É possível prevenir o câncer? 12 passos para reduzir fatores de risco
Os tumores são a segunda causa de morte no Brasil, atrás das doenças cardiovasculares. O tipo mais incidente no país é o de pele não melanoma (31,3% do total de casos), seguido pelos de mama feminina (10,5%), próstata (10,2%), cólon e reto (6,5%), pulmão (4,6%) e estômago (3,1%), de acordo com estimativa do Inca (Instituto Nacional de Câncer).
O óbito prematuro por câncer de intestino entre pessoas de 30 a 69 anos pode ter um aumento de 10% até 2030 aponta artigo escrito por pesquisadores do Inca e publicado na revista científica Frontiers in Oncology, em janeiro de 2023.
Contudo, de acordo com Rodrigo Coutinho Mariano, oncologista da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo, é possível reduzir em mais de 50% o risco de desenvolver um câncer durante a vida, atentando-se às escolhas diárias, como manutenção do peso, uso de protetor solar, vacinar-se e evitar o tabagismo, o alcoolismo, os alimentos muito doces e as carnes processadas. Confira as orientações dos especialistas:
1. Não fume
O tabagismo é responsável por quase 30% de todas as mortes por câncer, de acordo com a ACS (American Cancer Society). Os órgãos mais suscetíveis a apresentar tumores devido ao hábito de fumar são:
- boca
- língua
- faringe
- laringe
- traqueia
- pulmão
- esôfago
- estômago
- fígado
- pâncreas
- rim e ureter
- bexiga
- colo do útero
- cólon e reto
- além da leucemia mieloide aguda
Um fumante tem risco até 10 vezes maior de desenvolver tumores do que uma pessoa que nunca fumou, além de ter um risco aumentado de diversas outras moléstias, como doenças do pulmão, do coração e AVCs.
"Pessoas que param de fumar têm uma redução do risco de câncer de pulmão de 30% a 50% após 10 anos e uma queda da probabilidade de neoplasias malignas de boca ou de esôfago à metade após 5 anos", informa Duílio Reis da Rocha Filho, oncologista, diretor da SBOC (Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica) e chefe da Unidade de Oncologia do HUWC-UFC (Hospital Universitário Walter da Universidade Federal do Ceará), ligado à rede Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares).
2. Evite bebidas alcoólicas
Além de aumentar de forma significativa o risco de câncer associado ao vírus HPV (papilomavírus humano), o álcool tem efeito tóxico para o fígado, causando esteato-hepatite alcoólica, que pode evoluir para cirrose e câncer de fígado, neoplasia agressiva e com evolução sombria, nas palavras de Monica Stiepcich, patologista do Grupo Fleury.
Há uma associação bem estabelecida entre a ingestão de álcool e o surgimento de tumores de mama, fígado, cólon e reto, esôfago, cavidade oral e laringe.
3. Pratique sexo de forma segura
As ISTs (infecções sexualmente transmissíveis) aumentam a possibilidade de câncer de colo uterino, além de outros órgãos, pois provocam lesões epiteliais, feridas, úlceras, que são porta de entrada para vírus oncogênicos, em especial o HPV, que é causador do de colo uterino.
"Não se comenta muito sobre o HPV na região da cabeça e pescoço, mas as infecções da região genital também podem ser transmitidas por meio do ato sexual oral, com desenvolvimento de lesões pré-malignas e mesmo os de boca, amígdala, faringe e laringe, causado pelo HPV", alerta Stiepcich.
4. Deixe de ser sedentário
Há fortes evidências de que o sedentarismo aumenta a ameaça de vários tipos de câncer: mama, cólon, útero, bexiga, esôfago, gástrico e renal.
"Os estudos apontam que o excesso de adiposidade, a inflamação crônica e a resistência à insulina são os principais mecanismos que ligam o comportamento sedentário ao aumento do risco de câncer", afirma o oncologista da UFC.
Para reduzir o prenúncio de doenças crônicas, incluindo o câncer, recomenda-se que adultos realizem 150 a 300 minutos de modalidade aeróbica moderada, ou 75 a 100 minutos de prática física intensa, todas as semanas, combinada a exercícios de fortalecimento muscular, pelo menos duas vezes por semana.
O exercício físico regular é benéfico para reduzir o risco de recidiva. O oncologista da BP comenta que os pacientes que tiveram câncer de mama são orientados a realizar atividade física, complementar ao tratamento.
5. Fique de olho na balança
O excesso de peso é um dos principais fatores que levam ao desenvolvimento de câncer. Na lista de tumores associados à obesidade estão incluídos os de esôfago, estômago, pâncreas, vesícula biliar, fígado, colorretal, rins, mama, ovário e endométrio.
A gordura corporal em excesso provoca um estado de inflamação crônica e elevação nos níveis de determinados hormônios, que promovem o crescimento de células cancerígenas.
6. Alimente-se melhor
Uma dieta saudável protege o organismo do câncer. As recomendações incluem aumentar o consumo de verduras, frutas, cereais integrais, feijões e outras leguminosas.
Além disso, é importante buscar fontes saudáveis de proteína, como frango e peixe, e evitar alimentos ultraprocessados —aqueles prontos para consumo ou para aquecer—, bebidas adoçadas e alimentos de alta carga calórica, como itens de fast food.
