Exercícios físicos podem levar ao orgasmo? O que se sabe sobre o assunto
"Tive uma sensação de corpo arrepiando, meu rosto foi ficando vermelho. Fiquei com medo de alguém perceber, então achei melhor parar o exercício", conta Dayane Araújo, 27, sobre a primeira vez que sentiu um prazer intenso, semelhante a um orgasmo, na academia.
A técnica de enfermagem, que mora em Belo Horizonte, relembra que estava malhando a região abdominal. "Estava pendurada em uma barra, fazendo elevação das pernas, quando aconteceu. Fiquei sem entender", lembra.
Com o passar dos treinos, ela percebeu que toda vez que repetia o exercício, a sensação retornava. Por isso decidiu pesquisar sobre o assunto. "Quando joguei a dúvida no Google, entendi que não era a única: várias outras mulheres já sentiram isso", afirma.
O mesmo estranhamento acometeu Nayara Teófilo, 25. A nutricionista, que mora em Vila Velha (ES), percebeu que os movimentos feitos na cadeira abdutora e na mesa flexora provocavam nela uma sensação forte de prazer, semelhante ao orgasmo das relações sexuais —mesmo que estivesse focada apenas nos exercícios, sem excitação.
"Na primeira vez, quando cheguei ao ápice da sensação, levei um susto. Com o tempo, se tornou algo frequente na minha rotina de treinos e acabei acostumando", garante. Ainda assim, confessa que já se sentiu constrangida, e "com medo de emitir algum som", devido à intensidade do prazer.
Na visão de Nayara, apesar de a sensação física lembrar a mesma da masturbação ou do sexo, a experiência é bastante diferente. "Não existe sentimento, tesão e nem intenção. É algo que você não está esperando: simplesmente acontece", detalha.
Nas redes sociais, pessoas de diferentes partes do mundo relatam experiências semelhantes. Em inglês, o fenômeno ficou conhecido como "coregasm", por estar relacionado a movimentos de fortalecimento do core, o conjunto dos músculos localizados na região central do corpo.
Alguns também apelidaram a experiência de "gymgasm", por ocorrer, na maioria das vezes, na academia —que em inglês é chamada de "gym".
O que diz a ciência sobre este tipo de orgasmo?
- Uma das primeiras menções ao assunto aconteceu em 1953, no livro "Sexual Behavior in the Human Female", escrito pelo biólogo e sexólogo norte-americano Alfred Kinsey.
- Nos resultados, 5% das mulheres entrevistadas disseram ter orgasmos durante a prática de exercícios.
- Em 2011, a pesquisadora Debby Herbenick, professora da Indiana University School of Public Health-Bloomington, nos Estados Unidos, publicou um estudo que se tornou referência no assunto.
- O resultado da pesquisa apontou que 23,4% das mulheres já tiveram esse tipo de orgasmo.
- Com 45,3% delas, a primeira experiência aconteceu durante a prática de exercícios abdominais, mas algumas citaram escalada, levantamento de peso, corrida e ioga como causadores da sensação.
- A pesquisa também contemplou a possibilidade de sentir prazer sexual sem necessariamente chegar ao orgasmo.
- Neste caso, o número de mulheres que confirmou a sensação saltou para 46,4%.
- Nesta categoria, a maioria apontou a bicicleta (normal ou ergométrica) como principal gatilho. Levantamento de peso e exercícios abdominais também foram citados.
Homens também podem ter?
- Apesar de o estudo não ser focado na experiência masculina, Debby cita nas considerações finais que recebeu e-mails de homens relatando a mesma vivência.
- Em entrevistas concedidas após a divulgação dos resultados, ela explicou que, por existir a possibilidade de ejaculação, muitos preferem evitar o orgasmo.
- Disse ainda que, na maior parte das vezes, o prazer é estimulado por exercícios de escalada, que exigem mais dos músculos do core.
Orgasmo sem tesão: uma questão a ser discutida
Consultada por VivaBem, a fisioterapeuta Lays Anorina, professora da UEPB (Universidade Estadual da Paraíba), considera que seriam necessários mais estudos para comprovar que o orgasmo —em especial o feminino— pode ser atingido somente por movimentos do corpo, sem estimulação mental.
- Contudo, ela não descarta que seja possível atingir um deles na academia, especialmente nas fases do mês em que os hormônios atuam aumentando a libido.
- Nayruz Ahmad Jradi, fisioterapeuta pélvica, obstétrica e sexual e professora da UEG (Universidade Estadual de Goiás), concorda que, até o momento, existem mais relatos online do que pesquisas científicas sobre o assunto.
- Entretanto, ressalta que a liberação de hormônios típica das atividades físicas (como serotonina e endorfina) somada ao aumento do fluxo sanguíneo na região pélvica criam um cenário favorável para o prazer sexual.
- Ela enfatiza, no entanto, que as questões relacionadas ao sexo são subjetivas. O que algumas mulheres chamam de orgasmo poderia ser resultado de formigamento, contrações e um possível tremor na área clitoriana.
- Independentemente da resposta, a especialista defende que prestar atenção às respostas do corpo é um caminho de autoconhecimento importante para a vida sexual e encoraja mais mulheres a fazerem isso.
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