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Incontinência urinária pode ser tratada com cirurgia, botox ou fisioterapia

Idade, obesidade, gestação e cirurgia pélvica são fatores de risco para incontinência urinária - todaydesign/iStock
Idade, obesidade, gestação e cirurgia pélvica são fatores de risco para incontinência urinária Imagem: todaydesign/iStock

Do VivaBem*, em São Paulo

14/03/2023 04h00

Após retirar a próstata devido ao câncer, o aposentado Orlando Ireno de Brito, 72, ficou com incontinência urinária. O quadro é uma das principais consequências do procedimento e pode ser corrigido com o tratamento adequado, indicado de acordo com as especificidades de cada pessoa.

Operado em 2016, ele diz que precisou usar fralda no começo. Para corrigir o escape de urina, a recomendação inicial foi fazer fisioterapia, cerca de quatro meses após a cirurgia. "Fiz por mais de um ano e não resolveu nada", conta.

A pesquisadora Elizabeth Alves Ferreira, da USP, comenta que a fisioterapia é considerada o padrão ouro de tratamento para incontinência urinária, ou seja, há evidências científicas robustas para a recomendação.

Porém, dependendo da cirurgia pélvica ou da próstata, nervos podem ser lesionados e apenas a fisioterapia, trabalhando com o músculo, pode não surtir efeito.

Incontinência urinária - personagem - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Orlando teve incontinência urinária após operar do câncer de próstata
Imagem: Arquivo pessoal

No caso de Orlando, a solução foi colocar um esfíncter urinário artificial por meio de uma cirurgia minimamente invasiva. O dispositivo implantado junto ao aparelho urinário não fica visível e funciona assim:

  • Consiste em um reservatório de líquido perto da bexiga, um anel inflável ao redor da uretra e um acionamento por botão no saco escrotal.
  • O anel fica o tempo todo preenchido pelo líquido, apertando a uretra e impedindo que o xixi passe por ela.
  • Quando a pessoa deseja urinar, ela aciona o botão, que faz o líquido sair do anel para o reservatório. Com isso, a uretra é liberada e o xixi sai.
  • Depois, automaticamente, o líquido volta a preencher o anel.

Era para Orlando ter feito o procedimento em 2020, mas, devido à pandemia, teve de adiar. E não só ele.

Segundo a SBU (Sociedade Brasileira de Urologia), com dados do Sistema de Informação Hospitalar do Ministério da Saúde, o número de cirurgias para tratar incontinência urinária caiu 58,4% em 2020 —naquele ano, 2.802 procedimentos foram realizados, ante 6.735 em 2019.

No ano passado, os procedimentos voltaram a ocorrer quase que normalmente, mas não atingiram o patamar anterior à crise sanitária: foram 5.963 cirurgias —uma delas foi a do aposentado. "Hoje está normal. Só acontece de vazar um pouco se passar mais de duas horas sem ir ao banheiro", ele conta.

A incontinência urinária é um dos fatores que mais impactam negativamente a qualidade de vida, porque a pessoa molha a roupa, fica com cheiro de xixi, uma série de inconveniências. Alfredo Canalini, presidente da SBU

Por afetar diretamente a rotina das pessoas, estudos indicam maior risco de sintomas depressivos em quem tem incontinência urinária comparado a quem não tem.

O alerta para homens e mulheres é que, mesmo sendo uma condição comum com o avanço da idade, a incontinência urinária tem tratamento, nem sempre cirúrgico. Além disso, pessoas mais jovens também podem desenvolver o quadro, embora seja mais raro.

Quando a cirurgia para incontinência urinária é necessária?

A indicação de procedimento cirúrgico depende das causas da incontinência, do grupo etário e do gênero da pessoa, destaca Bernardo Sefer, coordenador da Urologia do Hospital Regional Dr. Abelardo Santos, em Belém (PA).

"Em torno de um terço da população acaba apresentando algum grau de escape de urina em algum momento da vida", diz o médico.

O presidente da SBU fala que a recomendação ocorre quando a perda de urina é provocada pela falta de sustentação da uretra pelas estruturas anatômicas. Para identificar a causa, é preciso fazer um exame físico para entender o que acontece quando a pessoa tosse, por exemplo.

"Quando o escape ocorre por esforços pequenos, a cirurgia tem objetivo de restaurar a uretra, de relacionamento e dar sustentação a ela", afirma Canalini.

Como é a cirurgia para mulheres

A depender da causa, existem algumas possibilidades, que variam também de acordo com o tipo de incontinência, se por esforço (quando a pessoa tosse, espirra, pega peso) ou de urgência (vontade repentina de fazer xixi, por ação involuntária da bexiga).

  • Sling: colocar uma estrutura por baixo da uretra para restaurar sua sustentação. Essa estrutura pode ser uma tela, como as usadas na correção de hérnias, ou fitas de aponeurose, membrana que envolve os músculos, do próprio corpo da pessoa. O procedimento é minimamente invasivo e feito via vaginal.
  • Neuromoduladores sacrais: se a pessoa tem neuropatia, transtorno que afeta o funcionamento dos nervos, Sefer diz que se pode implantar neuromoduladores sacrais, aparelhos que funcionam como um marcapasso da bexiga.

Como é a cirurgia para homens

Sefer explica que a indicação de cirurgia para homens ocorre quando a perda urinária é de moderada a grave.

  • Sling: indicado em casos moderados, é semelhante ao sling feminino.
  • Esfíncter urinário artificial: o mesmo utilizado por Orlando, que explicamos no começo da reportagem, é indicado para casos mais graves.

Tratamentos não cirúrgicos

FISIOTERAPIA
Quando se fala em incontinência urinária, é comum pensar em fortalecer os músculos do assoalho pélvico com fisioterapia. O tratamento pode, sim, ajudar, mas não exatamente nesse sentido.

"O músculo precisa ter função muscular, ser capaz de contrair, relaxar e ter alongamento", diz Elizabeth Alves Ferreira, que também é fundadora e coordenadora do Laboratório de Pesquisa de Fisioterapia em Saúde da Mulher da Faculdade de Medicina da USP.

Ela alerta que, por isso, as pessoas se frustram ao tentar reproduzir exercícios que veem na internet —e não dão o resultado esperado. "É necessário ter força, contração, bom relaxamento para que a função seja restabelecida. Às vezes, tem muita força e não consegue relaxar, aí a pessoa tem fadiga", reforça.

A fisioterapia é indicada de acordo com o grau de severidade do quadro, sendo benéfica em casos leves, moderados e graves. Isoladamente, antes ou após uma cirurgia, a fisioterapia pode ser aplicada.

"Tem casos em que consegue remissão total com fisioterapia", diz Ferreira. O número de sessões também varia conforme a gravidade da função muscular; o mais importante é ter adesão ao tratamento.

EMAGRECIMENTO
A obesidade pode contribuir para a incontinência urinária devido à maior pressão na bexiga. O presidente da SBU cita o exemplo de uma paciente que tinha incontinência severa e obesidade, e o escape de urina foi resolvido após cirurgia bariátrica, com a perda de peso.

TOXINA BOTULÍNICA
Injeções de toxina botulínica intravesical (direto na bexiga) são uma opção, por exemplo, para mulheres que sentem urgência urinária, diz o urologista Sefer.

MEDICAÇÕES
No caso de bexiga hiperativa (incontinência urinária de urgência), que é quando a bexiga se contrai involuntariamente, medicamentos que tentam inibir essas contrações podem ser indicados.