Trauma, paralisia: atenção aos riscos de pular em mar, cachoeira e piscina
Tem seguido perfis de viagens nas redes sociais? Pois nessa época do ano é muito comum ver fotos e vídeos de gente saltando em águas aparentemente bastante convidativas. Porém, o que maioria não deve saber é que, no verão, o mergulho em água rasa é a 2ª maior causa de lesão medular, segundo a SBOT (Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia).
Não importa se é piscina, mar, cachoeira, o que for, quem gosta de mergulhar se coloca em risco. Obviamente que o risco de sofrer um acidente mais grave é maior se houver no local do salto a presença de obstáculos, como pedras escorregadias e pontudas, troncos de árvores e bancos de areia, que muitas vezes passam despercebidos por estarem ocultos.
Mas não pense que pular em águas profundas é mais tranquilo. Já pensou ser surpreendido por correntezas, trombas d'água, redemoinhos ou algum animal nocivo? Vai que de repente você também sinta câimbras, fadiga, falta de ar e mal-estar. Se o sujeito não dá conta de alcançar o fundo, será muito mais difícil sair de tal situação, que pode até matá-lo.
Entre na água sempre pelos pés
Para evitar tragédias, especialistas recomendam nunca entrar na água aos pulos, ainda mais com acrobacias. Antes, colocar, com cuidado, primeiro um pé e depois o outro, para ter uma noção real da profundidade de piscinas, mares, rios, o que for, além de sua temperatura. Com os pés no solo, ainda é necessário tateá-lo para saber o que há por ali e adquirir segurança.
Agora, não pense que depois dessa primeira etapa, de reconhecimento, está tudo bem querer saltar. Não há garantias nem quando se pula na água com o corpo na vertical, em pé. Em um ângulo quase perpendicular, ou seja, reto, o impacto sobre a água pode provocar luxações, torções, comprometer articulações e fraturas em pés e pernas, que podem ficar paralisadas.
Quanto maior a altura do salto, também maior a probabilidade de se ferir e isso devido à intensidade da velocidade. Não dá para cravar uma altura segura para pular na água, pois são muitas variáveis. Pular de trampolins ou pontos elevados a vários metros requer muita experiência, ser de fato esportista profissional, não amador.
De cabeça, há risco de tetraplegia
Alguns traumas são ainda mais danosos. Em consequência de um mergulho de cabeça mal planejado, em locais muito rasos, em que não se pode afundar muito ou acaba se acertando algum dos obstáculos citados, podem ocorrer lesões na coluna, que recebe toda a força do corpo lançado para baixo. Fora traumatismos em mãos e crânio e disfunções neurológicas.
Se ocorrer uma interrupção parcial das conexões nervosas entre cérebro e membros, em geral na altura da coluna dorsal ou lombar, a pessoa pode ficar paraplégica, ou seja, perde a função muscular na metade inferior do corpo. Agora, se o trauma envolver a medula, o desfecho é a tetraplegia, que consiste na interrupção total e perda dos movimentos do pescoço para baixo.
Dados da SBC (Sociedade Brasileira de Coluna) apontam que a maior parte das vítimas é jovem: 90%. Com sequelas, cerca de 60% perdem os movimentos de braços ou pernas. Após um acidente desse tipo, não mova a cabeça, mas acione ajuda médica urgente, como o Samu. No máximo, a vítima deve ser retirada da água para prevenir riscos de afogamento e hipotermia.
Como evitar acidentes com mergulhos
No que compete a traumas e deficiências físicas provocados por acidentes com mergulhos, saiba que poderiam ser totalmente evitados com as medidas simples de precaução abaixo:
- Não se arrisque em águas turvas ou desconhecidas;
- Não mergulhe após consumir bebida alcoólica ou substâncias que afetem o raciocínio;
- Não brinque de empurrar amigos e familiares dentro da água;
- Não pule de lugares altos, mesmo que se trate de uma atração turística;
- Verifique a profundidade da área de mergulho. Procure por marcações, placas ou avisos. O ideal é que ela tenha ao menos o dobro de sua altura;
- Atenção redobrada em locais de natureza, com pedras, árvores, correntezas e animais;
- Não corra para saltar em piscinas, principalmente estreitas ou com bordas escorregadias;
- Não salte com cambalhotas, de costas ou de cabeça na água;
- Em todo local que frequentar, faça o reconhecimento prévio com os pés;
- Não se deixe levar por provocações de que se é medroso e nem instigue crianças a pular.
Fontes: Alexandre Fogaça, professor do Departamento de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina na USP; Júlio Barbosa, médico pela UFBA (Universidade Federal da Bahia) e especialista em neurocirurgia; e Nelson Douglas Ejzenbaum, membro da AAP (Academia Americana de Pediatria).
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