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O que acontece no seu corpo quando você tem prisão de ventre

Arte UOL
Imagem: Arte UOL

Cristina Almeida

Colaboração para VivaBem

07/02/2023 04h00

Para garantir a boa saúde, o processo digestivo está programado para tirar o máximo proveito dos alimentos ingeridos diariamente. A última etapa desse trabalho é descartar o que já não interessa ao organismo. Quando o sistema excretor não encontra condições para finalizar essa tarefa, um dos sinais de alerta é a prisão de ventre.

Queixa comum nos consultórios médicos de todo o mundo, esse incômodo é também conhecido como constipação ou intestino preso, e pode se manifestar desde os primeiros dias de vida até a idade avançada.

  • O sintoma é mais comum entre as mulheres e os idosos.
  • Para 8 em cada 10 pessoas, a origem do problema é a dieta inadequada, falta de exercício físico e hidratação deficiente.
  • 52% dos indivíduos declaram redução na qualidade de vida.
  • Para 69% deles, o problema já atrapalhou a vida profissional ou escolar.
  • Para 12% foi causa de ausência nesses ambientes.
  • Na população não branca a prevalência é maior.

Ai, como dói!

Quando a prisão de ventre é crônica, isto é, se prolonga no tempo, aumentam os riscos do aparecimento de outros desconfortos. Os mais comuns são cólica e distensão abdominais, esforço ao evacuar, náuseas e alterações no apetite.

Para além dessas manifestações, as principais complicações são:

  • Fissura
  • Hemorroida
  • Compactação fecal

Você tem uma fissura, literalmente

A fissura é uma laceração (rompimento) ou ferida na pele que reveste o ânus. A lesão resulta da passagem de fezes duras ou volumosas.

  • Podem aparecer em pessoas de todas as idades e gêneros. Crianças e adultos são os grupos mais afetados.
  • Dor e sangramento estão presentes durante ou depois da evacuação. Esses sintomas podem durar de minutos a horas.
  • A fissura provoca contrações no esfíncter anal.
  • Medicamentos, cremes específicos, supositórios e banhos de assento ajudam a aliviar o desconforto.

Você "pega na veia" da hemorroida

Veias dilatadas na região do ânus ou do reto podem aparecer ou se agravar com a prisão de ventre. Tudo culpa do esforço e do aumento da pressão continuados durante as idas ao banheiro.

  • Dietas pobres em fibras e com baixo consumo de água levam ao endurecimento das fezes e ao aumento do esforço. O resultado é um trauma que induz sangramento.
  • Pode haver dor intensa, coceira em volta do ânus e inchaço local.
  • Esses sintomas tendem a passar em poucos dias, mas há medicamentos que aceleram o processo. A depender da gravidade, pode ser necessária uma cirurgia.
  • Gestantes são mais suscetíveis, seja pelo aumento do peso corporal, seja pela maior pressão na região.

Você "liga" o compactador de fezes

Intestino preso crônico pode levar ao endurecimento das fezes que se encontram na última parte do intestino grosso e do reto.

Duro e seco, o cocô fica compactado e forma um tampão que bloqueia o trânsito do excremento restante. Os médicos definem este quadro como fecaloma.

A partir daí, não dá para evacuar de forma natural. Cólicas, dor e inchaço retais, perda de sensibilidade local e piora do quadro são possíveis consequências, que ainda incluem:

  • Incontinência (fecal ou urinária).
  • Saída do reto pelo ânus, que pode ter também como causa o esforço para evacuar (prolapso retal).
  • Retenção urinária, dada a pressão feita sobre a bexiga.
  • Sangramento.
  • O quadro é mais frequente entre idosos, especialmente mulheres que vivem em instituições de longa permanência (70%).

Será que sou normal?

Para saber se você tem prisão de ventre é preciso observar como a sua evacuação acontece. Se as fezes forem duras e secas, tiverem volume pequeno e você ainda sente a sensação de eliminação incompleta quando sai do banheiro, as chances de você ter este sintoma são altas. A definição é do Colégio Americano de Gastroenterologia.

  • Cada pessoa tem seu próprio ritmo.
  • A frequência considerada normal varia de 3 vezes ao dia a 3 vezes por semana.
  • Fazer cocô todos os dias não é obrigatório.
  • A eliminação deve ser indolor e sem esforço.

De vez em quando, todo mundo tem

Situações como viagens e estresse podem alterar o seu ritmo intestinal vez por outra. Na maioria das vezes, a prisão de ventre se resolve em alguns dias.

