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Marburg, ebola, sabiá: conheça os 14 vírus mais perigosos do mundo

Vírus ebola, retratado na imagem acima, tem letalidade que passa de 90% - iStock
Vírus ebola, retratado na imagem acima, tem letalidade que passa de 90% Imagem: iStock

Danielle Sanches

Colaboração para VivaBem

09/03/2023 04h00Atualizada em 09/03/2023 08h50

O recente surto de infecção do vírus de Marburg na Guiné Equatorial, um pequeno país da África Central com pouco mais de 1,6 milhão de habitantes, acendeu o alerta de organizações internacionais e da OMS (Organização Mundial da Saúde).

Afinal, o Marburg, um primo do ebola (outro vírus muito presente no continente africano), é conhecido por sua letalidade: a depender da variante, o número de pessoas infectadas que morrem após serem infectadas pode chegar a 88%.

Ambos são conhecidos patógenos de um grupo causador das chamadas febres hemorrágicas, infecções que provocam sintomas como:

  • Dores no corpo e nas articulações;
  • Febre;
  • Dor de cabeça;
  • Vômito;
  • Tontura;
  • Sangramento pelas mucosas e outras partes do corpo.

Como são transmitidos por meio de fluídos corporais (como saliva, sangue, urina e até lágrimas), tanto de pessoas vivas como de cadáveres, esses vírus são considerados altamente contagiosos.

Como têm um quadro de sintomas grave e de rápida evolução, muitas vezes letal, são considerados perigosos e só podem ser manipulados com cuidados específicos de biossegurança. Tatiana Ometto, pesquisadora do ICB/USP (Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo) e especialista em biossegurança científica do CNPEM (Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais)

O que torna um vírus perigoso?

Em primeiro lugar, claro, a alta letalidade. Nesse sentido, as febres hemorrágicas são consideradas perigosas por causarem sintomas graves e não contarem com tratamentos eficazes. O ebola, por exemplo, já apresentou surtos que chegaram a 90% de letalidade.

Outro critério de periculosidade é a forma de transmissão. Aqui, os vírus respiratórios levam o troféu pela facilidade com que se espalham e fazem vítimas em pouquíssimo tempo.

A transmissão por via respiratória complica tudo. Quando se descobre o surto, muitas pessoas já estão contaminadas e o impacto é grande. Felipe Naveca, virologista e coordenador do Núcleo de Vigilância de Vírus Emergentes da Fiocruz Amazônia

O novo coronavírus é um bom exemplo disso. Sua taxa de letalidade não é tão alta —gira em torno de 1%, de acordo com algumas estimativas internacionais. No entanto, se aplicarmos essa taxa ao número de pessoas infectadas, que foi altíssimo, temos muitas mortes e um contingente de doentes que nenhum sistema de saúde no mundo daria conta de lidar —daí o seu perigo.

Um terceiro fator que precisa ser considerado é a capacidade do vírus de se adaptar e infectar diferentes espécies. É o caso do influenza, que circula entre aves, porcos e humanos E é um vírus respiratório.

"O influenza se recombina com facilidade e cria variações imprevisíveis", diz José Eduardo Levi, professor colaborador do Instituto de Medicina Tropical do Laboratório de Virologia da USP e coordenador de Pesquisa e Desenvolvimento dos Laboratórios Dasa. "O receio é que, em uma dessas mudanças, tenhamos uma variante para a qual não temos vacina nem anticorpos por ser muito diferente", diz.

O último alerta vem justamente da gripe aviária, provocada pela variante H5N1 do influenza e que tem nos rondado recentemente, afirma Naveca. "Além de contaminar humanos, ele ainda pode ser bastante desastrosa economicamente ao infectar rebanhos de animais criados para o abate, o que também a torna de alto risco", lembra.

Confira a seguir uma lista com alguns dos vírus mais perigosos do mundo.

Quais os vírus mais perigosos do mundo?

  • Ebola

Descoberto em 1976 na República Democrática do Congo, o ebola é um filovírus causador de febre hemorrágica com sintomas que incluem vômitos, sangue nas fezes e extensas hemorragias.

Ele tem cinco variantes: Zaire, Sudão, Tai Forest, Bundibugyo e Reston. Delas, a mais mortal é a Zaire, que tem taxa de letalidade acima dos 90%. Acredita-se que o vírus se dissemine a partir do contato com morcegos.

Em setembro de 2022, Uganda declarou um surto de ebola, causado pela variante Sudão, que terminou oficialmente em janeiro de 2023.

  • Marburg
Marburg é motivo de preocupação para OMS - Reprodução/Wikimedia Commons - Reprodução/Wikimedia Commons
Imagem: Reprodução/Wikimedia Commons

Da família dos filovírus assim como o ebola, ele leva o nome da pequena cidade alemã onde foi documentado pela primeira vez em 1967, quando cientistas foram contaminados e morreram após entrarem em contato com macacos contaminados vindos de Uganda.

Além desse país, Congo, Quênia e África do Sul já registraram casos da doença, que também provoca hemorragias. O pior surto é considerado o que ocorreu em 2005, em Angola, quando a taxa de letalidade chegou a 88%.

  • Vírus de Lassa

Membro da família dos arenavírus, o lassa é transmitido por roedores selvagens e foi descoberto na aldeia de Lassa, na Nigéria.

