rápido? A resposta é: depende.

Em média, os fios de um couro cabeludo saudável crescem entre 0,8 a 1,2 cm por mês, o que dá cerca de 12 centímetros por ano. Mas essa velocidade pode variar de uma pessoa para outra, dependendo de fatores como genética, etnia, idade, alimentação e a presença de algumas doenças.

O cabelo cresce em ciclos. Cada fio cresce por quase seis anos, depois entra numa fase de repouso que dura três meses e cai. As madeixas trabalham em ritmos diferentes. Então, ao mesmo tempo em que alguns fios podem estar nascendo na sua cabeça agora, outros estão crescendo e há ainda os que irão cobrir seu travesseiro.

Gênero interfere no crescimento? Algumas pessoas têm a percepção de que o cabelo dos homens cresce mais rápido do que o das mulheres. Mas o gênero de uma pessoa, por si só, não causa diferença significativa na fase de crescimento dos fios.

Uma pesquisa antiga sobre o assunto, de 1990, mostrou que o cabelo das mulheres cresce 3,02 milímetros a cada 10 dias e, nos homens, 3,40. É uma diferença pequena. Larissa Tozzi, dermatologista e especialista em doenças dos cabelos e couro cabeludo pelo Hospital das Cínicas da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco).

Por que temos essa impressão? Isso pode estar relacionado ao fato de que a maioria dos homens corta o cabelo com mais regularidade do que as mulheres, dando a impressão de que seus fios crescem mais rapidamente.

Tozzi explica que o ritmo de crescimento do cabelo pode variar dependendo das características do indivíduo. Veja alguns exemplos:

  • Uma mulher com couro cabeludo saudável certamente verá seus fios crescerem mais rápido do que um homem diagnosticado com alguma doença capilar, por exemplo.
  • O cenário também varia entre pessoas do mesmo sexo. É possível que um homem asiático veja suas madeixas se multiplicarem com maior velocidade do que um homem de ascendência africana (entenda abaixo, no tópico "etnia").
  • Ao mesmo tempo em que uma mulher que segue dietas muito restritivas pode perder mais fios do que uma pessoa que se alimenta bem (entenda no tópico "dietas restritivas").

Nas pessoas transgênero, a terapia hormonal pode alterar o crescimento dos fios:

  • Em homens trans, a tendência é de haver redução na velocidade de crescimento e queda dos fios, já que os níveis de testosterona (hormônio masculino) atingem níveis semelhantes ao do homem cis, enquanto que nas mulheres trans o inverso também ocorre, com melhora da queda.

Entenda como 8 fatores influenciam crescimento e ritmo de queda dos fios

1. Genética

Fatores genéticos são responsáveis não apenas pela cor do cabelo, mas também pela densidade, textura e crescimento dos fios.

O cabelo nasce, cresce e morre. Esse crescimento é geneticamente predisposto. Tem gente que vai crescer 3 anos um fio, tem gente que vai crescer 7, 8 anos um fio. Violeta Tortelly, coordenadora do Departamento de Cabelos da SBD-RJ (Sociedade Brasileira de Dermatologia do Rio de Janeiro).

Em homens geneticamente propensos à queda de cabelo, por exemplo, o hormônio DHT (di-hidrotestosterona) causa a miniaturização dos folículos pilosos, responsáveis pela produção dos fios. Isto é, o cabelo fica cada vez mais fino e o volume geral das madeixas diminui.

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Genética e idade são fatores que influenciam no crescimento dos fios
Imagem: supersizer/IStock

2. Idade

O afinamento e a queda dos fios são processos naturais que acompanham o envelhecimento. Isso porque o cabelo sofre alterações macroscópicas e celulares com a idade.
Já o período da puberdade (8-13 anos), tanto para os homens quanto para as mulheres, é caracterizado por um aumento no crescimento e na espessura dos fios, devido aos níveis mais elevados dos hormônios sexuais masculinos e femininos, que são observados nessa fase e que se prolongam durante toda a adolescência e início da vida adulta. Leonardo Parr, endocrinologista da diretoria da SBEM-SP (Sociedade Brasileira de Endocrionologia e Metabologia de São Paulo).

