É verdade que frutose em excesso causa cirrose não alcoólica?
Apesar de não ser tão divulgada quanto sua "irmã", a cirrose não alcoólica mata e pode ser causada pelo excesso de consumo de frutose, mas calma, não se preocupe com as frutas que você consome, a gente explica. É uma doença silenciosa, que pode demorar até 20 anos para se desenvolver e começa como uma gordura no fígado.
Além da ingestão excessiva de frutose, conhecido como "açúcar das frutas", aumentam os riscos do desenvolvimento e mais rápida será a progressão da cirrose não alcoólica se o paciente não fizer atividade física, ou tiver alguma condição como diabetes, obesidade ou colesterol alto.
Atenção: a frutose é um açúcar que vem das frutas, mas não são elas as causadoras da cirrose, mas, sim, a frutose artificial presente em bebidas e alimentos processados. A frutose industrial é extraída do xarope de milho e não possui nenhuma propriedade nutricional.
Mesmo que você pense: E se eu comer muitas frutas por dia, corro risco de desenvolver cirrose não alcoólica?
De acordo com Rosangela Passos de Jesus, professora da Escola de Nutrição da UFBA (Universidade Federal da Bahia) e Edmundo Lopes, professor de gastroenterologia da Faculdade de Medicina da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) e ex-presidente da SBH (Sociedade Brasileira de Hepatologia), não, pois as frutas têm pouca porcentagem de frutose, e a fibra presente nelas ajuda na diminuição da absorção de colesterol, gorduras e açúcares.
Então, definitivamente, as frutas não estão associadas com o desenvolvimento de esteatose e esteatohepatite não alcoólica.
O excesso de consumo de frutas está bem longe da realidade do nosso país. Segundo a OMS, a população adulta deveria ingerir cinco porções de frutas, verduras e hortaliças por dia, mas apenas 24% dos brasileiros costumam comer essa quantidade recomendada.
O que realmente deve gerar preocupação, segundo os especialistas ouvidos pela reportagem de VivaBem, além das bebidas e alimentos processados, como refrigerantes e enlatados, é o mel, que é feito com quase 40% de frutose, e o xarope de milho, que é um tipo de açúcar artificial utilizado em ampla escala pela indústria como conservante e flavorizante de diversos produtos alimentícios.
Como a doença hepática gordurosa pode evoluir para cirrose?
A cirrose não evolui rapidamente e deriva de uma gordura no fígado conhecida como doença hepática gordurosa não alcoólica. Apesar de a maioria dos pacientes com cirrose não apresentarem sintomas no começo, eles podem sentir muito desconforto abdominal no lado direito, fadiga e cansaço.
Afetando de 25% a 30% da população mundial, a morbimortalidade associada a essa doença tem aumentado junto com o crescimento do excesso de peso na população.
"Conforme evolui, pode virar um esteatose hepática levando a uma inflamação no fígado, que pode gerar a fibrose no fígado, que é uma cicatriz. Conforme a progressão da fibrose pode ser desenvolvida a cirrose", explica Renato Altikes, hepatologista do Hospital Santa Catarina (SP).
Ainda segundo Altikes, conforme a doença vai avançando, além de mudar o funcionamento do fígado, também altera a vascularização dos rins. O sangue terá mais dificuldade de passar na região em razão do endurecimento do fígado e pode gerar a chamada hipertensão portal (aumento anormal da pressão sanguínea na veia que transporta o sangue do intestino ao fígado) gerando consequências mais graves: varizes no esôfago e formação de líquido na barriga com risco de ter sangramento, olhos amarelados e aparecimento de hematomas com facilidade.
O fígado passa a produzir menos proteínas e ter menos capacidade de limpar as toxinas do sangue. Quando a pessoa está com a cirrose mais avançada ainda, os órgãos começam a parar de funcionar porque eles dependem do fígado.
A frutose pode causar a cirrose não alcoólica porque, diferentemente da glicose, outro açúcar que é transformado em energia por qualquer célula presente no nosso corpo, a primeira só pode ser metabolizada pelo fígado.
Mesmo tendo causas diferentes, segundo Lopes, do ponto de vista fisiopatológico, a esteato-hepatite alcoólica e esteato-hepatite não alcoólica são muito parecidas, tanto que o médico só saberá qual é a doença se o paciente disser que bebe ou não, por exemplo.
