Topo

Equilíbrio

Cuidar da mente para uma vida mais harmônica


Não curte Carnaval, mas se sente mal por perder blocos? Veja como lidar

Carnaval de Salvador agitado com Bell Marques - Fábio Cunha/Divulgação
Carnaval de Salvador agitado com Bell Marques Imagem: Fábio Cunha/Divulgação

Rodrigo Lara

Colaboração para o VivaBem

18/02/2023 04h00

Para muitos brasileiros, esse mês de fevereiro é um dos mais aguardados dos últimos anos. E o motivo para isso pode ser resumido em uma palavra: Carnaval. Afinal, essa é a primeira vez desde 2020 que a principal festa do país não será afetada pela pandemia de covid-19.

Essa ansiedade, porém, não é compartilhada por todos e, sim, há quem não goste ou simplesmente não dá muita importância para esse grande evento. E, dentre esse público, há três tipos básicos: os que simplesmente odeiam o Carnaval, os que são indiferentes e aqueles que ficam com a sensação de que deveriam participar da festa.

  • Pressão social para gostar de Carnaval pode incomodar quem não curte a festa.
  • Situação remete à "fomo", sigla para Fear Of Missing Out, ou medo de estar perdendo algo.
  • Muitas vezes, não gostar da festa pode gerar uma sensação de não pertencimento.
  • Segundo especialistas, melhor caminho é não forçar e aprender a respeitar sua própria vontade.
  • Sentir-se mal durante o Carnaval não significa problemas psicológicos, mas é preciso analisar se isso está inserido em um contexto mais amplo.

Se você faz parte do último grupo, saberá bem qual é a sensação. Tudo começa umas semanas antes do Carnaval, quando amigos, familiares ou cônjuges lançam um convite para ir em algum bloco ou evento relacionado à festa. Depois de responder falando que "acha que rola", conforme o evento se aproxima a preguiça acaba vencendo e, no fim, você arranja uma desculpa para ficar em casa ou fazer alguma outra coisa.

No dia marcado, acontece algo inevitável: você acessa alguma rede social, vê as outras pessoas se divertindo e tem a sensação de que você deveria estar lá.

É algo que vale para muitas situações, mas pode encaixar bem nesse período carnavalesco, e envolve o sentimento de preocupação constante de não vivenciar algo que os outros estão, juntamente com a necessidade de estar conectado. Ligia Kaori Matsumoto, psicóloga que atua na UBS Alto da Riviera, gerenciada pelo CEJAM - Centro de Estudos e Pesquisas "Dr. João Amorim"

Se de início isso pode ser uma mera preocupação ou sensação de não-pertencimento passageira, em casos mais extremos há o risco de essa situação desencadear sintomas mais graves de depressão e ansiedade.

A dúvida que fica nesses casos é: o que fazer para evitar esse problema?

Primeiro passo: respeite sua vontade

É natural que haja uma espécie de pressão social, como se o mundo dissesse: "como assim você não vai sair por aí no Carnaval?".

O Carnaval é uma das festas que mais marcam a nossa cultura e tem toda uma dimensão lírica, poética e até erótica. E quando nos constituímos e nos formamos em uma cultura que tem nessa festa um marco dessa identidade, não participar é um trabalho de muito esforço e diferenciação. É difícil assumir sua vontade de não desejar estar lá. Marina Assis Pinheiro, professora do departamento de psicologia da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco)

Diante disso, é natural achar que uma saída para o problema seja se forçar a participar. E, aqui, não falamos de "ir para experimentar e ver o que acha" —o que é totalmente válido—, mas sim ir apenas para estar lá e acompanhar amigos, mesmo sabendo que não é algo que você curte.

"O Carnaval é uma festa marcada pela liberdade e se forçar a participar nunca é uma resposta interessante. Ao fazer isso, a gente está abrindo mão de nós mesmos", reforça Pinheiro.

Em uma situação do tipo, o melhor é não se cobrar excessivamente, entender o seu momento de vida e o porquê de não querer ir. Isso ajuda a assumir sua decisão com tranquilidade e não se julgar por isso. Giovana Lenzi, psicóloga do Hospital Santa Catarina

É claro que esse processo de aceitação sobre "ser diferente" é longo e tende a ser difícil. No caso do Carnaval, há de se considerar que estamos excessivamente expostos a conteúdos relacionados à festa em praticamente todos os tipos de mídias, da TV às redes sociais.

Uma opção para diminuir possíveis incômodos é adotar uma espécie de detox e aproveitar o período para fazer atividades que não envolvam estar em contato, ainda que indireto, com a festa.

Isso, claro, varia de pessoa para pessoa. E, uma vez que a pessoa esteja tranquila e segura de sua decisão, a tendência é que ter contato com conteúdos relacionados ao Carnaval tende a ser algo que não gera incômodo.

Não gostar de Carnaval não é problema

A música "Samba da Minha Terra", de Dorival Caymmi, diz "Quem não gosta do samba bom sujeito não é. Ou é ruim da cabeça ou doente do pé". Boa parte dos foliões mais empolgados —e até mesmo as pessoas que sofrem por não se empolgar com a festa— tendem a achar que quem não curte Carnaval tem algum transtorno psicológico.

Isso, porém, passa longe de ser verdade. "Hoje a gente patologiza demais, tudo se transforma em um transtorno ou desvio. Existem, claro, fobias sociais, mas não gostar de Carnaval não é, necessariamente, uma delas", diz Pinheiro.

Isso muda de figura se o "desgosto" pela festa estiver inserido em um contexto mais amplo. "É possível que, dependendo do caso, esse sofrimento relacionado ao Carnaval pode ser um sintoma de algo que já estava presente no dia a dia, como uma depressão. É um período propício para que surjam sinais mais realçados", afirma Lenzi.

Ainda de acordo com a psicóloga, é importante observar se esse tipo de sensação se repete em outros momentos e com frequência. "Ter esse tipo de auto-observação é importante, pois previne uma piora e facilita no momento da identificação e tratamento precoce de um possível distúrbio. De qualquer forma, não devemos generalizar ou exagerar na hora de avaliar essas situações", complementa.