3. Etnia

Pesquisas mostram que a taxa de crescimento e a densidade dos fios de uma pessoa estão intimamente relacionadas à sua origem.

Estudo publicado em 2016 pela revista científica European Journal of Dermatology, por exemplo, mediu e comparou os perfis de crescimento capilar de 2.249 adultos jovens (18-35 anos) de "perfil capilar normal", isto é, sem alopecia (queda de cabelo).

Os participantes eram originários de 24 grupos étnicos, incluindo brasileiros. Veja algumas conclusões da pesquisa:

  • Cabelo asiático. Apresenta baixa densidade capilar e taxa de crescimento rápida. Na pesquisa, este grupo incluiu chineses, japoneses e coreanos. O cabelo asiático ficou quase 5 cm mais longo após um ano de crescimento do que o cabelo africano.
  • Cabelo africano. É caracterizado por menor densidade e ritmo de crescimento mais lento.
  • Cabelo caucasiano. Com alta densidade capilar, o couro cabeludo caucasiano abriga 30% a mais de cabelo do que o couro cabeludo africano ou asiático.
  • Diversidade brasileira. Para estudar a relação entre os parâmetros de crescimento do cabelo e ondulações, os pesquisadores focaram nos tipos de cabelo brasileiros, cuja diversidade reflete a mistura de diferentes etnias.
  • Foram considerados quatro grupos de ondulação do cabelo brasileiro: liso (I-II), ondulado (III), crespo (IV-V) e crespo (VI-VIII).
  • A conclusão foi que, de forma geral, os parâmetros médios de crescimento do cabelo brasileiro se encaixam no tipo caucasiano.
  • Já quando o grupo é dividido pelo nível de ondulação dos fios, os parâmetros médios de crescimento VI a VIII têm mais semelhanças com o padrão do cabelo africano.
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4. Gravidez

O couro cabeludo tem um ciclo de vida natural que se alterna constantemente entre três fases.

Enquanto novos cabelos surgem ativamente durante a chamada fase anágena, os fios param de crescer por um período na fase catágena e finalmente caem durante a fase telógena. Estima-se que todos os dias perdemos de 50 a 100 fios de cabelo, o que é normal.

Na gravidez, porém, esse ciclo muda.

Na gestação, a fase anágena, que é aquela em que ocorre o crescimento dos fios, é prolongada. Então, no geral, a mulher fica com um cabelo mais volumoso e há diminuição da queda. Larissa Tozzi, dermatologista

Essa mudança acontece devido ao aumento do hormônio estrogênio. No pós-parto, com a queda da substância, porém, o efeito é o contrário: queda de cabelo. Mas a perda dos fios, além de ser considerada normal, é temporária e geralmente se estabiliza dentro de seis meses após o nascimento do bebê.

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5. Alterações hormonais

Além da gestação, outro período que costuma alterar o ciclo capilar na mulher é a menopausa. Com a diminuição nos níveis de estrogênio e progesterona —hormônios que influenciam no crescimento dos fios—, um sintoma comum é a queda de cabelo.

Desequilíbrio de DHT está relacionado à calvície masculina. Os homens também podem perder fios quando há alterações nos níveis de di-hidrotestosterona (DHT) —uma substância produzida pela testosterona— combinadas com fatores genéticos.

Problemas na tireoide. Tanto o hipotireoidismo quanto o hipertireoidismo podem levar à perda temporária dos fios.

