Como a ansiedade pode afetar a sua vida sexual
Com mais de 18 milhões de pacientes diagnosticados no Brasil, a ansiedade é uma doença moderna que afeta todos os aspectos da rotina —e a vida sexual não é exceção. De uma diminuição da libido à ejaculação precoce, as pessoas ansiosas podem vivenciar uma série de dificuldades na hora H.
Conversamos com especialistas em saúde sexual para descobrir quais são os principais problemas relatados em suas consultas, e eles reforçam: todos os sintomas que serão listados são tratáveis e devem ser levados ao urologista ou ginecologista, para confirmar se a causa é realmente o transtorno ou outros fatores externos.
Disfunção erétil
Temida por muitos homens, a disfunção erétil, a popular impotência sexual, é a dificuldade em atingir ou manter a ereção, e pode estar ligada diretamente a ansiedade.
O urologista Bruno Nascimento, coordenador do Centro de Medicina Sexual do Hospital Sírio-Libanês (SP), explica que, para manter com sucesso a ereção, é necessário que o corpo esteja fisicamente relaxado, mas a tensão muscular causada pela ansiedade não permite que esse relaxamento aconteça e faz com que a ereção se perca.
Ejaculação precoce e anejaculação
Mais comum nos homens, a ejaculação precoce ocorre quando uma pessoa ejacula em pouco tempo de relação sexual e antes de atingir o orgasmo, o que pode estar relacionado a ansiedade. Ao mesmo tempo, a anejaculação —ou seja, a dificuldade para conseguir ejacular— também pode ser causada pelo transtorno.
Diminuição da libido
Comum em homens e mulheres, muitos pacientes com ansiedade relatam sentir menos desejo sexual. Isso pode ocorrer por dois motivos:
- estresse - quando estamos estressados, podemos aumentar a produção de uma substância chamada cortisol, que afeta os hormônios sexuais e afeta a libido.
- tratamento da doença - alguns remédios para ansiedade podem causar diminuição da libido como efeito colateral. Nesses casos, o recomendado é procurar o médico para avaliar uma troca da medicação.
Diminuição da lubrificação
Afetando diretamente as mulheres, a ansiedade pode interromper a lubrificação vaginal durante o sexo. Isso acontece porque a lubrificação ocorre com o estado de excitação, ou seja, a mulher precisa estar "no clima" e confortável com a situação, mas, quando se tem ansiedade, pensamentos inconvenientes como problemas de trabalho, situações externas e até mesmo o medo de não satisfazer o parceiro podem surgir e cortar a excitação.
Frigidez psicológica
Mais relatado por mulheres, a frigidez psicológica acontece quando há dificuldade constante em se sentir excitada, com pouco ou nenhum desejo de estímulo sexual. Essa condição também pode causar um sentimento de desconexão durante o sexo, como se os pensamentos estivessem focados em outra coisa que não o ato sexual. A frigidez psicológica também leva a dificuldades na lubrificação natural devido a falta de excitação.
Dores durante o sexo
Inimiga das mulheres, a dor durante o sexo pode estar ligada com outros problemas causados pela ansiedade. Com a tensão muscular e a diminuição da lubrificação natural por conta do estado ansioso, o assoalho pélvico fica muito mais sensível e rígido, fazendo com que a penetração seja desconfortável e até mesmo dolorosa.
Caso isso ocorra, é importante comunicar ao parceiro e não continuar o ato sexual com penetração, para que não resulte em machucados.
O que é a ansiedade de performance?
Uma das principais causas dos sintomas listados, a ansiedade de performance acontece quando existe uma preocupação excessiva com o desempenho individual no ato. Esse aspecto da ansiedade ocorre em diversos momentos da vida, mas, durante o sexo, pensamentos como "será que estou indo bem?", "vou conseguir satisfazer meu parceiro(a)?", "será que essa posição está boa mesmo?" acabam atrapalhando o que deveria ser um momento prazeroso, e gerando problemas como a disfunção erétil ou diminuição na lubrificação.
Caso ocorra com frequência, é importante levar o tema a um terapeuta, pois experiências ruins ou frustradas acabam agravando o quadro de insegurança.
Diagnóstico e tratamento
Se você passa por algum dos problemas acima, é importante não concluir de bate-pronto que a culpa é da ansiedade. Mesmo que já exista o diagnóstico do transtorno, leve o caso ao urologista ou ginecologista para que seja feita uma conversa do ocorrido e exames paralelos para se certificar de que não existe outro fator te atrapalhando na hora H.
Agora, uma vez confirmado que os problemas são efeitos da ansiedade, o tratamento recomendado é um acompanhamento conjunto entre terapia psicológica e urologia ou ginecologia, para avaliar a necessidade de medicamentos e cuidar dos aspectos físicos e mentais que envolvem a questão.
Para Helga Marquesini, ginecologista e terapeuta do Centro de Medicina Sexual do Hospital Sírio-Libanês, muitas pessoas não buscam tratamento ou se recusam a falar sobre o assunto por vergonha.
Ela diz que é importante que os pacientes deixem constrangimentos e tabus de lado para procurar ajuda, e reforça: a relação médico paciente é totalmente confidencial e a saúde sexual merece atenção, pois é tão importante para o bem-estar do paciente quanto qualquer outro campo da medicina.
Outra fonte consultada: Mirna Rosier, psicóloga, terapeuta sexual, especialista em sexualidade humana pela USP, autora do artigo "Desejo Sexual: dificuldades e ponderações sobre queixas em consultório de sexologia", e professora de psicologia do Centro Universitário Nobre de Feira de Santana, na Bahia.
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