É outro vírus causador de febre hemorrágica e considerado endêmico (ou seja, mantem-se ativo) em partes da África como Benin, Gana, Libéria, Mali, Serra Leoa e Nigéria.

O mais recente surto ocorreu na Guiné, em 2021, com oito casos diagnosticados e sete mortes, de acordo com a OMS.

  • Crimeia-Congo

Outro arenavírus também causador de febre hemorrágica, com sangramentos que surgem na face e na mucosa oral. Transmitida por carrapatos, ela tem uma taxa de letalidade que gira em torno de 30%, de acordo com a OMS.

Em julho de 2022, um caso foi detectado na Espanha; no entanto, o vírus é endêmico apenas na África, Ásia, no Oriente Médio e nos Balcãs.

  • Vírus da floresta de Kyasanur

Considerado endêmico no sudoeste da Índia, esse flavivírus é da mesma família que os vírus da dengue e da febre amarela (que também podem provocar hemorragias e, por isso, são consideradas febres hemorrágicas).

É transmitido pela picada de carrapatos, mas acredita-se que ratos, aves e porcos também possam ser hospedeiros.

  • Machupo

É um arenavírus responsável por febres hemorrágicas na Bolívia, onde é considerado endêmico —embora os casos registrados sigam sendo pontuais e na área rural. Seus hospedeiro são roedores.

  • Junin

É um dos arenavírus que circulam na América do Sul, especificamente na região da Argentina. É conhecido por provocar uma inflamação generalizada no organismo e hemorragias. Em 2022, dois casos foram registrados na cidade de Córdoba.

  • Sabiá
Todos os casos já identificados no Brasil foram provocados pelo arenavírus, uma variante do vírus sabiá - Getty Images - Getty Images
Imagem: Getty Images

O representante brasileiro dos arenavírus foi descoberto em 1990 e também causa febre hemorrágica. Em 2019 e 2020, dois casos foram detectados no interior de São Paulo. Estes foram detectados como inicialmente sendo casos graves de febre amarela. Os dois pacientes morreram.

  • Hantavírus

O hantavírus é da família dos buniavírus e pode causar uma febre hemorrágica com síndrome renal. Também é conhecido por provocar, nas Américas, um comprometimento cardíaco importante, tendo o seu quadro renomeado aqui como SCPH (Síndrome Cardiopulmonar por Hantavírus).

É um patógeno que tem como hospedeiro roedores selvagens. A transmissão ocorre por meio da aspiração de aerossóis formados a partir da urina, das fezes e da saliva de animais infectados. Pode levar à morte em até 72 horas.

  • Dengue
dengue, mosquito, picada - iStock - iStock
Imagem: iStock

A dengue e um flavivírus que tem uma forma de transmissão mais específica (de mosquito para pessoa), o que impede seu espalhamento rápido como os vírus respiratórios. A doença afeta milhões de pessoas todos os anos e aparece em regiões como Tailândia e Índia, além do Brasil.

Por aqui, a dengue matou mais de mil pessoas em 2022 - um recorde histórico no Brasil, que registrou 1,4 milhão de casos prováveis da doença, de acordo com o Ministério da Saúde.

Os sintomas incluem febre alta, dores musculares e articulares e manchas na pele. Em casos graves, há hemorragia intensa, o que pode ser fatal.

  • H1N1

O H1N1 é uma mutação do vírus influenza, que provoca o quadro de problemas respiratórios da gripe com sintomas como: tosse, febre, coriza e, em casos graves, falta de ar.

Ele foi o responsável pela pandemia conhecida como gripe espanhola, que provocou a morte estimada de 20 milhões de pessoas entre 1918 e 1919.

Entre 2009 e 2010, ele ressurgiu das cinzas (ou melhor, dos porcos - daí o nome de "gripe suína") e provocou uma nova onda de casos de gripe que atingiu cerca de 75 países. Com a vacina, no entanto, a letalidade foi menor e conseguiu-se controlar a doença.

  • H5N1

Outra cepa mutante do influenza, o vírus da gripe aviária tem uma taxa de letalidade alta (cerca de 70%), mas o risco de contraí-lo ainda é considerado baixo —a transmissão se dá (por enquanto) no contato direto com aves contaminadas, não entre humanos.

  • Novo coronavírus
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Imagem: iStock

O Sars-CoV-2 não tem uma taxa de letalidade considerada alta; porém, a facilidade com que salta entre espécies, com que é transmitido (por meio de aerossóis no ar) e seu histórico de caos provocado até aqui pela pandemia o colocam na lista de vírus mais temidos pela humanidade.

  • Raiva

O vírus da raiva é muito temido por sua letalidade, que chega a quase 100% dos infectados. Isso porque a infecção provoca um inchaço importante no cérebro, comprometendo de forma grave o sistema nervoso. A transmissão ocorre pela saliva contaminada e pode ser tanto por meio de uma mordida como pelo simples contato com alguma mucosa do corpo.

Felizmente, é uma doença considerada rara: entre 2010 e 2022, no Brasil, foram registrados apenas 45 casos, de acordo com o Ministério da Saúde. No mundo, a OMS estima que o vírus, presente em todos os continentes, provoque cerca de 60 mil mortes anualmente.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do que dizia o texto, os dois casos mais recentes do vírus sabiá ocorreram em 2019 e 2020, e não em 2022. A informação foi corrigida.