6. Dietas restritivas e uso de 'chip da beleza'

Os especialistas ouvidos por VivaBem também citam "causas modernas" que frequentemente estão por trás das queixas de queda de cabelo ou crescimento lento dos fios nos consultórios:

  • Dietas restritivas sem acompanhamento profissional: a raiz do cabelo recebe nutrientes a partir dos vasos sanguíneos. Assim, se a pessoa tiver uma ingestão inadequada de nutrientes essenciais para o corpo, o crescimento capilar também poderá ser prejudicado.
  • "Chip da beleza". Trata-se de um implante de hormônios contraindicado pela SBEM para qualquer tipo de finalidade. Além da queda dos fios, os "chips" estão associados a outros efeitos colaterais, como acne, oleosidade, engrossamento da voz e aumento do clitóris.
  • Uso indiscriminado de medicamentos para perda de peso (seja pela ação direta do fármaco ou por alterações metabólicas provocadas por seu uso).

7. Infecções

Qualquer infecção grave com reação inflamatória sistêmica pode desencadear a queda dos fios.

A sífilis é um exemplo. O padrão de queda é característico nessa IST (infecção sexualmente transmissível): a perda de cabelos costuma ocorrer de forma concentrada em alguns locais do couro cabeludo, formando um padrão conhecido como "alopecia em clareira".

A perda de cabelo também é um dos sintomas mais comuns da covid-19 prolongada.

8. Doenças inflamatórias

A queda das madeixas também pode ser um sinal de doenças inflamatórias no próprio couro cabeludo, como o líquen plano pilar (os fios caem e vão deixando falhas na cabeça). Ou de problemas inflamatórios no intestino, que prejudicam a absorção de nutrientes e podem levar a déficits nutricionais —caso da doença celíaca.

Recomendações

  • Alimentação saudável: cada fio é composto por células que contêm uma proteína chamada queratina. E essas células precisam ser nutridas constantemente com proteínas, minerais e vitaminas. Alimentos como ovo, peixes, leite, abacate, espinafre, batata-doce e feijão são importantes para manter os fios nutridos e fortes.
  • Limpar e hidratar o couro cabeludo com o mesmo cuidado que dispensa aos fios. Além de ter muitos folículos pilosos, nos quais se formam os cabelos, a camada mais superficial do couro cabeludo é a pele --e toda pele precisa de cuidados e manutenção adequados para funcionar adequadamente.
  • Cuidado com as "soluções milagrosas". Xampus de uso veterinário vendidos sob a promessa de multiplicar os fios, por exemplo, não foram testados em humanos, podem causar reações no couro cabeludo e até piorar a queda dos fios. Polivitamínicos também só devem ser tomados com prescrição médica, nos casos em que, de fato, há deficiência de nutrientes.
  • Controlar estresse emocional. Esse é outro motivo comum por trás da queda repentina de cabelo. Quando o corpo está sob pressão emocional, mais folículos ficam na fase de repouso do ciclo capilar.
  • Investigar as causas por trás da queda de cabelo e buscar tratamento especializado.

O tratamento para a queda de cabelo é de acordo com a causa e as causas são inúmeras. Então, não vai ser um xampu anti-queda que vai se tornar a solução milagrosa para todos esses tipos de queda. Ou um polivitamínico. O tratamento precisa ser direcionado para o diagnóstico, precisa ser individualizado. Não existe receita de bolo. Larissa Tozzi, dermatologista

Opções de tratamento

O médico João Gabriel Nunes acredita que a melhor opção de tratamento para a calvície total é o transplante capilar.

"Nesses casos, transferimos fio a fio os cabelos da região lateral para a região onde a pessoa já perdeu cabelo", explica o membro da SBC (Sociedade Brasileira do Cabelo) e fundador do Centro Médico Capilar (SP).

Outra opção é o MMP, indicado para tratar a diminuição do volume capilar causada pela calvície. Segundo Nunes, trata-se de um microagulhamento capilar com um "roller" ou máquinas, que faz pequenas perfurações no couro cabeludo e aplica uma mistura de substâncias para auxiliar o cabelo a crescer.

Se as causas da queda dos fios ou crescimento lento forem hormonais, o tratamento deve ser feito com um endocrinologista. Já doenças do couro cabeludo devem ser tratadas com um dermatologista.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Anteriormente, o texto dizia "homem de descendência africana", mas, na verdade, é "ascendência africana". A matéria foi corrigida e atualizada.