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Jovem que diz ser Madeleine McCann teria amnésia pós-traumática; o que é?

Jovem afirma ser Madeleine McCann, menina que desapareceu em Portugal em 2007 - Reprodução
Jovem afirma ser Madeleine McCann, menina que desapareceu em Portugal em 2007 Imagem: Reprodução

Do VivaBem, em São Paulo

17/02/2023 16h44

Uma jovem de 21 anos, identificada como Julia Faustyna, afirma ser Madeleine McCann, menina que desapareceu em 2007, aos 3 anos, durante férias com os pais em Portugal.

Julia, que mora na Polônia, afirma que tem amnésia pós-traumática, uma condição que a impediria de lembrar da infância. No entanto, ela afirma recordar de passar férias em um país quente com apartamentos brancos e onde viu "tartarugas bebês".

Em um perfil no Instagram, ela compartilha montagens com "evidências" de que seria a criança, como fotos comparando as duas e os traços de Julia com os de Kate McCann, mãe da menina sequestrada.

Amnésia pós-traumática existe?

Sim. Há um transtorno que causa perda de memória em pessoas após traumas, sejam eles físicos ou emocionais. É a amnésia dissociativa.

  • Trauma físico: a pessoa sofre algum tipo de pressão, deslocamento ou machucado no sistema nervoso e, por conta desse choque, pode ter confusão das memórias. Normalmente, são quadros transitórios, a depender do tamanho da lesão.
  • Trauma psicológico: a amnésia também é chamada de psicogênica. A pessoa "apaga" momentos da memória após algum tipo de trauma ou estresse emocional. É um tipo de transtorno em que a pessoa não consegue recordar informações importantes dela mesma, às vezes não sabendo quem ela é. Pode ainda perder pontos de memória de algum período ou questão --como os instantes que precederam a situação estressora.

"A recuperação pode durar horas, semanas ou meses, mas é incomum que demore anos", explica o psiquiatra Jairo Bouer, colunista de VivaBem.

Em alguns casos de perda de memória, explica o médico, é comum que a pessoa construa uma nova narrativa para a sua vida e acredite que ela é real. Esse processo é chamado de fabulação. "O que acontece é que a pessoa preenche o espaço da memória com fabulação, em que cria uma história e passa a acreditar que seja verdadeira", diz Bouer.

Pode ser que essa menina tenha tido outro tipo de trauma, teve uma perda de memória e preencheu com a história da Madeleine, afinal é algo que se fala muito. Ela incorpora como sendo dela, e acredita piamente nisso. A menina sumiu com 3 anos, e muitas crianças nem guardam memórias nenhuma dessa parte da infância. Jairo Bouer, psiquiatra

Quadro pode ser confundido com outros transtornos

O quadro de amnésia dissociativa, inclusive, pode ser confundido com outros transtornos mentais, como o estresse pós-traumático e casos mais graves de depressão, segundo Diogo Haddad, neurologista do hospital alemão Oswaldo Cruz (SP).

"Já tivemos casos de pessoas que achavam que era a amnésia dissociativa, mas, ao investigar, estavam com outra doença neurológica", diz. "Por isso, é importante ter cuidado na hora dessa investigação, sempre excluir outros problemas neurológicos que podem causar isso."

Caso o diagnóstico de amnésia dissociativa seja confirmado, Haddad explica que os médicos podem prescrever remédios que ajudam no tratamento, além de sessões de psicoterapia.