Ter insônia pode aumentar em 69% o risco de sofrer um infarto
Dormir bem é uma questão essencial para a saúde como um todo e isso inclui a parte cardiovascular: há alguns anos, os distúrbios do sono vêm sendo associados a problemas metabólicos e no coração. Agora, uma análise de estudos reforçou esse risco ao concluir que pessoas que dormem cinco horas ou menos por noite têm uma chance 69% maior de ter um infarto do que aquelas que não sofrem com a insônia.
Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores revisaram mais de 1.200 estudos observacionais publicados entre 1998 e 2019. Esses artigos avaliaram a associação da insônia com o infarto do miocárdio e, após a exclusão dos vieses, nove estudos foram selecionados para a análise final.
Ao todo, mais de 1 milhão de pessoas com idade média de 50 anos foram incluídas (aqueles que sofriam de apneia do sono, um fator de risco conhecido para problemas cardíacos, foram excluídas da análise). Dessas, mais de 153 mil tinham insônia.
Os resultados foram publicados no periódico científico Clinical Cardiology e apresentados nas sessões científicas do Colégio Americano de Cardiologia durante o Congresso Americano de Cardiologia (ACC), realizado no início de março nos Estados Unidos.
O que é ter insônia, na verdade?
A insônia pode ser definida como:
- Dificuldade persistente para iniciar o sono e adormecer;
- Dificuldade de consolidar o sono e manter-se dormindo;
- Tendência a despertar precocemente;
- Incapacidade de voltar a dormir --o que resulta em algum tipo de prejuízo diurno.
No estudo, os pesquisadores analisaram todos esses critérios e também a duração do sono. O problema é global: a OMS estima que quatro em cada dez pessoas têm alguma dificuldade para dormir.
Para piorar, os problemas cardiovasculares são a principal causa de mortalidade no mundo e vários estudos já demonstraram que mais de 80% das doenças poderiam ser evitadas com a adoção de um estilo de vida saudável e gerenciamento adequado dos fatores de risco conhecidos.
Desde o segundo semestre do ano passado, a Associação Americana do Coração incluiu o sono de qualidade como um dos oito itens essenciais para a saúde do coração. Assim, ele se somou a outros fatores importantes para o check-list da saúde cardíaca ao lado de itens como exposição à nicotina, atividade física, alimentação, peso, glicemia, colesterol e pressão arterial.
Mas por que a insônia é fator de risco?
O sono é importante não apenas para descansar, mas para também fazer a regulação do organismo em geral —não à toa, o ser humano passa um terço da vida dormindo. É durante o sono que nosso organismo se organiza para realizar uma série de processos metabólicos e hormonais necessários para o sistema cardiovascular.
Segundo a cardiologista Juliana Soares, do Hospital Israelita Albert Einstein, a insônia altera o eixo neuro-hormonal, que envolve o hipotálamo (região do encéfalo responsável, entre outras funções, pela produção de hormônios) e as glândulas adrenal e pituitária.
Essas glândulas produzem hormônios relacionados a nossa atividade diária e são responsáveis também pela produção do cortisol, conhecido como "hormônio do estresse". O cortisol aumentado acelera o processo de aterosclerose, que é a formação de placas de gordura no interior das artérias que culminam no infarto agudo do miocárdio.
Soares explica que o cortisol aumenta no nosso organismo em situações de estresse, luta e fuga e, também, devido à insônia.
"Alguns estudos prévios já mostraram que os pacientes que infartam apresentam previamente ao evento elevações dos níveis de cortisol. Como a insônia é uma situação que altera esse eixo neuro-hormonal e também eleva os níveis do cortisol, surgiu a hipótese de correlação com eventos cardiovasculares", afirmou a cardiologista.
No estudo, os pesquisadores avaliaram quatro situações: quem dormia menos de cinco horas, quem dormia seis horas, pessoas que dormiam de sete a oito horas e aquelas que dormiam mais de nove horas. E constatou que pacientes que dormem menos de cinco horas apresentam o risco até 69% maior de ter um infarto do coração em comparação com quem não tinha insônia.
O estudo mostrou ainda que aqueles que dormem seis horas têm um risco menor de infarto comparado com o grupo que dorme menos do que cinco horas. Porém, o risco nesse grupo é maior do que nas pessoas que dormem de sete a oito horas. E quem dorme mais do que nove horas não apresentou uma mudança nos resultados para doenças cardiovasculares.
O que podemos afirmar é que dormir menos do que cinco horas aumenta consideravelmente o risco de infarto e dormir de sete a oito horas por noite foi considerado a faixa ideal de sono para proteção. Juliana Soares, cardiologista do Hospital Israelita Albert Einstein
Segundo a especialista, este é mais um estudo que corrobora o impacto da qualidade do sono na saúde cardiovascular. Além disso, consegue estabelecer os intervalos de horas de sono que são mais prejudiciais.
"A gente já tinha evidências da associação de distúrbios do sono com a saúde cardiovascular. O que a gente ainda não sabia era dizer quais intervalos de sono apresentavam maior risco. E esse estudo conseguiu mostrar exatamente isso", disse.
Soares ressaltou, ainda, que as pessoas devem ficar atentas à qualidade do sono. "Tradicionalmente, as pessoas se preocupam com a pressão arterial, com a alimentação, com o peso, com o colesterol, mas poucas vezes se preocupam com o sono. E cada vez mais a ciência mostra a importância de termos um sono de qualidade para a saúde como um todo", finalizou a cardiologista.
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