É aconselhado limitar a quantidade de carne vermelha —preferencialmente, até 500 g por semana. As carnes vermelhas processadas, como presunto, salsicha, linguiça, bacon, salame e mortadela, são fatores de risco para o câncer de cólon.
Evidências científicas indicam uma associação desses alimentos com diversos tipos de câncer, em especial os originários do sistema digestório. Os tumores com relação mais bem estabelecida com a alimentação são os de boca, faringe e laringe, esôfago, estômago, pâncreas, fígado, vesícula biliar, rim e endométrio.
7. Conheça seu histórico familiar
Há uma infinidade de tipos de câncer de origem hereditária: mama, ovário, intestino ou cólon. No Brasil, há uma alta frequência da síndrome de Li Fraumeni, cuja variante gênica específica predomina —a R337H—, aumenta o risco de desenvolver algum câncer ao longo da vida: mama na pré-menopausa, sarcoma de partes moles, tumores do sistema nervoso central e carcinoma da suprarrenal.
8. Fique de olho na carteirinha de vacinação
As vacinas contra o HPV têm desempenhado um papel fundamental no combate ao câncer de colo uterino e até mesmo os de cabeça e pescoço, de acordo com trabalhos científicos realizados nos países que já implantaram a vacinação na população feminina e masculina há mais de uma década, de acordo com a patologista do Grupo Fleury.
A neoplasia conhecida também como câncer cervical tem como como principal causa no país a infecção pelo papilomavírus humano que, segundo estimativas do Inca, terá 17 mil novos casos e 6.000 mortes. Já a vacina contra a hepatite B ajuda a blindar o organismo contra tumores de fígado.
9. Proteja-se da exposição solar
O tumor maligno de pele não melanoma é mais frequente em pessoas com mais de 60 anos e em áreas expostas ao sol, como rosto, orelhas e pescoço.
Já no melanoma, as alterações são nas células que dão pigmentação à pele, os melanócitos, e apresentam-se como sinais escuros que crescem de forma acelerada ou de sinais antigos que se modificam, em áreas expostas pelo sol ou não.
Na prevenção do câncer de pele é crucial usar filtros solares de qualidade, evitar sol nos horários entre 10 e 16 horas, e, também, reforçar a proteção física, com chapéus com abas largas e roupas com mangas compridas.
As pessoas que possuem pele muito clara, tenham antecedentes pessoal ou familiar da doença, fizeram uso de câmara de bronzeamento artificial e histórico de queimaduras solares, na infância, fazem parte do grupo de alto risco para câncer de pele e devem se consultar com um médico com mais regularidade.
10. Atenção ao contato com produtos químicos
Estudo publicado em outubro de 2022, no Journal of the National Cancer Institute, por pesquisadores do NIH (Instituto Nacional de Saúde dos EUA) relacionou o uso de produtos químicos para alisar o cabelo ao aumento da probabilidade de desenvolvimento de câncer uterino.
A pesquisa acompanhou 33 mil mulheres durante 11 anos e as que relataram usar produtos para alisar o cabelo tiveram quase duas vezes mais riscos de desenvolver câncer uterino do que aquelas que não o fizeram.
No caso do câncer de próstata, a exposição a alguns tipos de produtos químicos —aminas aromáticas, comuns na indústria química, mecânica e de transformação de alumínio, e o arsênio usado como conservante de madeira e agrotóxico— é fator de risco.
11. Fique atenta aos efeitos da reposição hormonal
O efeito da TRH (terapia de reposição hormonal) pode, sim, aumentar o risco de câncer de mama, ainda que em pequeno percentual, em especial quando usada por muito tempo. Entretanto, são indiscutíveis os efeitos de alívio dos sintomas de fogachos (ondas de calor).
O uso da TRH deve ser individualizado para cada mulher com base nos riscos e benefícios, pelo menor tempo possível.
"Além dos exames de imagem das mamas, é indicado, também, avaliar com regularidade a espessura do endométrio, que pode aumentar com o uso da TRH, e estar associado a lesões pré-malignas ou câncer do endométrio."
12. Mantenha os exames de rotina em dia e preste atenção aos sinais
"Para reduzir a mortalidade por câncer é fundamental a aderência aos programas de prevenção por meio de exames regulares", alerta o oncologista da BP.
A detecção precoce por meio do rastreamento reduz a morte por câncer de mama, cervical, colorretal e de pulmão.
- Para mulheres, fazer os exames de citologia cérvico-vaginal, colposcopia, mamografia, ultrassom de mamas e colonoscopia, em geral, acima dos 50 anos, quando não há história familiar.
- Para as mulheres na menopausa, sangramento vaginal é alerta para que se investigue imediatamente a cavidade uterina e endométrio, pois pode haver lesões pré-malignas ou câncer de endométrio, que costumam apresentar esse sintoma.
- Aos homens, a partir dos 50 anos, recomenda-se fazer anualmente exames para detectar alterações na próstata. Se houver fatores de risco, como casos da enfermidade na família, em parentes de primeiro grau, ou se o indivíduo for negro, o exame deve ser realizado desde os 45 anos.
- E aos tabagistas, pulmão. Para identificar os tumores em fase precoce, impactando as chances de cura, a qualidade e o tempo de vida.
Outras referências consultadas: A.C.Camargo Cancer Center, Juntos Contra o Melanoma do GBM (Grupo Brasileiro de Melanoma) e SBOC (Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica).
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