Marcador genético mostra quem tem predisposição para quadro grave de covid
Pesquisadores do Consórcio de Laboratórios de Pesquisa e Estudos da Covid-19 da USP, o ImunoCovid, mapearam os marcadores genéticos do sistema imune que determinam o grau clínico de pacientes com covid-19.
Essas assinaturas genéticas, que são reveladas através de testes de sangue e análise de RNA, podem ajudar a identificar os casos moderados e graves da doença logo no diagnóstico e ajudar no tratamento dos pacientes.
Publicada em artigo na revista Immunology, a pesquisa identificou uma biomarcação associada aos neutrófilos, células do sistema imune responsáveis pelo reconhecimento e defesa contra agentes infecciosos, que entram em padrão de ativação anormal durante a infecção por covid.
Nos casos moderados e graves, os neutrófilos fazem parte de um processo de inflamação desordenado ao invés de promover a defesa do organismo.
Devido ao aumento do número dessas células no sangue, os mecanismos entram em descontrole e "a resposta imunológica do indivíduo à infecção começa a fazer parte do mecanismo da doença", diz Marcelo Dias Baruffi, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP) da USP.
As amostras de sangue analisadas foram coletadas de pacientes da Santa Casa de Ribeirão Preto e do Hospital São Paulo, entre abril e dezembro de 2020.
Também foram coletadas amostras de pacientes que não estavam hospitalizados para comparação. Cerca de 19 mil genes foram analisados através do transcriptoma sanguíneo (perfil de expressão gênica).
A infecção associada à doença gera padrões de expressão gênica que caracterizam o grau clínico dos pacientes, com alteração na expressão dos genes S100A9, ANXA3, CEACAM6, VNN1, OLFM4, IL1R2, TCN1 e CD177.
"Confirmamos no trabalho que, além dos pacientes com a forma grave terem mais neutrófilos na circulação, a expressão de genes que geralmente acontece nos neutrófilos também está expressa, no transcriptoma das células de sangue, em indivíduos que terão graus clínicos mais graves", explica Vânia Bonato, professora da FMRP-USP, sobre a evolução dos quadros clínicos relacionados ao processo de inflamação.
Segundo os pesquisadores, o estudo facilita o entendimento da imunopatologia, ou seja, o papel da resposta imune no adoecimento, o que contribui para o refinar o diagnóstico e prognóstico dos pacientes de acordo com grau clínico, para aplicar o melhor tratamento e impedir que evoluam para um quadro grave.
Além disso, esse conhecimento pode auxiliar no desenvolvimento de novas estratégias terapêuticas direcionadas ao controle da doença de forma mais precoce.
"O melhor entendimento da imunopatologia pode ser a base para uma abordagem menos invasiva para os pacientes e que olha a doença de uma forma mais sistêmica, mas complexa, buscando uma proximidade maior com os mecanismos da covid-19", destaca Marcelo Baruffi.
A curto prazo, enquanto não há outros estudos específicos para tratamento da doença, os testes de sangue propostos pela pesquisa são importantes para "trazer a informação se o paciente tem a chance, pelo perfil de expressão gênica, de passar para um grau clínico mais grave, e assim aplicar medicações que controlem a inflamação causada nos tecidos pelos neutrófilos", diz Vânia Bonato.
O trabalho teve financiamento da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).
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