Gerascofobia: por que as pessoas têm medo de envelhecer?
O medo de envelhecer não é novo, sempre foi uma preocupação desde a antiguidade. Mas a paranoia com o envelhecimento ganhou um nome: gerascofobia.
"É uma fobia específica, com sinais e sintomas de um transtorno de ansiedade extrema. Afeta o comportamento, a cognição e compromete a qualidade de vida das pessoas", diz Andrea Prates, médica especializada em geriatria e gerontologia pela PUC-RS.
Como consequência, os acometidos valorizam em excesso a aparência e tentam negar a passagem do tempo através de procedimentos estéticos exagerados.
A exigência de chegar bem à velhice, de estar bem para um padrão idealizado, pode acarretar prejuízos graves. Começa com a busca por atender a uma série de recomendações para atingir esse ideal, muitas vezes levando a um sofrimento grande, pois a pessoa persegue algo que não é real ou possível para ela. Raissa Silveira, psicóloga da Clínica Holiste, em Salvador (BA).
Construção social do envelhecimento
Viver muito, como hoje, é uma condição sem precedentes, e estamos nos adaptando a ela. E toda situação nova assusta, principalmente quando é permeada de preconceitos e estereótipos, como o envelhecer.
Prates explica que na sociedade industrial, por exemplo, o valor central era o trabalho. Quando este não era mais possível, as pessoas eram "descartadas". A aposentadoria foi instituída há mais de 130 anos, neste cenário, quando a expectativa de vida era baixa. As pessoas trabalhavam, se aposentavam, e morriam a seguir.
"Atualmente, com o aumento da longevidade e, mantida a idade da aposentadoria, elas permanecem mais tempo aposentadas. E, como o próprio nome revela, a aposentadoria sempre foi sinônimo de isolamento, recolhimento, afastamento, um envelhecer privado, restrito ao aposento", diz a médica.
Porém, as pessoas estão envelhecendo melhor e inaugurando um novo ciclo de vida após os 60 anos. "É preciso desconstruir essa ideia retrograda da aposentadoria, e construir uma nova imagem do envelhecer. Isso leva tempo", lembra.
Um novo olhar
Para dissociar o envelhecimento da solidão, da doença e do abandono, Prates acredita que a sociedade precisa falar mais abertamente sobre todos os aspectos da longevidade, incluindo as muitas coisas positivas.
Estamos sempre dando ênfase aos aspectos negativos do envelhecimento. Pouco se fala dos benefícios. As pessoas hoje estão atingindo a maturidade em melhores condições de saúde, ativas, produtivas, ainda com muito a realizar e contribuir. Andrea Prates, médica especializada em geriatria e gerontologia pela PUC-RS
A especialista ainda destaca que envelhecimento é um processo individualizado, cada um envelhece de uma forma, mas é também coletivo. "É importante lembrar que, diante da desigualdade social em nosso país, corremos o risco de ter mais pessoas idosas em más condições de vida e saúde na velhice, especialmente porque essa foi a experiência que tiveram ao longo do curso de vida. Precisamos de políticas públicas para dar segurança às pessoas à medida que envelhecem e têm outras necessidades", enfatiza.
Sem temer a passagem do tempo
Do ponto de vista individual, o que fazer para aceitar o passar dos anos com mais naturalidade? Para Claudia Arruga, idealizadora do perfil @cool50s no Instagram, que tem mais de 115 mil seguidores, a resposta é simples: "Sabendo que a outra alternativa é morrer cedo", diz.
Com o intuito de viver uma velhice com qualidade, Claudia ressalta a importância de se cuidar para muito além do que vemos no espelho.
Meu foco nunca esteve no meu aspecto físico. Claro que me cuido, e muito, mas porque quero estar bem. Não quero parecer ter 30 ou 40 anos de novo. Minha preocupação é muito mais em ter um corpo funcional e com mobilidade do que em não ter pele flácida. Claudia Arruga
Ela diz que tem medo de que seus joelhos falhem ou que sua lombar doa, por isso faz musculação e pilates, porque quer chegar aos 80, 90 anos andando pelas ruas sem medo. "O resto é bônus", diz.
A médica especializada em geriatria e gerontologia diz que é preciso também se despir dos preconceitos e ter consciência de que vamos viver muito. Mais do que nossos avós. "E envelhecer não é ruim. É simplesmente oportunidade de mais vida", diz Prates.
A especialista aconselha investir em autoconhecimento, para lidar melhor com as vulnerabilidades e exigências, acumular saúde e renda, construir relacionamentos significativos e se dispor a aprender sempre.
Salma Ribeiz, psiquiatra e psicogeriatra com pós-doutorado pela USP, acredita no poder de aproveitar o momento presente. "Além disso, viver de forma mais consciente de nossa finitude pode nortear escolhas mais condizentes com nosso propósito de vida, com a preservação de nossos valores e, assim, facilitar a aceitação do envelhecimento."
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