Como evitar o desenvolvimento da doença
Assim como as doenças crônicas e o sedentarismo podem acelerar a progressão da cirrose não alcoólica, bebidas alcoólicas também podem. Para evitá-la, o ideal também é evitar ingerir produtos processados e ultraprocessados ao longo do dia.
Além da recomendação diária de 30 minutos de atividade física, a OMS indica que a pessoa consuma no máximo 10% das calorias diárias provenientes de açúcar, seja ele de qualquer tipo, inclusive de frutose. Considerando uma dieta de 2.000 calorias, esse percentual equivale a 50 gramas de açúcar por dia (cerca de dez colheres de chá), com cada grama de glicose e frutose produzindo quatro calorias, segundo Lopes.
As frutas secas ou desidratadas como figos, maçãs, uvas, manga e abacaxi são alimentos ricos em frutose concentrada, o que aumenta o nível total de açúcar nessas frutas secas. Uma porção de 100 g de uvas-passas, por exemplo, contém aproximadamente 30 g de frutose.
Apesar das frutas não serem responsáveis pela cirrose, a nutricionista da UFBA chamou a atenção para a tâmara: por ser uma fruta com alto índice de frutose, com 32 g presentes a cada 100 g do alimento, deve ser consumida com moderação.
Mesmo para quem já tem a doença hepática gordurosa não alcoólica, Passos de Jesus recomenda a ingestão de três porções por dia de frutas frescas.
Alimentos com mais frutose
- Refrigerante
- Molho de tomate
- Biscoito
- Sorvete
- Chocolates
- Barra de cereal
- Pães adocicados
- Bolos
- Achocolatados
- Iogurtes industrializados
- Ketchup
- Geleias
- Cereais matinais
- Comidas congeladas
- Enlatados
- Molhos
- Caldas e coberturas
- Sucos naturais ou industrializados de frutas, principalmente elaborados com pera, manga, laranja, tangerina e maçã
Só para ter uma ideia, Passos de Jesus listou a quantidade de frutose artificial em alguns produtos industrializados:
- Xarope de milho: de 42 g a 55 g.
- Molho barbecue: 17,5 g.
- Cereal matinal de milho com açúcar: 12,3 g.
- Suco de uva: 7,3 g.
- Cookie de chocolate: 6,3 g.
- Coca-Cola: de 250ml contém em torno de 20 g.
- Fatia pequena de goiabada: aproximadamente 8 gramas de frutose.
- 1 copo de 200 ml de refrigerante ou bebida açucarada tipo néctar: tem aproximadamente 10 gramas de frutose.
Frutose x frutas
Passos de Jesus recomenda dar preferência à ingestão das frutas naturais, de forma equilibrada, em substituição aos sucos, doces e geleias.
Os vegetais como tomate, repolho, aspargos, cebola, pepino, beterraba, cenoura, milho, abóbora e batata doce apresentam baixo teor de frutose em relação a outros alimentos, sendo que geralmente contém aproximadamente 1 g a 2 g de frutose por 100 g de alimento.
Se você seguir a recomendação da OMS, comendo de três a cinco porções de frutas por dia, isso pode propiciar a ingestão entre 6 e 36 gramas de frutose. Tendo isso em vista, é possível entender que a quantidade de frutose proveniente da ingestão de frutas não é elevada quando comparada à ingestão deste açúcar a partir de alimentos industrializados, que apresentam grande concentração de frutose artificial.
Além disso, a profissional listou frutas, verduras e grãos versus a quantidade de frutose presente.
- Manga: em uma unidade de tamanho médio contém aproximadamente 8 g desse açúcar.
- Ameixa: a cada 100 g contém 3,8 g de frutose.
- Caqui: uma fruta de tamanho médio oferece 6,4 g de frutose ao organismo.
- Maçã: uma unidade média da maçã contém 9,5 g de frutose, sem casca diminui para 6,4 g.
- Banana: uma fruta de tamanho médio contém 7,1 g de frutose.
- Laranja: a cada 100 g contém 4,4 g de frutose.
- Tangerina: proporciona 4,8 g de frutose por unidade de tamanho médio.
- Caqui sem casca: tem 5,5 g.
- Milho: uma unidade de 100 g tem 2,5 g de frutose.
- Tomate: em 100 g do fruto contém 1,3 g.
- Feijão verde: tem 1,6 g deste açúcar.
- Batata inglesa pequena: em uma unidade apenas 0,26 g.
- Melancia: em 100 g tem 4 g.
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