E mesmo quando o quadro é mais frequente, ele não traz maiores consequências. Algumas condições, porém, podem atrapalhar o bom andamento das coisas:

  • Tempo e intensidade da prisão de ventre.
  • Ser idoso.
  • Ser mulher e ter tido mais de um parto.
  • Ter doença de Chagas.
  • Muitos dias e até semanas sem evacuar.

A constipação pode vir acompanhada de outras disfunções como o refluxo gastroesofágico e a síndrome do cólon irritável. Caso o sintoma não melhore por mais de 30 dias, o indicado é fazer uma avaliação médica. A ideia é identificar a causa, tratar corretamente e o mais rápido possível.

Laxante sim, mas com orientação

Ele pode fazer parte do tratamento e até da prevenção da prisão de ventre, mas evite a automedicação. O ideal é que esse uso seja orientado pelo seu médico, que terá melhores condições de indicar as opções mais adequadas para você, considerando as características do seu quadro clínico e do seu histórico de saúde.

Probióticos, usar ou não usar?

Os benefícios dos probióticos para a saúde intestinal têm sido observados pelos cientistas nos últimos anos e ainda há muito a ser explorado. Até o momento, não existe um consenso sobre a melhor forma de utilizá-los no tratamento da prisão de ventre.

O que já é unanimidade é que, antes de usar qualquer tipo de probiótico, é preciso adequar os hábitos de vida.

  • Usá-lo de forma isolada não traz benefícios duradouros.
  • A adoção de um padrão alimentar saudável ao longo da vida promove um ambiente adequado, permitindo a manutenção positiva da microbiota.
  • Experiências de sucesso têm mostrado que eles são úteis quando combinados com prebióticos, cujas fontes podem ser de alimentos in natura, como alho, cebola, banana e outros, ou os vendidos na farmácia.

Como fazer sua "harmonização" intestinal

Constipação é sintoma e não doença. E isso tem a ver com vários fatores, como hábitos de vida, sedentarismo, comportamento emocional e psíquico, uso de medicamentos e outras substâncias, além do desequilíbrio de microrganismos da flora intestinal, entre outros.

Essa complexidade, por si só, indica a necessidade da investigação das possíveis causas do problema quando ele se prolonga por mais tempo. Se o quadro aparece só de vez em quando, a dica é melhorar o padrão alimentar.

  • Como regra geral, seja proativo: prefira alimentos frescos e naturais ou minimamente processados; evite alimentos ultraprocessados (refrigerantes, biscoitos, etc.).
  • Beba mais líquidos, principalmente água.
  • Coloque mais movimento no seu dia a dia.

Caso prefira ter acompanhamento especializado para não perder o foco, comece fazendo uma avaliação com um profissional da nutrição em alguma UBS (Unidade Básica de Saúde) próxima da sua casa, ou marque uma consulta na rede privada.

Fontes: José Joaquim Ribeiro da Rocha, docente da divisão de coloproctologia do Departamento de Cirurgia e Anatomia do Hospital das Clínicas da FMRP-USP (Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo), e médico responsável técnico da Proctogastroclínica de Ribeirão Preto; Marcelo Maurício Germoglio, gastroenterologista do HULW-UFPB (Hospital Universitário Lauro Wanderley da Universidade Federal da Paraíba), que integra a rede Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares); e Paula Angela D'Oliveira Araújo Rossi, nutricionista com doutorado em ciências médicas pela FMUSP, mestrado em Oncologia pelo A. C. Camargo Cancer Center (SP) e atuação em consultório particular em São Paulo. Revisão técnica: Paula Angela D'Oliveira Rossi.

Referências:

  • Ministério da Saúde
  • SBCP (Sociedade Brasileira de Coloproctologia)
  • ACG (American College of Gastroenterology)
  • Diaz S, Bittar K, Mendez MD. Constipation. [Atualizado em 2022 Jul 25]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2022 Jan-. Disponível em https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK513291/
  • BELSEY, J., GREENFIELD, S., CANDY, D., & GERAINT, M. (2010). Systematic review: impact of constipation on quality of life in adults and children. Alimentary Pharmacology & Therapeutics. doi:10.1111/j.1365-2036.2010.04273.x
  • Higgins P. D. R., Johanson J. F. Epidemiology of constipation in North America: a systematic review. The American Journal of Gastroenterology. 2004; 99(4):750-759. doi: 10.1111/j.1572-0241.2004.04114.x