Número de médicos sobe 8% em 2 anos, mas segue concentrado no Sul e Sudeste
O número de médicos no Brasil aumentou 8% em dois anos, saltando de 505 mil profissionais em 2020 para 546 mil em 2022, segundo os dados da nova Demografia Médica Brasileira divulgada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) nesta segunda-feira (6). Isso significa que cerca de 40 mil novos médicos entraram no mercado nos últimos dois anos - o que totaliza uma densidade de 2,6 médicos a cada 1 mil habitantes. Apesar desse aumento, o Brasil ainda enfrenta o problema de concentração de profissionais nas regiões Sul e Sudeste.
Se esse ritmo de novos formandos se mantiver, o CFM estima que em cinco anos o país terá 3,63 médicos por 1 mil habitantes (cerca de 837 mil profissionais em números absolutos), índice que supera a densidade médica registrada na média dos 38 países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento (OCDE).
Não existe um índice oficial ou "ideal" de médicos por cada 1 mil habitantes estabelecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) - esse número varia de acordo com as condições e necessidades epidemiológicas de cada país - mas o atual índice brasileiro (de 2,6 médicos por mil pessoas) se aproxima ao dos Estados Unidos, que tem 2,6 médicos por 1 mil habitantes; Canadá (com 2,7), Japão (2,5) e Coreia do Sul (2,5). A África do Sul tem 0,8 médicos por 1 mil habitantes, assim como a Índia.
Com a entrada de novos médicos no mercado e o alcance de 3,63 profissionais a cada 1 mil habitantes, em 5 anos o Brasil ultrapassará a densidade médica de países como Nova Zelândia (3,4); Irlanda (3,3); Israel (3,3); França (3,2) e Reino Unido (3). Segundo relatório da Associação Brasileira de Mantenedoras do Ensino Superior, a OCDE recomenda um número mínimo de 3,5 médicos por 1 mil habitantes.
Aumento de escolas médicas
Esse aumento expressivo no número de médicos no Brasil é atribuído ao crescimento acelerado no número de escolas médicas e aberturas de vagas nos últimos dez anos no país. A Radiografia Médica do Brasil, que traz dados sobre a infraestrutura das faculdades de medicina, aponta que o país tem 353 escolas médicas - praticamente metade delas (173) foram abertas entre 2011 e 2021, oferecendo 20 mil novas vagas. Segundo os registros do CFM, em 2010 o país tinha uma proporção de 1,95 médicos a cada 1 mil pessoas e, em 12 anos, chegou aos 2,6.
Concentração nas capitais do Sul e Sudeste
Apesar de o número de médicos aumentar a cada ano e atingir números absolutos considerados suficientes para atender à população, isso não se reflete na realidade porque ainda há desigualdades na distribuição desses profissionais, que não se fixam em todos os Estados brasileiros e tendem a se concentrar nas regiões Sul e Sudeste, especialmente nas capitais e grandes municípios.
Segundo os dados da Demografia Médica, nas 49 cidades com mais de 500 mil habitantes, que juntas concentram 32% da população brasileira, estão 62% dos médicos do país. Já nos 5.244 municípios com até 50 mil habitantes, onde moram 65,8 milhões de pessoas (30% dos brasileiros), estão pouco mais de 8% dos profissionais da área.
Ainda segundo a base de dados, as 27 capitais brasileiras reúnem 54% dos médicos (juntas elas representam um quarto da população brasileira) e concentram uma média de 5,77 médicos por 1 mil habitantes. Há dados que chamam ainda mais a atenção: Vitória, por exemplo, capital do Espírito Santo, concentra 14,4 médicos por 1 mil, enquanto São Paulo registra 6 profissionais a cada 1 mil pessoas e, o Distrito Federal, 5,8.
As cidades do interior têm muito menos médicos na proporção: no interior do Amazonas, por exemplo, a densidade de médicos por 1 mil habitantes é de 0,15. No Acre, 0,62. No Pará, 0,43, e, no Amapá, 0,21. Por outro lado, o interior de São Paulo concentra 2,33 médicos por cada 1 mil pessoas e, o de Santa Catarina e o do Rio de Janeiro, 2,25 e 2,16, respectivamente. Já a concentração de médicos no interior da Bahia é de 0,90 por 1 mil e, o de Pernambuco, de 0,69.
"Existe um número exacerbado de escolas médicas no Brasil sem condições de funcionar adequadamente, sem hospitais escola, sem qualidade de ensino. Aumentar escolas médicas não significa que vamos alcançar a distribuição desejada de profissionais no Brasil. Se não houver uma política de governo voltada para essa fixação, a má distribuição médica vai persistir", destaca o presidente do CFM, José Hiran Gallo.
Na avaliação de Julio César Martins Monte, coordenador do curso de Medicina do Hospital Israelita Albert Einstein, a fixação do médico nos locais mais distantes depende de uma política de estado que regulamente a relação entre centros de formação e infraestrutura do SUS local, além de programas de residência médica, particularmente nas principais áreas de atuação: pediatria, cirurgia geral, clínica médica, ginecologia e obstetrícia e medicina da família e comunidade.
"O que fixa o médico em determinado local não é a graduação e sim programas de residência de qualidade para que esse médico continue a sua formação. Caso contrário, ele vai se formar e vai buscar as capitais", diz Monte.
Para Gallo, do CFM, programas como o Mais Médicos (que foi criado para distribuir médicos para as regiões mais distantes) podem funcionar como ação emergencial desde que os profissionais vindos do exterior passem pela prova do Revalida - exame do Ministério da Educação feito para avaliar a formação de cada profissional. "Não temos oposição ao atendimento de médicos do exterior, mas eles precisam passar pelo Revalida, que é lei", frisou.
Raio-x dos médicos
A Demografia Médica mostra ainda que os homens ainda representam 51% do contingente ativo de médicos (277,8 mil profissionais) e as mulheres 49% (267,7 mil). A evolução dos indicadores mostra a tendência de que, em poucos anos, as mulheres sejam a maioria. Em 1990, elas eram apenas 30% da força de trabalho médica, passando para 39,9, em 2010, e chegando, agora, a quase metade.
Os dados mostram ainda que entre médicos registrados no país, cerca de 521 mil se formaram no Brasil e quase 21 mil no exterior. Pelo diagnóstico do CFM, também é possível ver que a média geral de idade dos médicos em atividade vem caindo nos últimos anos: em 2015 a média de idade era 45,7 anos e agora está em 44,9. Esse fenômeno também é atribuído ao crescimento do número de cursos e vagas de graduação de medicina.
A proporção entre generalistas e especialistas está praticamente igual: 297.800 generalistas para 298.300 especialistas. Ainda não há dados sobre cada tipo de especialidade, informação que deve ser incluída na base de dados da demografia em breve.
Plataforma on-line
A Demografia Médica começou a ser realizada em 2010, com dados impressos em um relatório e era atualizada a cada dois anos. A partir de agora, ela será uma plataforma totalmente on-line e os dados serão atualizados praticamente em tempo real - já que todo médico que se forma obrigatoriamente precisa se registrar no CFM. O Conselho pretende ainda criar novos filtros e atualizar o sistema a cada seis meses.
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